sábado, 8 de agosto de 2009

A ética de cada um

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO

Como bem disse o senador José Sarney no seu patético discurso de defesa, “ética é conduta”. E justamente na conduta de certos senadores, inclusive ele, está a explicação para o fato de que não é possível nivelar por baixo a atuação parlamentar. Não creio que o principal seja o julgamento deste ou daquele senador, mas sua postura diante do que fez, ou do que está acontecendo. A isso chama-se “ética”, conceito que varia de acordo com os tempos e os costumes. Roberto Romano, professor de filosofia da Unicamp, lembra que, se fizermos um levantamento da história do Ocidente, “encontramos pelos menos uns cinco paradigmas éticos fundamentais que foram se misturando com o tempo”

A cada vez que se tem um paradigma que permeia todas as relações sociais e políticas, a ética vai junto, comenta Romano. Mas, para falar de ética, ele ressalta que é preciso falar de uma virtude chamada prudência. “A lei geral vale para todo e qualquer indivíduo, mas, se você aplicar a lei sem nenhuma gradação, sem nenhuma consideração prudente, você faz um trabalho monstruoso”.

É nesse sentido que é preciso separar a atuação do senador Arthur Virgílio, que assumiu seus erros, dos que lutam para preservar os privilégios e manter a situação como está. Para Roberto Romano, “a doutrina das penas não pode dosar a pena igualmente, sem considerar a situação de tempo, espaço, a pessoa”.

Do ponto de vista da ética, do decoro, para o ex-dominicano Roberto Romano, “o senador Arthur Virgílio tem pecados veniais, enquanto está sendo massacrado por um Renan Calheiros que está cheio de pecados capitais”.

O fato é que o costume que vigorava no Congresso permitia desvios como os praticados pelo senador Arthur Virgílio e pela grande maioria dos senadores, e dos deputados: uso de verba indenizatória indiscriminadamente, passagens de avião para parentes e amigos, nomeação de parentes para seu gabinete ou para gabinetes de congressistas amigos, no cruzamento de favores, e até mesmo manter um funcionário pago pelo Senado em estudo no exterior, sem que fossem obedecidos os trâmites legais para essas situações.

Toda essa prática passou a ser inaceitável pela sociedade, e o que os congressistas deveriam ter feito era um mea culpa, como fizeram o tucano e diversos outros deputados e senadores no caso da verba indenizatória e das passagens de avião, e a partir daí colocarem mãos a obra para reformar a gestão do Congresso.

Mas seria preciso primeiro que o próprio presidente Sarney admitisse que os seus hábitos políticos estavam equivocados, deslocados no tempo, e se dispusesse a reformálos, como fez o líder tucano Arthur Virgílio, ou o deputado Fernando Gabeira, do PV. E, sobretudo, investigar o fato mais grave entre todos, a responsabilidade pelos decretos secretos e pela atuação do diretorgeral do Senado nomeado por ele 15 anos atrás.

Ao contrário, Sarney tenta sustentar o insustentável e até mesmo quando fez a coisa certa — devolver o dinheiro do auxílio-moradia — tenta passar à opinião pública a ideia que o fez por vontade própria, pois tinha direito a usá-lo.

Mostra, dessa maneira, que não está em condições de comandar a reforma administrativa que o Senado precisa.

Há uma diferença grande entre as duas posturas, e já que não estamos na Inglaterra, onde os deputados que gastaram abusivamente a verba indenizatória renunciaram aos mandatos, pelo menos demos um pequeno passo à frente com a atitude desassombrada do líder tucano, contrastando com as chantagens usadas por Renan Calheiros.

Marcílio Marques Moreira, ex-ministro da Fazenda e expresidente do Conselho de Ética Pública, ressalta que “esse ‘ethos’ (ética) pode ir mudando de acordo com a sociedade, como mudou na Grécia do ethos heróico do Homero para o ethos do trabalho, um pouco espelhando também as próprias condições daquela sociedade”.

Ele acha que no mundo todo tem havido um movimento no sentido de normas mais rigorosas, citando o caso recente dos políticos ingleses, que renunciaram ao Parlamento por “coisas de certa maneira semelhantes, com algumas analogias de utilizar recursos públicos para fins privados, caracterizando o conflito de interesses, aquele aspecto de maior risco da atividade pública”.

Marcílio vê um lado positivo no que está acontecendo em Brasília, significaria que estamos em uma transição, “mas todas transições são penosas”, ressalta. Enquanto não se consolida uma nova hierarquia de valores, “fica um espaço, um vazio, que pode aumentar muito esses conflitos. Apesar de haver retrocessos, acho que estamos evoluindo”.

O que o preocupa é justamente que “algumas pessoas querem transformar o hábito de desvio de conduta na norma, e esse é o perigo, a resistência à mudança”.

