quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Campos delimitados

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


O que aconteceu ontem no plenário do Senado sinaliza a tentativa do renascimento do debate político em nível alto, com objetivos maiores do que simplesmente vencer uma disputa partidária ou imobilizar o adversário com golpes baixos. Quando o senador Tasso Jereissati subiu à tribuna para pedir desculpas aos eleitores por ter se envolvido no bate-boca da semana passada com o senador Renan Calheiros, ocasião em que se xingaram mutuamente de “cangaceiro” e “coronel”, estava delimitando a diferença entre os senadores sérios, interessados em uma solução de compromisso com valores e reformas do Senado, e os integrantes da “tropa de choque” governista, que quer manter o controle da situação tal como ela está, com a utilização de táticas sujas como os dossiês, as ameaças e as chantagens.

O polêmico senador Mão Santa, do Piauí, já iniciara no dia anterior uma tentativa de valorização dos membros do Senado, destacando a atuação de cada um dos senadores que subiam à tribuna.

Com sua maneira exuberante e folclórica de se pronunciar, que não esconde uma cultura eclética, Mão Santa aproveitou que presidia a sessão para chamar a atenção do público da TV Senado para as qualidades de diversos senadores, numa tentativa de erguer a imagem da Casa.

Se não bastassem o bateboca da semana anterior e a tentativa de intimidação feita ao senador Pedro Simon, naquele mesmo dia o plenário do Senado havia tido um outro episódio ultrajante, com mais um pronunciamento exaltado do senador Fernando Collor, que, entre outros ataques, disse que estava “obrando” ( no sentido de defecar, de acordo com os dicionários) na cabeça de um jornalista.

A atitude do senador Tasso Jereissati provocou uma série de pronunciamentos de representantes de diversos partidos, os da oposição reafirmando a necessidade de se fazer uma profunda reforma administrativa no Senado, alguns mesmo falando diretamente na saída do senador José Sarney da presidência, mesmo ele estando presidindo a sessão por boa parte do tempo.

O senador Jarbas Vasconcellos, do PMDB de Pernambuco, mostrou-se cético em relação a se chegar a algum consenso para as mudanças necessárias enquanto a “tropa de choque” continuar tentando controlar o Senado através de intimidações. Ele chegou a aventar a possibilidade até mesmo de ocorrerem tiros no plenário ou nos corredores, se a tática governista permanecer sendo a tentativa de intimidar e de constranger os adversários.

Mas o que ficou claro no pronunciamento de todos os senadores presentes à sessão, pouco mais de um terço do plenário do Senado, é que há uma massa crítica disposta a se contrapor ao grupo que tenta dominar as decisões na base do rolo compressor.

Há um grupo de senadores, até mesmo dentro do campo governista, que não deseja se aliar a essa tática fascista de atuação política, e não quer ter sua história política ligada a momentos como aqueles que dominaram os debates da semana passada.

Logo, logo saberemos se o bom senso voltou a prevalecer no plenário do Senado ou se a agressividade, por enquanto apenas verbal, e as decisões sumárias continuarão a marcar a atuação da base governista.

Os membros da “tropa de choque” não deram as caras no plenário ontem. Nos próximos dias, saberemos se não o fizeram por um constrangimento moral, ou se estava tudo combinado.

Saberemos também, na reunião do Conselho de Ética de hoje, se tudo se resume a um grande acordo para livrar tanto o presidente do Senado, José Sarney, quanto o senador tucano Arthur Virgílio, sem que se altere a essência dos procedimentos do Senado, como temem os mais céticos.

Prefiro acreditar que o que houve ontem foi uma reação indignada do que ainda existe de sério no Senado.

A cada dia mais provável saída da senadora Marina Silva do PT para se filiar ao Partido Verde, num projeto de longo prazo que deve levála a se candidatar pelo novo partido à sucessão do presidente Lula, pode redundar num “realinhamento histórico” com PT e PSDB, na avaliação da cúpula partidária.

As pesquisas que o PV tem indicariam que existe um espaço político e cultural que nenhum dos outros candidatos é capaz de ocupar, e que transcende o simples voto de protesto ou a crítica de esquerda ao governo Lula.

Sua candidatura iria além do protesto, da classe média e entraria bem no Nordeste.

A ideia seria, tanto na improvável hipótese de uma vitória quanto em uma eventual boa participação de Marina na campanha eleitoral no primeiro turno, aproveitar o momento político para levar os dois partidos a um compromisso maior com a sustentabilidade e a “economia verde”.

Segundo o dirigente verde do Rio, Alfredo Sirkis, Marina sinaliza “uma nova visão econômica que se distancia do desenvolvimentismo dos anos 60 compartilhado por Serra e Dilma e se aproxima das tendências de eco-desenvolvimento esboçadas nos EUA por Barack Obama e que na Europa já são assimiladas tanto pela social-democracia quanto por alguns conservadores modernos”.

Na avaliação da cúpula do PV, o Brasil está singularmente bem situado para liderar essa tendência à economia verde, mas segue preso à velha visão de crescimento predatório, desperdício, imediatismo e lucro máximo em detrimento de tudo mais.

Esse “realinhamento histórico” também abrangeria uma reforma do sistema eleitoral que favoreça a mudança da cultura política hegemônica no país, na definição de Sirkis.

Nas mãos do tempo

Rosângela Bittar
DEU NO VALOR ECONÔMICO


A pajelança a ser comandada hoje pelo presidente Lula com seus aliados do PSB e do PT, no Palácio da Alvorada, com todo o requinte da liturgia presidencial, é um lance para impressionar e, sobretudo, pressionar. Pressionar o PT, como última tentativa, a aceitar a candidatura de Ciro Gomes ao governo de São Paulo em nome da aliança e, se de todo não der mesmo, como não estava dando até ontem, e o partido dos trabalhadores mantiver a resistência, levar o PT a fazer concessões ao PMDB, nos Estados, para que o PMDB ceda a vaga de vice da candidata Dilma Rousseff a Ciro Gomes. Qualquer definição fora dessas opções leva Ciro a ser candidato a presidente da República na sucessão de 2010, contra tudo e contra todos, especialmente tendo como adversária a candidata petista.