Para João Ricardo Moderno, presidente da Academia Brasileira de Filosofia e professor de filosofia na Uerj, a origem da crise está na mudança da capital para Brasília, e tem base filosófica, que é a interpretação que se deu ao positivismo de Augusto Comte: o poder não pode ficar próximo da população, tem que ficar longe para pensar as melhores soluções para os problemas nacionais.

Para Moderno, “a capital federal tem que coincidir com a capital cultural, que requalifica o poder”. Para ele, o que está acontecendo é que o “neo-patrimonialismo brasileiro criou uma capital estatal, com todas as mordomias e benefícios, criou-se uma cultura local de que é um sacrifício ir para Brasília e que você tem que ter vantagens para estar lá, compensar o sacrifício”.

Essa política provocou “uma multiplicação das benesses, que criou uma cultura do benefício legal e uma paralela, do benefício ilegal, que se confundem”.

O privado invadindo o público foi incentivado por medidas como o salário dobradinha, o apartamento funcional, acabando por criar “uma categoria extremamente especial, a dos servidores públicos.

Brasília é a capital que tem o maior poder aquisitivo do país e não produz nada”, diz ele. (Continua amanhã)

SOB A REGÊNCIA DE LULA

Editorial
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Lula recebeu no início dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás, na quinta-feira, os primeiros dividendos substanciais deste ano legislativo do seu investimento na montagem e sustentação de um esquema de controle do Congresso Nacional. Centrado no PMDB dos senadores José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e do deputado Michel Temer, o aparato se estrutura numa coalizão-ônibus que só não tem espaço para quem não queira nela embarcar. Rigorosamente dentro do previsto, Jucá, o líder do governo no Senado escolhido a dedo para relator da CPI - o que por si só escancara a subordinação do Legislativo ao Planalto -, propôs de uma tacada a rejeição de 66 dos 88 requerimentos apresentados, na maioria, pela oposição para dar sentido à sua iniciativa de promover a investigação sobre a estatal. Qualquer semelhança com o engavetamento das denúncias contra Sarney no Conselho de Ética do Senado não é coincidência.

Sarney foi o beneficiário imediato do zelo com que Jucá colocou em movimento a operação-abafa na CPI. O oligarca maranhense será poupado da apuração do convênio da fundação que leva o seu nome com a Petrobrás. A empresa patrocinou com R$ 1,3 milhão um projeto cultural da entidade que não saiu do papel. Desse total, R$ 500 mil foram parar em empresas fictícias ou da rede de comunicação da família de seu presidente vitalício. "Qual é a intenção: começar a discutir patrocínio por causa da Fundação Sarney ou discutir seriamente patrocínio?", perguntou retoricamente o relator, como se uma coisa e outra não tivessem a menor relação. Ele barrou também a convocação da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, demitida pouco depois de considerar irregular, em nota oficial, o arranjo contábil pelo qual a Petrobrás modificou o seu regime tributário, no ano passado. Jucá alega que a questão poderá ser coberta pelo secretário interino da Receita, Octacílio Dantas Cartaxo, que deporá na terça-feira.

A CPI ouvirá o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, oito dos seus diretores, o presidente da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima, e quatro dos seus diretores - mas não as sócias de uma empresa que teria recebido R$ 260 milhões em comissões de prefeituras que a contrataram e tiveram aumentados os respectivos repasses de royalties do petróleo. Uma das sócias é casada com um diretor da ANP. "O relator optou por convidar apenas aqueles que supostamente defenderão a causa governista", reclamou o senador tucano Álvaro Dias, autor do pedido de criação da CPI. "Teremos aqui um tribunal só com advogado de defesa e sem promotor." Ele está no seu papel de espernear, mas decerto não tinha ilusões sobre a conduta dos representantes do governo na comissão de 11 membros titulares. Eles somam 8 senadores, a começar do presidente do colegiado, o petista João Pedro. Foram escalados, em última análise, para desmentir o dito de que se sabe como uma CPI começa, mas não como termina.

Ontem foi a incolumidade do presidente do Senado. Hoje é o inquérito sobre a Petrobrás.
Amanhã será o destino, entre outros, dos projetos para regulamentar a exploração do petróleo do pré-sal. Depois de amanhã será o desdobramento da coalizão de governo na coligação eleitoral em torno da candidatura Dilma Rousseff, com um vice do PMDB, ao qual o PT será forçado a ceder a primazia nas disputas para o governo de diversos Estados. O apoio a Sarney é peça-chave nessa formidável construção de poder que Lula rege pessoalmente porque considera a sua prioridade número um. No primeiro mandato, Lula não raro delegou as articulações políticas do governo a Dirceu e aos ministros Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, e Antonio Palocci, da Fazenda. Neste segundo período, escaldado pelos tropeços no escândalo do mensalão, e até por falta de alternativas, tornou-se ele próprio o seu principal operador político.

Tem demonstrado nisso uma competência comensurável pela falta de escrúpulos em fazer a sua parte nos arreglos com as figuras que aproximam o noticiário político das páginas policiais da imprensa. De há muito Lula aposentou os últimos vestígios de desconforto com a insalubridade moral da política brasileira. Até agora, com um sucesso que é a garantia de que o amoralismo reinará na cena política brasileira enquanto ele for o regente do espetáculo.

O Senado troca o voto pelo suicídio

Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


Só uma pesquisa de historiador tinhoso talvez descobrisse na crônica parlamentar desde a queda da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas um exemplo de mais rombuda incompetência do que aquela que o Senado, nos estertores da degradação, acaba de surpreender a enojada sociedade com a sessão desta semana, em que recusou a oportunidade de uma trégua da crise em que se afunda para optar pelo suicídio.

As evidências dispensam os argumentos. Depois de três meses da paralisação do Congresso, com o bate-boca sobre a renúncia ou o licenciamento do presidente do Senado, senador José Sarney (PMDB-AP), a sua longa defesa, em discurso sem aparte, e com o plenário lotado, parecia o sinal de uma pausa para a articulação das muitas opções clássicas: da renúncia ou licença negociada do presidente à decisão pelo voto do plenário.

Mas o equilíbrio, com a diferença de um ou dois votos, exasperou os nervos tensos para o repeteco da baixaria na sessão seguinte. No desatino dos exaltados dos dois lados, inseguros do confronto pelo voto, o acerto de contas deu a sensação de que o Senado partira para o tudo ou nada do suicídio. E senadores trocaram palavrões, ameaças de desforço pessoal, do espero V. Excia lá fora.

O arquivamento sumário das quatro primeiras representações contra o presidente do Senado, José Sarney, foi o estopim ou o pretexto para o charivari. Na cadeira de presidente, o senador José Sarney assistiu ao show que encabularia os frequentadores de um frege de beira de estrada. O clímax da tensão foi protagonizado pelos senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL) que quase chegaram ao desforço físico. A barafunda foi provocada pela leitura, pelo senador Renan Calheiros, da representação do PMDB contra o senador Jereissati encaminhada ao Conselho de Ética. Na leitura, o líder do PMDB excedeu-se nas ironias e provocações ao senador Jereissati.

Daí em diante a troca de desaforos baixou ao calão. Jereissati pegou pesado: “Senador Renan, não aponte este dedo sujo para cima de mim”. E o revide: “O dedo sujo é de Vossa Excelência, são os dedos dos jatinhos que o Senado pagou”, numa alusão à denúncia de que Tasso usou parte da verba indenizatória para fretar jatinhos.

Nos xingamentos seguintes, além dos menos chocantes, como coronel de matéria fecal e cangaceiro de 3ª categoria, só a intervenção de senadores evitou a briga de dois senhores, avôs de netos crescidos. Necessito justificar-me. Espichei estas mal digitadas linhas para chegar à minha insistente análise sobre a decadência do Congresso desde a mudança da capital do Rio para Brasília inacabada, um canteiro de obras no cerrado.

Nada do que Brasília prometia no entusiasmo do presidente Juscelino Kubitschek, de olho no sonho que virou pesadelo da volta no JK-65, resistiu à improvisação e ao afobamento. A capital para uma população de no máximo 600 mil habitantes explodiu em mais de 2,5 milhões. E a corrupção, pela fresta das mordomias, das vantagens, dos privilégios para os marajás dos três poderes, começou com a farra das dobradinhas de salários para os servidores e todo o tipo de facilidades para ministros, desembargadores e magistrados, da gastança sem limites do Executivo com o maior Ministério de todos os tempos e agora, na pré-campanha eleitoral da candidata do presidente Lula, a ministra Dilma Rousseff, e os projetos eleitorais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e mais o Minha Casa Minha Vida, com a promessa da construção de 1 milhão de residências populares.

E não vai parar por aí. Como sobra dinheiro no milagre da Viúva, dona do cofre mágico, daqui até o dia da eleição, em 3 de outubro de 2010, vamos assistir a novas mágicas, conforme a necessidade indicada pelas pesquisas. Enquadrar o Executivo no latifúndio do orçamento, com o estrilo dos marajás, é um desafio à autoridade do presidente. E com a toga o acerto passa pelo entendimento entre poderes.

Mais grave e quase impossível é dobrar o Legislativo. Vai depender de que os senadores e deputados se conscientizem de que só o corte de todas as mordomias, vantagens e privilégios, passagens e verba indenizatória, para o funcionamento regular do Congresso em Brasília, pode salvar o mais democrático dos poderes.