Este é um resumido enredo do samba que deve se manter inalterado, mesmo após a reunião dos partidos com o presidente, porque a negociação não deve chegar a um desfecho assim, de primeira.

O que está ocorrendo agora tem gênese nas eleições municipais quando, para se fortalecer, ampliar horizontes e plantar sementes eleitorais, o chamado bloquinho de esquerda cogitou o lançamento da candidatura do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) a prefeito da capital, diante da impossibilidade de furar o bloqueio do PT contra alianças com esses pequenos partidos. Como os grandes desistiram de apoiar o PT, a candidata Marta Suplicy aceitou, em nome do partido, que o PCdoB integrasse sua campanha com a candidatura a vice, o deputado Aldo Rebelo. Não deixou de ser um passo adiante para este grupo apesar da relutância do PT, que atrasou a aplicação da estratégia da esquerda.

O que o PSB e o PCdoB vinham armando é uma continuidade deste propósito de 2008, mas com muito, muito mais condições de ampliação do seu eleitorado. Ciro Gomes quer ser candidato a governador de São Paulo, acha que estão esgotadas suas possibilidades no Ceará, onde já fez de tudo, armou as condições básicas para isto e os partidos que conduzem este projeto têm segurança sobre o sucesso que seria a empreitada. Esta candidatura, que o presidente Lula também quer muito, criaria melhores chances para a campanha da candidata Dilma Rousseff a presidente, puxando para ela boa parte da votação que o PSDB historicamente obtém no Estado. Daria ao PT, que não tem um candidato imbatível, condições de fazer uma grande bancada parlamentar. E se não vencesse nesta, Ciro criaria uma base em São Paulo para si e para esses partidos. Inclusive, acreditam os socialistas e comunistas, ampliaria para a votação do próprio PT.

Todos estavam dependentes de uma definição do PT mas, segundo avaliação feita ontem pelo grupo, o partido do presidente se perde no debate de posições, e não se define. Isso significa, para quem já viveu experiência com a legenda, que o PT não quer fazer a aliança e vai lançar candidato próprio. Este PT tem nome e sobrenome: Marta Suplicy e Antonio Palocci. Com um grande elenco na articulação das resoluções internas.

Há mais ou menos um mês, quando já estava na agenda a candidatura Ciro ao governo de São Paulo, uma análise interna feita pelo PT paulista e aqui mesmo publicada identificou as razões do partido para não aceitar a aliança desta forma. Para o PT, historicamente, o partido tem uma votação de 30% em São Paulo. Sem a certeza se vai transferir isto para outro candidato, temendo perder parte do eleitorado e desestimular a militância, que faz questão de marcar presença nas eleições, o melhor a fazer seria lançar candidato próprio e encontrar-se com PSB e PCdoB no segundo turno.

Argumentação que PSB e PCdoB consideram "balela". O mínimo que dizem dela é que é interesseira. O PT estaria, na verdade, tentando impedir a consolidação de uma liderança não petista em São Paulo. E só teria sentido a candidatura Ciro se fosse com a união de todos. Até porque, sem o PT, o tempo de televisão para a propaganda eleitoral do candidato seria mínimo.

Impacientes, e já tendo tido uma primeira posição do PT paulista de que terá candidato próprio, PSB e PCdoB resolveram voltar à candidatura presidencial de Ciro Gomes. A entrevista concedida pelo deputado à repórter Raquel Ulhôa, do Valor, publicada na edição de segunda, é uma conversa de candidato a presidente, cheia de recados ao PT mas sem fechar completamente as portas a uma aliança a qualquer tempo.

Ciro elogiou José Serra, o governador tucano que é seu sparring preferido: recado aos petistas de que não contem com ele para atacar o adversário; Ciro preservou Marina Silva, possível candidata do PV, porque não a considera sua adversária; previu a implosão da candidatura de quem considera do lado oposto ao seu, Dilma, se for mesmo a candidata do PT. E muitos outros sinais ao partido do presidente.

Pressão fortíssima mas ainda não a definição cabal de que sua candidatura é mesmo a presidente da República pelo PSB. Por uma razão: há políticos importantes do PT defendendo, como saída do impasse, que Ciro seja vice de Dilma Rousseff. Para isto, o Partido dos Trabalhadores tem um imenso desafio pela frente. O de convencer uma maioria do PMDB a ceder o posto sem abandonar a aliança lulista.

E para fazer esta maioria no PMDB, o PT precisa fazer uma maioria no próprio PT, para aceitar composições regionais abrindo mão de posições para favorecer pemedebistas. Por exemplo: José Fogaça, avaliam os partidários de Ciro, preferiria ter o apoio do PT no Rio Grande do Sul a ter o vice na chapa de Dilma; Hélio Costa, com certeza, igualmente em Minas Gerais; Sergio Cabral gostaria de ter o PT na sua reeleição mais que o vice da chapa presidencial. E assim em vários outros Estados onde o PMDB quer eleger o governador e fazer grande bancada, com o apoio do PT.

Se em São Paulo foi impossível ceder a candidatura aos parceiros históricos, imagine-se como será a negociação do PT com o PMDB país afora. Por isso, a solução não está à vista, ainda. O tempo é que vai resolver, não o encontro de hoje.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

A vez de Aécio Neves visitar o Estado

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Duas semanas depois da badalada passagem do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), por Exu, no Sertão pernambucano, chegou a vez do outro presidenciável tucano desembarcar no Estado: Aécio Neves, governador de Minas Gerais, chega sexta-feira (14) ao Recife para um dia de atividades com líderes do seu partido e aliados que formavam a antiga União por Pernambuco (PSDB/PMDB/DEM/PPS).

O neto do ex-presidente Tancredo Neves disputa com o governador paulista a indicação do PSDB para a disputa presidencial do próximo ano. A agenda de Aécio será apenas na região metropolitana, dividida entre Recife e Jaboatão dos Guararapes, onde um tucano – Elias Gomes – governa a cidade.

Com chegada prevista para às 10h, o primeiro compromisso de Aécio será uma entrevista ao programa de Geraldo Freire na Rádio Jornal, às 11h. A programação inclui um almoço com as bancadas federal e estadual do PSDB, um encontro com lideranças dos partidos de oposição, uma audiência com o governador Eduardo Campos (PSB) – com quem mantém ótima relação – e participação na solenidade de posse da vereadora Aline Mariano como presidente do diretório municipal do PSDB

Aécio e Serra estiveram juntos, no fim de semana, durante o 16º Congresso Nacional do PPS, em São Paulo, quando o partido pós-socialista reconduziu o ex-senador pernambucano Roberto Freire à presidência da sigla. Os dois trocaram elogios na ocasião.

NORDESTE

Nesta disputa interna para ver quem será o escolhido para representar o PSDB na eleição presidencial do ano que vem, a região Nordeste – onde o presidente Lula tem seus maiores índices de aprovação popular, de acordo com as pesquisas – vem cada vez mais atraindo os líderes tucanos. Mesmo tentando, Serra não conseguiu afastar a conotação político-eleitoral de sua passagem por Exu, onde visitou o Parque Aza Branca (com z mesmo), dedicado a Luiz Gonzaga. O mesmo ocorreu, anteontem, em sua passagem por Salvador, na Bahia. Agora, a região será visitada por Aécio.

O Senado entre o acordo e o suicídio

Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL


RIO - Salvo imprevisto de última hora, como incêndio no porão ou entupimento no banheiro com os desarranjos intestinais de senadores, a crise do Senado entrou em transe e ou alinhava uma trégua para tentar fazer as pazes com o eleitor desencantado, a rilhar os dentes de indignação ou puxa o gatilho para o suicídio com a bala no coração.

Os muitos nós de desacertos entre aliados, o troca-troca de lado na miudeza dos recursos encaminhados pelos senadores do PSDB e do Democratas ao Conselho de Ética – um exausto substantivo, usado até o abuso e em vão nos debates do Senado, em espetáculo para a platéia vazia – contra o arquivamento de três denúncias e duas representações pedindo a abertura de investigação contra o presidente José Sarney (PMDB-AP), que dependem dos votos do PT.

A oposição adverte o governo que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal se as ações forem engavetadas. O que é provável e aumenta a agonia, pois o PT já recebeu todos os recados do presidente Lula e da candidata, a ministra Dilma Rousseff, que a disciplina partidária deve ser respeitada e o apoio ao presidente Sarney, neste transe, é um compromisso que precisa ser mantido.

O PSOL. que não tem nada a perder, avisa, com o rosto crispado, que ingressará com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do presidente, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), de arquivar 11 pedidos de investigação sem consultar ninguém.

O presidente Lula, com as cautelas depois de tantos tropeços, manteve o apoio ao presidente Sarney, com o enquadramento nas regras regimentais. Advertiu que “não se pode, a cada denúncia, tirar de um político o mandato que ele conquistou com o voto”. Antes, a investigação deve ser cautelosa, garantindo o pleno direito de defesa. Mas, colocou as grisalhas barbas de molho, ressalvando que não cabe a ele dar palpite, pois “o Senado tem maioridade e instrumentos para fazer as investigações que entender que deva fazer”.

Mas, entre a meditada declaração aos repórteres e o jogo nos bastidores, a distância dá uma volta no mundo. E o PT está sendo enquadrado para reconhecer a prioridade do partido, que é a eleição da ministra Dilma Rousseff, que esbarra na filiação praticamente resolvida da senadora Marina Silva (PT-AC) ao Partido Verde, para o provável lançamento da sua candidatura à Presidência da República, em 2010. O nome da senadora não foi ainda incluído em nenhuma pesquisa de tendência de voto. Mas, a ex-ministra do Meio Ambiente e militante na luta contra o desmatamento da Amazônia deve ter um potencial de votos entre os que se preocupam com o desenvolvimento sustentável e com as motosserras que devastam a cada ano áreas maiores que muitos estados do Nordeste e do que as das capitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Com a ênfase do seu temperamento, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), com vaga cativa em todas listas de possíveis candidatos à presidente ou a vice, foi categórico: “Uma candidatura de Marina Silva implode a candidatura de Dilma”.

Com uma programação rica em alternativas, o Senado enfrentará o desafio de dar a volta na crise com qualquer solução negociada, antes que senadores e deputados se dispersem pelas suas bases para a caça ao eleitor esquivo, envergonhado, com o estômago embrulhado com a catinga que exala o pior Congresso de todos os tempos. Com exceção das ditaduras, quando são fechados, como no Estado Novo de Getúlio Vargas, ou mantidos abertos para a humilhação dos 21 anos da ditadura militar.

* Repórter político do JB

Em meio à crise, Lula propõe concessão de rádio a filho de Renan

Elvira Lobato
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Medida do presidente foi formalizada um dia após bate-boca de líder peemedebista com tucano Tasso Jereissati no Senado

Em 2007, Renan foi alvo de processo no Conselho de Ética sob suspeita de ser o dono da emissora e usar laranjas para omitir compra

No meio do turbilhão da crise no Senado, o presidente Lula encaminhou ao Congresso o processo para aprovação de uma concessão de rádio FM para a família de Renan Calheiros, líder do PMDB e um dos comandantes da tropa de choque para a manutenção de José Sarney na presidência da Casa.

A concessão, em nome da empresa JR Radiodifusão, é para o município de Água Branca, uma cidade de 20 mil habitantes no sertão de Alagoas. Lula enviou a mensagem ao Congresso na sexta, um dia após violento bate-boca, no plenário, entre Renan e Tasso Jereissati (PSDB-CE). Renan nega ter influenciado a tramitação.