Senador engaveta denúncias contra Sarney sem discussão

Maria Lima, Brasília
DEU EM O GLOBO

‘Não temo a opinião pública. Adoro decidir sozinho’, diz presidente do Conselho de Ética

O presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ), Arquivou os últimos sete pedidos de investigação sobre o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Os casos engavetados apontavam suspeitas de envolvimento de Sarney em nepotismo, tráfico de influência, desvio de recursos e fraudes fiscal. Duque decidiu pelo arquivamento sozinho, sem convocar uma sessão do Conselho para deliberar sobre o caso. “Não temo a opinião pública. Adoro decidir sozinho”, disse Duque, que ontem nem foi ao Senado. DEM, PSOL e PSDB vão recorrer ao Conselho para tentar reabrir as investigações. Na sociedade civil, a reação ao baixo nível no Senado é de indignação.

Tudo para a gaveta, sem debate

Presidente do Conselho de Ética, Duque manda arquivar todas as denúncias contra Sarney

Sem convocar uma sessão do Conselho de Ética para o debate e nem mesmo aparecer em público, o presidente do colegiado, Paulo Duque (PMDB-RJ), mandou seu chefe de gabinete, Zaqueu Teles, protocolar ontem na Secretaria Geral da Mesa o despacho determinando que sejam engavetados os últimos sete pedidos de investigação sobre nepotismo, mentira, tráfico de influência, desvio de recursos e fraude fiscal supostamente praticados pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Falta agora Duque decidir, até quinta-feira, se arquiva ou aceita a representação do PMDB contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

Anteontem à noite, Duque disse, em relação a este último caso, que não teria como tomar outra decisão, para não ser incoerente. E afirmou não temer a reação da opinião pública: — Não temo. Já até marquei com minha família onde vou almoçar no Dia dos Pais. Não temo nada.

E negou estar a serviço da tropa de choque de Sarney: — Eu decidi tudo sozinho. Adoro decidir sozinho.

Ontem, porém, o senador não apareceu para entregar seus despachos.

— O senador Paulo Duque amanheceu hoje meio rouco — disse Zaqueu, apesar de seu chefe ser permanentemente rouco.

O alívio de Sarney pode ser passageiro.

Na segunda-feira, DEM, PSOL e PSDB vão protocolar recursos para tentar derrubar a decisão de Duque sobre cinco representações e seis denúncias contra o presidente da Casa.

Para a oposição, se o PT cumprir a promessa de não aceitar o arquivamento sumário, serão alcançados os oito votos necessários para a abertura do processo por quebra de decoro

Demóstenes: ‘O caso ainda não morreu

Caso contrário, a estratégia é levar a batalha ao plenário do Senado, onde as chances da oposição são maiores.

Ontem, Eduardo Suplicy (PT-SP) anunciou que assinará o manifesto pedindo o afastamento de Sarney até o fim das investigações. Se o fizer, serão 40 os senadores pedindo o afastamento de Sarney. São três os integrantes do PT no Conselho: Ideli Salvatti (SC), Delcídio Amaral (MS) e João Pedro (AM), todos afinados com o Planalto.

— Vamos para a luta! Agora nós vamos ver se o PT vai cumprir a palavra de votar conosco contra o arquivamento sumário. O caso ainda não morreu — disse Demóstenes Torres (DEM-GO), que redigirá os recursos.

Em nota ontem, o líder do PT e do bloco governista, Aloizio Mercadante (SP), reafirmou a posição da bancada pela licença de Sarney, e criticou o manifesto da oposição lido na véspera no plenário pedindo o afastamento. Mas não se refere ao recurso. A nota diz que Mercadante lamenta que setores da oposição utilizem a crise do Senado para atacar o presidente Lula: — Nós não nos prestamos a esse papel. A oposição poderia reconhecer publicamente que hoje reforça a posição que o PT sempre manteve (a de pedir licença).

Para arquivar a representação do PSDB que pede apuração do envolvimento de Sarney na nomeação do namorado da neta Maria Beatriz, Henrique Dias Bernardes, Duque repetiu argumento usado pelo presidente do Senado: “O pedido apresenta uma nulidade, uma vez que se baseia, integralmente, em gravações de conversas telefônicas que constam de processo que tramita em segredo de justiça e cuja divulgação é absolutamente ilícita”.

Duque diz que, no caso dos atos secretos, “praticamente todos os demais senadores foram objeto de atos administrativos não publicados” — mesma linha de defesa de Sarney

‘Recurso é certo’, diz Agripino Maia

Já no caso da denúncia apresentada por Arthur Virgílio, juntamente com Cristovam Buarque (PDT-DF), sobre fraude fiscal na venda de terras do Sítio São José do Pericumã, o presidente do Conselho usa um argumento curioso para arquivar: fraude fiscal não é matéria de competência do Conselho de Ética do Senado. Na representação que questiona a não declaração à Justiça Eleitoral da mansão que Sarney mora em Brasília, Duque diz que não foram anexados documentos e que o Conselho não pode servir de instrumento de política partidária.

— Esse argumento de luta partidária não tem nada a ver. Agora, não vejo erro no arquivamento sumário se o presidente Paulo Duque encontrou fundamento para não receber o despacho inicial. Se encontrou, está cumprindo o regimento. Se são 11 ou 12 arquivamentos, não vem ao caso. Fundamental é o fundamento — tentou justificar Almeida Lima (PMDB-SE), um dos integrantes da tropa de choque de Sarney no Conselho.

— Sarney não precisa comemorar.

O recurso é tão certo como dois e dois são quatro — disse o líder do DEM, José Agripino Maia (RN) — O Conselho foi constituído para blindar Sarney. Mas, se o Conselho não investigar, é uma pena, porque nem que quiséssemos poderíamos ajudá-lo a ter legitimidade para continuar presidindo o Senado — avaliou Renato Casagrande (PSB-ES).

Simon responsabiliza Lula

Cristiane Jungblut e Isabel Braga
DEU EM O GLOBO


Senador ironiza aliança do presidente com Sarney, Collor e Renan

BRASÍLIA. Um dia depois da guerra verbal em plenário, senadores foram ontem à tribuna apelar para o fim da batalha. Alguns insistiram para que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), deixe o cargo. Pedro Simon (PMDB-RS) foi além: responsabilizou o presidente Lula pela crise que vive a Casa, com a eleição de Sarney e sua permanência no cargo.

— A vitória foi de Lula. Foi o presidente da República, de maneira grosseira, de forma que nenhum ditador ou general de plantão fez com o Congresso, que, humilhando seu próprio partido, o líder da sua bancada, tomou uma posição acima do bem e do mal. É muito triste. Ele ganhou. Ele é o herói — discursou Simon.

O senador ironizou ainda a proximidade de Lula com Sarney, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Fernando Collor (PTB-AL), lembrando que são eles que frequentam agora o Planalto: — Na campanha do ano que vem, a foto que a oposição usará será esta: Lula, Sarney, Collor e Renan.

Para o gaúcho, em vez de se aconselhar com Sarney, Renan e Collor, Lula deveria ouvir pessoas como o vicepresidente José Alencar, Frei Betto e outros nomes do velho PT: — Ah, meu Deus, se o dr. Lula ouvisse mais o José Alencar! Ah, se os grandes amigos do Lula fossem o José Alencar, o Frei Betto, aqueles nomes do velho e querido PT, que lutaram para transformar o PT em uma organização de ideias e de princípios! Mas os heróis do Lula são o dr. Sarney, o dr. Renan, o dr. Collor.

Simon disse ainda não ter compreendido a presença de Sarney na sessão de anteontem, para prestigiar o que classificou de “espetáculo surreal”.

Wellington Salgado (PMDB-MG) tentou justificar a baixaria entre Renan e o tucano Tasso Jereissati (CE): — Todo senador é um homem, é humano. Ninguém chega ao Senado sendo frouxo e sem, em determinado momento, mostrar que tem o sangue quente. Foi o que aconteceu ontem.

Heráclito Fortes (DEM-PI) também pediu calma: — Quero que os companheiros aproveitem o fim de semana para uma meditação e voltem, na segunda-feira, imbuídos de que esta é uma Casa de debates e que esses debates têm de ser acalorados e acirrados, mas que não podem, de maneira alguma, descer a níveis do que vimos.

Para Lula, Renan acertou

Vera Rosa e Tânia Monteiro
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente endossa Renan e culpa oposição pelo tumulto

Discussão foi "lamentável", afirma ele, mas minoria tenta agir como se fosse maioria, mesmo sem ter votos

Preocupado com o agravamento da crise no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou com assessores que o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), resumiu muito bem a percepção do governo sobre as ações de tucanos e democratas no Congresso ao afirmar que a oposição era "minoria com complexo de maioria". A frase de Renan foi dita durante bate-boca no plenário com Tasso Jereissatti (CE), na quinta-feira.

Embora considere "lamentável" a troca de insultos entre os senadores, Lula avalia que os adversários adotam a "tática da muvuca" e agem como se tivessem mais votos. Renan é o chefe da tropa de choque montada para socorrer o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e também já foi apoiado por Lula, em 2007, quando acabou renunciando à presidência do Senado para escapar da cassação.

O governo quer a permanência de Sarney, mas Lula tem seguido à risca a estratégia de não mais mexer nesse vespeiro em público, para evitar desgaste.

Faz exatamente oito dias que o presidente não fala sobre a crise. Na tentativa de evitar que o terremoto político contamine o governo, ministros repetem como um mantra que "a crise é do Senado". Na prática, porém, o Planalto está apreensivo com os efeitos colaterais da febre na Casa presidida por Sarney.

"É triste o que está acontecendo no Senado. A situação se complicou de novo e a temperatura está muito alta", afirmou o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Lula insiste em que é preciso ajudar Sarney. Depois dos xingamentos de quinta-feira entre Renan e Tasso, no entanto, senadores do PT discutem a possibilidade de ajudar a oposição no Conselho de Ética.