No site do Ministério das Comunicações, as informações sobre o andamento do processo são contraditórias. Consta que em 5 de março deste ano foi enviado à Presidência da República, onde não teria sido recebido, e voltou para a pasta.

Não há registro no sistema de consultas on-line do ministério sobre a data em que se deu a entrada na Presidência. Desde a Constituição de 1988, é obrigatória a aprovação das concessões e das renovações das concessões de radiodifusão pela Câmara e pelo Senado, e cabe ao presidente da República enviar os processos ao Congresso.

O senador não figura como acionista da JR Radiodifusão, mas sim seu filho, José Renan Calheiros Filho, prefeito de Murici (AL). O principal acionista, Carlos Ricardo Santa Ritta, é assessor de Calheiros no Senado. Outro acionista, Ildefonso Tito Uchoa, também foi seu assessor no Senado.

Por causa da JR Radiodifusão, o mandato de Renan esteve em risco, em 2007. Ele foi acusado de ser dono da empresa por meio de laranjas e de quebra de decoro parlamentar.

Sofreu processo no Conselho de Ética, mas foi absolvido pelo plenário do Senado.

Durante a investigação, o ex-senador e usineiro alagoano João Lyra afirmou ao corregedor do Senado que Calheiros era ""sócio oculto" das rádios. Quotas das emissoras foram pagas com cheques dele. O senador justificou os cheques dizendo que deu dinheiro para o filho se tornar sócio.

Licitação

A outorga da rádio em questão foi oferecida, em licitação pública, pelo Ministério das Comunicações, em 2001. A JR venceu a licitação, ao oferecer o maior preço, R$ 251 mil.

Na mesma licitação, ela comprou mais três concessões de rádio no interior de Alagoas: para os municípios de Joaquim Gomes, Murici e Porto Real do Colégio. O preço das licenças somou cerca de R$ 1 milhão.

Os processos das outras três rádios concluíram o trâmite burocrático e foram autorizados pelo Congresso em 2007. O próprio Renan Calheiros -na época presidente do Senado- assinou os decretos autorizando as licenças, que, no caso de rádios, são de dez anos renováveis. O da emissora em Água Branca empacou, pois a documentação estava incompleta.

A dor (poesia)

Graziela Melo

A dor
Que se esconde
Na prateleira
De minh’alma
É rosa,
Não é cinza

Me acalenta
E acalma

Alerta
Enquanto
Durmo

Espanta-me
Os pesadelos

Embala-me
Com sonhos belos
Enrosca-se
Nos meus
Cabelos

Pernoita
Nos meus
Lençóis
Cativa-me
Com doces
Gestos...

Mistura-se
Aos meus
Temores

Desperta,
Quando
Amanheço...

Planalto considera saída de Marina Silva irreversível

De Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O Palácio do Planalto considera irreversível a ida da senadora Marina Silva (PT-AC) para o PV e sua consequente candidatura à Presidência da República. A avaliação dos estrategistas palacianos é de que com Marina no páreo, a candidatura de Dilma Rousseff sofrerá prejuízos, apesar de a dimensão deles ainda ser uma incógnita. Na visão do Palácio, as demonstrações para lá de explicitas de um carinho que Marina Silva estava pouco acostumada a receber desde que deixou o Ministério do Meio Ambiente, em 2008, não foram suficientes para convencer a senadora a permanecer no partido.

A romaria de pesos pesados petistas para tentar convencer a senadora Marina Silva (PT-AC) a desistir de filiar-se ao PV para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi intensificada desde o retorno da ex-ministra do Acre. Nos últimos dois dias Marina foi procurada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini, pelo principal candidato à sua sucessão, José Eduardo Dutra, e por inúmeros colegas de sigla. Ontem, também, a bancada do PT no Senado divulgou uma carta aberta elogiando efusivamente a senadora e pedindo sua permanência na sigla.

José Eduardo Dutra, hoje presidente da Transpetro, foi o último a ter com Marina. Encontrou-se com ela ontem no Senado e reiterou os pedidos de que permaneça no PT. Saiu do encontro resignado de que não será fácil manter a senadora no partido. "Estou convencido que ela realmente está fazendo uma reflexão profunda", disse Dutra. "O melhor dos mundos é que ela fique no PT e se candidate ao Senado".

Marina também conversou com Dilma Rousseff sobre o assunto. As duas não se encontraram pessoalmente. Dilma pediu para que a senadora reflita melhor sobre a decisão de sair do PT e que permaneça no partido para concorrer, uma vez mais, ao senado. Berzoini fez o mesmo. Mas diante das circunstâncias, vai se encontrar pessoalmente com a senadora nos próximos dias.

Marina Silva manteve ontem o discurso de que sua ida para o PV não está ligada a uma candidatura presidencial. Segundo ela, o que lhe atrai é o fato de o partido ter proposto que o debate do desenvolvimento sustentável seja colocado em pauta como questão estratégica. "Não se trata de uma discussão para a candidatura. É uma discussão programática, de algo estratégico para o país", afirmou a senadora. Marina disse também não pretender fazer de sua saída do PT uma novela interminável. "Eu não quero prolongar esse processo em respeito ao partido ao qual eu pertenço, ao PV e a mim". (Com agências noticiosas)

Gabeira acerta com PSDB candidatura no Rio

Ana Paula Grabois, do Rio
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Fenômeno nas eleições municipais no ano passado, neste momento a opção do deputado federal Fernando Gabeira (PV) é sair como candidato a governador do Estado do Rio em 2010 apoiado pelo PSDB. Na semana passada, Gabeira conversou com o governador de São Paulo, José Serra, e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo, dois entusiastas da candidatura do deputado ao governo do Estado do Rio no ano que vem.

Nas eleições de 2008, aliado ao PSDB, PPS e DEM, Gabeira perdeu por apenas 55,7 mil votos do atual prefeito, Eduardo Paes (PMDB). Na época, recebeu forte apoio financeiro dos tucanos, que tinha como representante na chapa o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha. O PSDB deu R$ 1 milhão à campanha de Gabeira a prefeito.

"Eles querem que a gente saia com candidatura ao governo", disse. A opção pelo Senado foi deixada para trás, diz. "A situação lá está muito complicada. Precisaria entrar para mudar e teria que ter pelo menos dez senadores", afirmou, sem esperanças de renovação na Casa em 2010.

Um dos desafios de sua candidatura será conjugar no primeiro turno a eventual candidatura da senadora Marina Silva pelo PV com a candidatura tucana à Presidência. "Não sei como será, mas gostaria de contar com o apoio do PSDB", disse o deputado do PV ao Valor. Uma das possibilidades é Gabeira subir no palanque dos dois candidatos presidenciais. Para Serra, Gabeira seria o palanque ideal no Estado para fazer frente ao apoio que Cabral (PMDB), pré-candidato à reeleição, dará à virtual candidata do PT, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Essa é a opção, ter dois palanques", diz o vereador Alfredo Sirkis (PV-RJ). Hoje Gabeira se reúne com Marina para tratar do assunto.

A pré-candidatura Gabeira deve complicar o quadro eleitoral para o governador Sérgio Cabral. Em pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS) realizada entre 23 e 27 de julho com 2 mil eleitores no Estado, Cabral apareceu com 28% das intenções de voto, seguido por Gabeira, com 21%. O ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR) obteve 17%, enquanto o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), tinha 9%. Cabral luta para ter menos concorrentes e tenta tirar da disputa Lindberg Farias, do PT.

Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador do Rio tem tentado convencer Dilma a tirar Lindberg da corrida ao governo estadual. Uma das alternativas para Lindberg seria concorrer ao Senado .

No PV do Rio, existem ainda diferenças com o DEM, especialmente com o ex-prefeito da capital, Cesar Maia, que tem declarado apoio a Gabeira. A avaliação de políticos do PV é de que a eventual aliança com o ex-prefeito, que deve concorrer ao Senado, vai contra o discurso de renovação de Gabeira. Em 2008, Maia fechou com Gabeira no segundo turno, após a derrota da deputada federal Solange Amaral (DEM).

Dilma, Lina e os sapos de Bandeira

Elio Gaspari
DEU EM O GLOBO

A ministra Dilma Rousseff colheu o que plantou. Tinha mestrado pela Unicamp, mas não tinha. Disse a um grupo de empresários paulistas que o governo coletava despesas de Fernando Henrique Cardoso ao tempo em que estivera no Planalto e, semanas depois, convenceu-se que tudo não passava de um “banco de dados”.

Isso num governo em que não houve nada parecido com o mensalão, no qual José Sarney não é “uma pessoa comum”.

Agora a ministra está numa enrascada.

É a palavra dela contra a da exsecretária da Receita, Lina Vieira, bacharel em Direito pela Mackenzie de São Paulo, com 33 anos de serviço público. Durante os onze meses em que ela ficou no cargo, deixou uma frase inesquecível.

Referindo-se aos festins de parcelamento e perdão de dívidas de sonegadores, disse que “o bom contribuinte se sente um otário”.

Passado um mês de sua demissão, o governo ainda não ofereceu uma explicação que faça nexo e mereça respeito.

Numa entrevista aos repórteres Andreza Matais e Leonardo Souza, Lina Vieira disse que, no final do ano passado, a ministra Dilma perguntoulhe “se eu podia agilizar a fiscalização do filho do Sarney”. A então secretária entendeu que a ministra estava interessada em “encerrar” a investigação.

(Trata-se de uma blitz nas contas do Sarneystão, que já resultou 17 ações fiscais, atingindo 24 pessoas e empresas, entre elas Fernando Sarney, que já foi indiciado em inquérito da Polícia Federal. Não há notícia de que a Receita tenha lavrado alguma autuação como consequência dessa devassa.) Dilma Rousseff desmente: “Encontrei com a secretária da Receita várias vezes e com outras pessoas junto em grandes reuniões. Essa reunião privada a que ela se refere eu não tive.” Uma das duas está mentindo. Caso para os sapos de Manuel Bandeira: “Meu pai foi rei! – Foi!” “Não foi! Foi!” A denúncia da ex-secretária amparase numa insinuação. Admitindose que houve o encontro e, nele, o pedido, “agilizar” não significa “encerrar”. Tanto é assim que, em setembro de 2007, durante a administração do doutor Jorge Rachid, um juiz federal exigiu que a Receita apressasse seu trabalho. Como até hoje não se sabe por que Lina Vieira foi mandada embora, a insinuação merece o benefício da suspeita.

A ministra e a ex-secretária podem mostrar à choldra que farão um esforço para desmascarar a mentira.

Por enquanto, falta base material ao testemunho de Lina Vieira. Ela não lembra a data do encontro com Dilma Rousseff e acredita que poderá consultar suas agendas ao desencaixotar a mudança que mandou para o Rio Grande do Norte. Tomara que consiga, porque o registro de encontros como esse faz parte da boa prática da administração pública. Fica combinado que não se pode exigir de Dilma Rousseff a prova de que não se encontrou com Lina Vieira.

Pela narrativa da ex-secretária, a conversa aconteceu no Palácio do Planalto. Mesmo na hipótese absurda de não haver registro em qualquer das duas agendas, haverá pelo menos algum vídeo da chegada de Lina Vieira à Casa Civil. Ela conta que entrou pela garagem.

Novamente, deve haver registro. O encontro, pedido pela secretária-executiva (põe executiva nisso) Erenice Guerra, deveria ser “sigiloso”. Sigiloso é uma coisa, clandestino, bem outra.