"Não é um bom caminho para o Senado arquivar todas as representações de forma sumária", disse o senador Aloízio Mercadante (SP), líder do PT. "Vamos analisar caso a caso."

Convencido de que o segundo round da guerra está nas mãos do PT, Lula pretende conversar com líderes e dirigentes do partido na próxima semana. No diagnóstico do presidente, o apoio do PMDB é essencial para garantir a governabilidade. Além disso, Lula está de olho na eleição de 2010 e quer o PMDB unido em torno da candidatura ao Planalto da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Na contramão do desejo do presidente, o PMDB e o PT vivem às turras em vários Estados, dificultando a montagem de um palanque único para Dilma. Na Bahia, por exemplo, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), rompeu com o governador Jaques Wagner (PT), que é candidato à reeleição.

Marina no PV pode levar briga ao 2º turno

Clarissa Oliveira e Julia Duailibi
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


PSDB e PT não veem ameaça, mas ex-ministra tiraria votos dos dois

A possibilidade de a senadora Marina Silva (PT-AC) entrar na disputa presidencial do ano que vem está longe de ser vista como uma ameaça pelos comandos do PT e do PSDB, que planejam polarizar a corrida ao Palácio do Planalto, conferindo a ela um caráter "plebiscitário". Tucanos e petistas, no entanto, avaliam que, caso a ex-ministra do Meio Ambiente aceite o convite do PV, a corrida de 2010 passar a ter mais chances de ser resolvida no segundo turno.

Líderes do PT e do PSDB consideram que a senadora deve se beneficiar da imagem de "vítima" que teria junto à opinião pública, alcançando cerca de 5% dos votos. Roubaria ainda votos de um eleitor mais ideologizado,que demonstra um certo cansaço da polarização PT-PSDB. Marina também receberia votos de eleitores órfãos da ex-senadora Heloisa Helena (PSOL), que concorreu ao Planalto em 2006 e que pode não disputar a Presidência em 2010. Manteria, assim, uma candidatura satélite e independente, como a da ex-senadora, que alcançou 6,8% dos votos em 2006.

Nos dois lados, entretanto, a notícia do convite foi suficiente para provocar alguma movimentação. No PT, que se prepara para lançar a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, setores da direção propuseram que seja imediatamente encomendada uma pesquisa, para avaliar o possível impacto na performance de Dilma. Mas prevaleceu a tese de que o melhor é aguardar até que a senadora tome uma decisão definitiva.

As divergências com Dilma por causa de licenças ambientais para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) tiveram um papel fundamental na decisão de Marina de pedir demissão do Ministério do Meio Ambiente, em maio do ano passado. Daí a avaliação de que ela poderá partir para o ataque a sua antiga colega na Esplanada dos Ministérios. Marina não nega as divergências, mas diz não alimentar rancores."Graças a Deus, não faço nada na minha vida movida por ressentimento ou mágoas", diz. "Não gosto nunca de me colocar em lugar de vítima ou de colocar os outros em lugar de algoz." É justamente a imagem de vítima que preocupa tucanos e petistas, dada a personalidade forte de seus candidatos - Dilma, no PT, e os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, no PSDB.

DECISÃO

Marina, por enquanto, se diz "obviamente incomodada" com especulações sobre o impacto de uma eventual candidatura sua na votação de outros concorrentes. "Ficam dizendo, diante de qualquer movimentação, que você tira voto de cicrano ou dá voto para beltrano. É uma visão patrimonialista", reage.

O PV, entretanto, já faz as contas. A sigla avalia que poderá ampliar sua bancada na Câmara para algo em torno de 25 cadeiras, bem acima dos atuais 14 deputados.

Marina ainda não decidiu seu futuro político, mas até em seu círculo mais próximo a avaliação é a de que ela está fortemente inclinada deixar o PT. A senadora vai dedicar este fim de semana a uma maratona de reuniões com seus aliados no Acre que, afirma, a ajudarão a se decidir.

Nos últimos dias, Marina confidenciou a um colega que não teria se reunido com o PV se não estivesse muito tentada a aceitar o convite. Afinal, disse ela, há anos o partido lhe oferece a vaga de candidata a presidente. Por outro lado, ela também se disse comovida pelos telefonemas e até cartas que recebeu de petistas.

Aécio: no PV, Marina pode se unir ao PSDB num 2 º turno

Maiá Menezes
DEU EM O GLOBO

Tucanos condenam aparelhamento do Estado no governo Lula

Um clima ameno e abraços efusivos marcaram ontem o encontro dos governadores tucanos de São Paulo, José Serra, e de Minas, Aécio Neves, no 16oCongresso Nacional do PPS, no Centro do Rio. Com uma divergência: empolgado com a provável ida da senadora Marina Silva (PT-AC) para o PV — aliado do PSDB em Minas e em São Paulo —, Aécio afirmou que Marina, caso se candidate à Presidência em 2010, poderá se integrar ao projeto tucano, num eventual segundo turno. Serra, lacônico, não quis comentar a movimentação partidária da ex-ministra do Meio Ambiente.