Guerra de versões opõe Dilma e Lina

Paulo Francisco*
DEU EM O GLOBO

A ex-secretária da Receita Lina Vieira reafirmou ontem que teve encontro sigiloso com Dilma Rousseff, a pedido da ministra, sobre investigações do Fisco em empresas da família do senador Sarney.

Dilma voltou a negar o encontro e disse que Lina teria de provar.

Dilma e Lina: versões diferentes sobre encontro

Ministra nega e ex-secretária da Receita reafirma que houve reunião sigilosa sobre fiscalização em empresas de Sarney


NATAL. A ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, voltou a negar ontem, em visita a Mossoró, ter tido qualquer encontro reservado com a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira para tratar das investigações do Fisco sobre empresas da família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Para Dilma, Lina terá de provar o que disse: que as duas tiveram um encontro sigiloso, a pedido da ministra, e que esta teria pedido para agilizar as investigações, fazendo a então secretária da Receita entender que ela queria encerrar logo o caso.

— Há coisas que a gente não afirma, a gente prova — disse Dilma. — Eu não tive essa discussão com a secretária da Receita, Lina Vieira.

Em Natal, onde mora, a ex-secretária da Receita ontem reafirmou o encontro e disse não entender a posição da ministra de negar uma conversa que, segundo ela, aconteceu de fato: — Não vejo nada de mais uma ministra querer saber o andamento de uma investigação.

E contou que Erenice Guerra, a secretária executiva de Dilma, foi quem a chamou para conversar reservadamente com a ministra: — Ela (Erenice) não me antecipou o assunto. Estive com Dilma no seu gabinete e ela me pediu que agilizasse as investigações, mas não pediu nada além disso — disse Lina ontem.

A ex-secretária da Receita, que disse não se lembrar a data do encontro, afirmou que, depois do episódio, não voltou mais a conversar com Dilma sobre as investigações, que seguiram normalmente. Para Lina Vieira, o assunto com a ministra está encerrado e não tem mais nada a acrescentar.

A ex-secretária, demitida mês passado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, por fiscalização na Petrobras, disse que a sua política incomodou muita gente, mas que tem certeza que cumpriu sua missão na Receita, deixando-a com outra cara.

— Não preciso aparecer, não sou candidata a nada — afirmou Lina Viera.

Perguntada se a entrevista de Lina teria uma conotação política, Dilma respondeu: — Não vou fazer avaliação subjetiva quanto a interesses de ninguém.

Dilma sobe em trator para tirar fotos com políticas Dilma cumpriu ontem em Mossoró, a 270 km de Natal, o seu segundo dia de visitas ao estado para prestar conta dos investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Em ritmo de campanha, até subiu em trator de esteira para tirar fotos com a prefeita da cidade e a governadora. Como já tinha acontecido em Natal, na segundafeira, a agenda da ministra na prestação de contas do PAC em Mossoró contou com a presença de cerca de 20 prefeitos da região Oeste do estado.

No local da solenidade, até um cenário com trator foi montado à margem da BR-304, no bairro de Abolição II, para Dilma fazer fotos ao lado da governadora Wilma de Faria (PSB) e da prefeita Fafá (Maria de Fátima Rosado), do DEM.

Para mostrar que a obra teria início imediato, a ministra, usando um capacete de obras, subiu no trator. Como estava muito quente, cerca de 36o, Dilma não agüentou ficar muito tempo na cabine e desceu depois para saudar o público.

A ministra teve dificuldades para descer do trator e foi amparada pelo subchefe da secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Depois, ela foi levada pelos assessores para o ônibus, que seguiu com a comitiva para o aeroporto de Mossoró. A bordo de um jatinho do governo, Dilma deixou Mossoró por volta das 14h30m para retornar a Brasília.

Na prestação de contas do PAC, a ministra falou de Bolsa de Família, elogiou o presidente Lula por investir em saneamento básico e lembrou que foi no governo Lula que o Brasil se viu livre do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Marina já fala como candidata do PV

João Domingos, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Ela diz que risco de perder mandato no Senado se deixar o PT não a preocupa

A senadora Marina Silva (PT-AC) já fala como candidata do PV à Presidência. Embora não tenha dado a resposta definitiva ao convite dos verdes para disputar a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano que vem, suas declarações deixam claro que o PT, no qual milita há 30 anos, já é parte do passado. E seu plano agora é abraçar as novas utopias. "Estou com 50 anos e é isso que me leva a essa (nova) discussão. Nós precisamos ter novos mantenedores de sonhos e de utopias."

No Palácio do Planalto já é dada como certa a saída de Marina. Lula acha que a ex-ministra deixará mesmo o PT. Não pretende procurá-la, porque acha que pode ouvir um "não".

Desde que Marina deixou o Ministério do Meio Ambiente, em 13 de maio de 2008, os dois estão cada vez mais distantes. A presença de Marina numa cerimônia no Planalto, no ano passado, chegou a ser constrangedora, visto que ela não sorriu em resposta a nenhuma das brincadeiras feitas por Lula. E, nos últimos meses, a distância só aumentou.

Marina opôs-se à aprovação da medida provisória que regularizou terras da União ocupadas ilegalmente na Amazônia. Chegou a fazer um apelo ao presidente para que vetasse artigos tidos como prejudiciais à floresta, mas ele não a ouviu.

A senadora afirma que está vivendo um sério momento de reflexão e não teme nem mesmo uma punição partidária, como a possibilidade de o PT invocar a fidelidade partidária e lhe tomar o mandato, caso vá para o PV. "Meu mandato é uma honra tê-lo recebido do povo acreano. E eu o tenho honrado até hoje. Mas não será o medo da perda do mandato que me fará desistir de qualquer coisa que acredito ou defendo. Quando você fala de algo com a magnitude que estou fazendo, o cálculo político (da manutenção do mandato) apequena o debate."