— Se ela for candidata, e é legítimo que ela seja, num segundo momento haverá muita afinidade com uma candidatura do PSDB. Que possamos caminhar juntos mais adiante, se não pudermos fazer isso no começo.

Há uma afinidade grande entre o PSDB e o PV no Brasil inteiro. Se o PV optar por uma candidatura num primeiro turno, deve ser respeitado, mas sem que se feche as portas para entendimento mais adiante — animou-se Aécio, bem-humorado, ao chegar, acompanhado do ex-presidente Itamar Franco (PPS), ao hotel onde ocorria o encontro.

— Estou em casa — disse o governador, em traje informal, que contrastava com o terno e a gravata do colega paulista.

Serra se disse desconfortável para tratar da possível troca de partido da senadora, mas fez elogios ao PV e ao deputado Fernando Gabeira (RJ), também presente ao encontro.

— Temos uma boa aliança em São Paulo. Tivemos uma eleição no ano passado. Pessoalmente tenho muitos amigos no PPS. Estamos afinados a respeito de muitos aspectos do nosso país.

Considero o Gabeira um dos grandes quadros da política brasileira — disse Serra, para encerrar o assunto quando perguntado sobre Marina Silva: — Não vou ficar opinando sobre mudança de partido, não me parece correto da minha parte.

“Temos que estatizar o Estado”, afirma Serra Em comum entre os dois, a troca de elogios e as críticas ao governo Lula. Serra e Aécio atacaram em discursos o aparelhamento do Estado na administração petista.

— O Estado brasileiro está sendo privatizado. É uma privatização espúria e nefasta. Não tem muita diferença do patrimonialismo antigo, de se apropriar do Estado para corrupção de meia dúzia, ou de se apropriar do Estado para fortalecer e construir o partido. Dá no mesmo, do ponto de vista do interesse nacional. Temos que estatizar o Estado — disse Serra.

— Vivemos um momento de desqualificação moral da vida publica, brasileira, um aparelhamento do Estado e uma ineficiência a que poucas vezes assistimos na vida federal, pelo menos na era republicana — concordou Aécio.

Para Serra, Aécio tem “todas as credenciais para se candidatar a presidente”.

— Agradeço e retribuo. O governador é um dos homens mais preparados do país. Não tenho dúvidas de que Serra e eu estaremos juntos nesse projeto — devolveu Aécio, que voltou a defender uma chapa com outros partidos em 2010 e prévias para estabelecer o consenso em torno da candidatura. — A partir de dezembro, o PSDB, seja através de prévias ou consultas informais, escolherá o nome.

PPS evita pressionar tucanos

Isabella Souto
DEU NO ESTADO DE MINAS


Partido realiza congresso nacional em que deve reafirmar apoio aos tucanos na campanha de 2010 e recebe os governadores do PSDB Aécio Neves e José Serra, que trocaram elogios

O Partido Popular Socialista (PPS) deve reafirmar neste fim de semana a tese de aliança com o PSDB nas eleições presidenciais do ano que vem. Ao contrário dos Democratas – que já cobraram agilidade dos tucanos em definir quem será o candidato à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) –, os socialistas não têm pressa e aguardam uma decisão do PSDB, mas sem descartar também a tese da candidatura própria.

Até o momento, o PSDB tem como pré-candidatos a presidente da República os governadores Aécio Neves e José Serra (São Paulo). Ambos foram convidados para participar da abertura do 16º Congresso Nacional do PPS, iniciado ontem e que ocorrerá até domingo no Rio de Janeiro.

Os discursos dos governadores Aécio Neves e José Serra foram marcados por uma troca de amabilidades. Serra referiu-se a Aécio em clima amistoso. Disse que o governador mineiro “é um nome forte e tem todas as credenciais para se candidatar e ser presidente da República”. Sorridente, Serra afirmou que entre ele e Aécio “não tem essa disputa que se imagina”.

O governador mineiro também fez elogios a Serra. “Agradeço e retribuo (as palavras de Serra). O governador José Serra é um dos mais preparados homens públicos do país. Feliz do partido que tem opções. Não duvidem de que estaremos juntos num projeto nacional. Mais importante do que projeto pessoal é dizer por que a população deve deixar de votar no atual governo e escolher uma outra proposta”, afirmou Aécio.

Sobre a possibilidade de uma candidatura da senadora Marina Silva (PT-AC) pelo PV, Aécio disse que é saudável e avaliou que ela poderá ser uma futura aliada no caso de segundo turno.