Outro indicativo da disposição de Marina de mudar de partido está na resposta que deu à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, virtual candidata a presidente pelo PT. No sábado, Dilma fez um apelo para que Marina não saia do partido. "Fiquei sabendo que ela fez um apelo e, ao mesmo tempo, disse que me entende. Afinal, ela saiu do PDT para ir para o PT e sabe como é isso", respondeu Marina.

IMPACTO

A senadora teve momentos de conflito com a chefe da Casa Civil quando estava no governo. Ela defende uma política de desenvolvimento sustentável, enquanto Dilma, gerente do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), luta pelas obras.

O provável impacto da candidatura de Marina ainda está sendo analisado no governo. Mas já se acredita que será grande. Um dos raciocínios é que ela atrairá grande parte dos votos das classes A e B, normalmente as mais preocupadas com as questões ambientais, além dos formadores de opinião.

Como nem Lula nem Dilma têm uma bandeira que diga respeito às questões ambientais e ao desenvolvimento sustentável, Marina vai aparecer como contraponto aos dois, justamente num momento em que o mundo discute o aquecimento global e as mudanças climáticas.

Desde que recebeu oficialmente o convite do PV, no dia 29 passado, Marina tem procurado ouvir amigos, conselheiros e petistas. Ontem, recebeu o ex-senador José Eduardo Dutra, candidato à presidência do PT, que lhe fez um apelo para ficar. "O melhor dos mundos é Marina no PT. Mas, se ela sair candidata por outro partido, paciência, vamos ver se dá para fazer aliança no segundo turno", disse.

Marina motivou até carta aberta da bancada do PT no Senado, que pediu sua permanência no partido. Cheia de elogios, liga a trajetória de Marina à do PT. "Seu vínculo com o PT jamais se quebrará. Sempre será assim, esteja onde ela estiver. E, esteja onde ela estiver, terá nosso carinho, nossa admiração, nossa história comum."

Colaborou Denise Madueño

CALENDÁRIO ELEITORAL

Cronograma para as eleições 2010, de acordo com prazos aproximados estabelecidos pelo TSE

Abril

Prazo para que pré-candidatos deixem cargos públicos

Junho

Início das convenções partidárias

Julho

Propaganda eleitoral e comícios estão liberados

Agosto

Início da propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV

3 de outubro

1º turno das eleições

Gabeira se anima para disputa no Rio

Alexandre Rodrigues, Rio
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Deputado pretende reunir apoio de Marina e Serra no 1.º turno

O deputado Fernando Gabeira (PV) disse ontem que a possibilidade de a senadora Marina Silva trocar o PT pelo PV é favorável a seu projeto. "Pode ter impacto positivo na minha decisão, já que eu poderia ser candidato ao governo com dois palanques nacionais: Marina e Serra. No primeiro turno, eu apresentaria a Marina, mas não deixaria de afirmar que o Serra é uma boa opção, deixando o caminho aberto para desembarcar na candidatura dele no segundo turno", disse.

"E os dois candidatos me apoiariam, aumentando as chances da minha candidatura", destacou Gabeira. O PSDB, porém, vê com preocupação esse cenário, já que a divisão do palanque enfraqueceria o candidato tucano no Estado.

Gabeira insiste que a aliança regional continuaria viável com Marina. O deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), candidato a vice na chapa de Gabeira para prefeito em 2008, observa que, com o fim da verticalização, é possível a reunião dos partidos de oposição em torno do verde no Rio, dando-lhe tempo de TV e estrutura partidária. Beneficiaria Serra, mesmo com Marina.

Enquanto isso, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) se posiciona como alternativa. Espera Gabeira, mas indica que aceitaria liderar o palanque fluminense do candidato nacional tucano.

No grupo do governador Sérgio Cabral (PMDB), candidato à reeleição e principal cabo eleitoral da ministra Dilma Rousseff no Rio, a expectativa é de que uma candidatura de Marina pelo PV tire as últimas dúvidas de Gabeira para se decidir pelo Senado, eleição que as pesquisas mostram bem mais fácil do que a tarefa de bater Cabral. É também o caminho preferido dos dirigentes do PV do Rio. Gabeira, porém, refuta: "Essa é a interpretação que interessa ao Planalto."

Terceira via muda xadrez eleitoral

Julia Duailibi e Gustavo Uribe
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Marina, na avaliação de analistas e parlamentares, pode abalar caráter plebiscitário do embate entre PT e PSDB

A eventual entrada de Marina Silva (PT-AC), ex-ministra do Meio Ambiente, na disputa presidencial de 2010 pode acabar com o caráter plebiscitário da eleição dando origem a uma "terceira via", que certamente se beneficiará do desgaste da polarização entre PT e PSDB.

Na avaliação de analistas políticos e parlamentares, a candidata Marina tende a empurrar a eleição para o segundo turno, trazendo o "imponderável" para a disputa, em razão, principalmente, de três fatores: é uma novidade eleitoral; tem boa imagem num momento em que o País assiste às denúncias no Congresso; e defende uma bandeira palatável a setores da classe média, o meio ambiente.

Baseados na expressão "terceira via" - mas não no conceito desenvolvido pelo sociólogo inglês Anthony Giddens, que nos anos 90 pregou um caminho entre o neoliberalismo e a social-democracia excessivamente calcada do papel do Estado -, analistas veem mudança no xadrez político com Marina na disputa.

"Ela traz o imponderável para a disputa. O crescimento dela é imprevisível. Além disso, ela tira a ?plebiscitação? do pleito e joga, sem dúvida, a eleição para o segundo turno", avalia o senador José Agripino Maia (DEM-RN). A entrada de Marina na disputa também dá combustível aos entusiastas da candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência.

"Caminhar para uma eleição plebiscitária ficará mais difícil, e o quadro eleitoral será mais diverso. Há espaço para duas candidaturas que defendam o projeto do presidente Lula", declarou o líder do PSB na Câmara, Rodrigo Rollemberg (PSB-DF). Esse será o argumento usado pelos setores do PSB que são a favor da candidatura Ciro, na reunião de hoje com Lula.