Para o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, “há uma ampla maioria” no partido que diz que as alianças devem se dar em torno da candidatura de Aécio ou Serra. “São candidatos que merecem nosso respeito.”

Em caso de candidatura própria, ou mesmo uma dobradinha com os tucanos, ocupando o lugar de vice, um dos nomes cotados pelos socialistas é o do ex-governador Itamar Franco, que se filiou à legenda no mês passado e deverá ser eleito para integrar a Executiva nacional. O governador Aécio Neves fez questão de participar da solenidade de filiação de Itamar, ocorrida na sede da Assembleia Legislativa, em Belo Horizonte.

Teses Durante o congresso serão discutidas ainda as teses propostas e bandeiras a serem defendidas nos próximos anos. No último dia será feita uma declaração política ao país, em que será reafirmada a postura de oposição ao governo federal e discutida a política de alianças para 2010. “O documento terá relação com a visão que temos do governo federal, ou seja, que somos oposição.” (Com agências)

Aécio e Serra trocam afagos

Luciana Nunes Leal
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Tucanos mostram união em congresso do PPS, no Rio

Uma troca de amabilidades marcou ontem o encontro dos governadores tucanos de Minas, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, no Rio. Os dois compareceram à abertura do 16° Congresso Nacional do PPS, aliado dos tucanos.

Serra, o primeiro a chegar, referiu-se a Aécio em tom amistoso. Disse que o governador mineiro, com quem disputa a candidatura do PSDB à Presidência "é um nome forte e tem todas as credenciais para se candidatar e ser presidente da República".

Sorridente, Serra afirmou que entre ele e Aécio "não tem essa disputa que se imagina". O governador de São Paulo evitou falar em uma candidatura exclusiva do PSDB, com Aécio candidato a vice na sua chapa. "Não faz sentido, neste momento, falar em candidatura única, em uma dobrada (do PSDB)", afirmou.

RETRIBUIÇÃO

O governador mineiro também fez elogios a Serra. "Agradeço e retribuo. O governador José Serra é um dos mais preparados homens públicos do País. Feliz do partido que tem opções. Não duvidem de que estaremos juntos num projeto nacional. Mais importante do que projeto pessoal é dizer por que a população deve deixar de votar no atual governo e escolher uma outra proposta", afirmou.

Sobre a possibilidade de uma candidatura da senadora Marina Silva (PT-AC) pelo PV, Aécio disse que é saudável e avaliou que ela poderá ser uma futura aliada no caso de segundo turno.

O tucano mineiro disse que a escolha do candidato do PSDB deve ser feita em dezembro, "através de prévias ou de uma consulta informal" no partido.

Aécio disse entender os que temem divisões com a consulta interna, mas afirmou integrar o grupo que vê nas prévias "uma oportunidade de enraizar e aprofundar propostas".

O governador de Minas chegou ao hotel onde ocorria o congresso do PPS acompanhado do ex-presidente Itamar Franco, que deu um abraço afetuoso em Serra. Eles foram recebidos pelo presidente da legenda, o ex-deputado Roberto Freire.

Serra e Aécio fazem elogios a PV e à possível candidatura de Marina

Raphael Gomide
Da Sucursal do Rio
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Presidenciáveis tucanos dizem que PT faz "privatização nefasta" no Estado

Após críticas fortes, mas indiretas contra o que chamaram de "privatização nefasta do Estado" pelo PT, os pré-candidatos tucanos à Presidência, os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), elogiaram e deram tratamento de futuro aliado a uma eventual candidatura da senadora petista Marina Silva pelo PV.

O paulista, sem citar diretamente o PT, fez duras críticas ao partido. "O Estado brasileiro está sendo privatizado. É uma privatização espúria, nefasta. Não tem muita diferença do patrimonialismo antigo, de se apropriar do Estado para corrupção de meia dúzia ou de se apropriar do Estado para se fortalecer e construir um partido. Precisamos estatizar o Estado brasileiro que hoje está privatizado por um partido."

Aécio acompanhou o colega: "Hoje há um aparelhamento do Estado aliado à ineficiência como poucas vezes vimos".

Foram aplaudidos pelos mais de 400 presentes na abertura do 16º Congresso Nacional do PPS, no hotel Guanabara (RJ), mas se negaram a comentar a situação do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Para Aécio, a entrada de Marina Silva na corrida presidencial qualifica o debate. "Quem tem projeto político não pode temer. Em um segundo momento, vejo afinidade entre ela e o PSDB. Hoje PV e PSDB já estão juntos no Brasil, em Minas e em cidades expressivas, com um projeto comum."

Serra não quis comentar. "Não opino sobre mudança de partido", disse, e lembrou que o PV integra o governo paulista e compõe a base na Assembleia. "O PV faz parte da aliança. Tive [na prefeitura] um grande secretário [do Verde e Meio Ambiente], Eduardo Jorge. É um partido que sempre teve tradição de proximidade comigo."