TETO ELEITORAL

Para Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente, Marina "deve ser a alternativa para os descontentes com o governo Lula e com a oposição". Carismática e com a trajetória em prol do meio ambiente, a ex-ministra deve obter mais de 10% dos votos em primeiro turno, estima Dantas. Entre os parlamentares, as estimativas iniciais ficam abaixo de 10% dos votos, embora muitos evitem arriscar em razão do "elemento surpresa" da candidatura. Marina levaria os votos dos "órfãos" da ex-senadora Heloisa Helena (PSOL)", que pode concorrer ao Senado.

"Ela vai carregar uma bandeira importante e pouco recorrente no universo político brasileiro, o meio ambiente", disse José Paulo Martins, coordenador da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Marina provocará mudança no discurso de seus concorrentes - do lado tucano, os governadores José Serra (SP) ou Aécio Neves (MG), e do petista,a ministra Dilma Rousseff.

Para Carlos Melo, do Instituto de Ensino e Pesquisa, a senadora colocará em pauta um "tema pouco caro aos virtuais candidatos à Presidência Dilma e Serra". "Eles terão de tomar cuidado quando falarem sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e sobre o Rodoanel", destaca Melo.

PT tenta convencer Marina a desistir de candidatura pelo PV

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Candidato à presidência do PT, José Eduardo Dutra procurou ontem a senadora Marina Silva (PT-AC) para tentar dissuadi-la da candidatura à Presidência da República pelo PV.

Ele tenta evitar o que classificou de "desfalque" na legenda, mas especulou sobre o potencial de Marina na disputa: "Temos um cenário com mais candidatos e, se tiver segundo turno, vamos conversar", disse ao sair do gabinete da senadora.

"Mais ouvi do que falei", contou Marina sobre o encontro. Dutra não quis comentar as chances de Marina "implodir" a candidatura Dilma Rousseff, como avaliou o deputado Ciro Gomes (PSB). "Isso é superestimar", reagiu Marina sobre o impacto que poderia causar.

A senadora ainda não respondeu ao convite do PV, feito há 15 dias, mas demonstra entusiasmo com a mudança. Os candidatos têm até o início de outubro para mudar de partido.

Sobre a defesa de Dilma de sua permanência no PT, Marina disse: "É uma pessoa que lutou pela democracia e tem experiência de trocar de partido, deu a entender que compreende".

Ontem, a bancada do PT divulgou uma nota pedindo que a senadora "permaneça no partido, sua casa política, e prossiga nessa trajetória coletiva que já conquistou tanto, mas que tem tanto ainda para conquistar".

Entidades enviam carta a Lula por causa de censura

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A Associação Mundial de Jornais e o Fórum Mundial de Editores escreveram carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, para protestar contra a proibição judicial imposta ao jornal "O Estado de S. Paulo" em relação a investigação da Polícia Federal que envolve Fernando Sarney.

O texto, assinado pelo presidente da associação (WAN, em inglês), Gavin O"Reilly, e do fórum (WEF, em inglês), Xavier Vidal-Folch, ressalta "profunda preocupação". As entidades lembram que "a medida judicial de proibir as reportagens se constitui um caso de censura prévia e é uma clara violação do direito de livre expressão".

As duas entidades representam 18 mil publicações, 15 mil sites e mais de 3.000 companhias em 120 países.

Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), é investigado na Operação Boi Barrica (rebatizada de Faktor), da PF, que corre sob segredo de Justiça. A proibição foi determinada pelo desembargador Dácio Vieira, do Tribunal de Justiça no Distrito Federal, no dia 31.

Fernando foi indiciado por formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Ele nega as acusações.

As entidades pedem que Lula e Mendes façam "tudo o que estiver ao alcance" para a decisão ser anulada e que "seja permitido à imprensa publicar livremente reportagens sobre os assuntos de interesse público".

Lula não se manifestou. Na última semana, Mendes afirmou que não é possível dizer que há censura na decisão, por se tratar de um ato monocrático do juiz ao qual cabe recurso.

MST invade ministério e acusa Lula de traição

Eduardo Scolese
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Sem-terra de 24 Estados pedem o assentamento de 90 mil famílias acampadas e mais recursos para a reforma agrária

Movimento também faz protesto diante de prédios públicos em 13 Estados contra o corte de verbas para os assentamentos


Insatisfeitos com a política de reforma agrária do governo federal, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra invadiram, ontem pela manhã, o Ministério da Fazenda e, pela primeira vez, chamaram o presidente Lula de "traidor".

Para que saíssem, exigiram o agendamento de uma reunião com ministros, o que conseguiram após oito horas e meia. Às 17h45, os sem-terra deixaram o prédio após telefonema do ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral), que confirmou encontro com o MST hoje à tarde.

O MST chegou anteontem a Brasília para sua última grande manifestação na gestão petista -avalia-se que não haverá espaço para isso em ano eleitoral.

Sem-terra de 24 Estados ergueram um acampamento para reivindicar mais recursos para a reforma agrária, atualização dos índices de produtividade de áreas passíveis de desapropriação e o assentamento, neste ano, das 90 mil famílias acampadas do movimento.

A entrada no saguão do ministério ocorreu às 9h10, no momento em que uma marcha com cerca de 5.000 pessoas, segundo a PM, percorria a Esplanada dos Ministérios.

Não houve confronto. Seguranças da Fazenda e policiais militares conseguiram evitar que os sem-terra tivessem acesso aos elevadores e escadas. Dentro do hall, ficaram cerca de 200 sem-terra. Os demais, do lado de fora. Eles entravam e saíam livremente.

"Ô Lula, seu traidor, manda polícia pra bater em trabalhador"; "Lula, a culpa é tua, o povo está na rua; e "Lula, lá, o que aconteceu? Cadê a reforma agrária que você nos prometeu?", gritaram os sem-terra.

"Isso [ataques a Lula] é uma demonstração da [nossa] insatisfação. Por isso é quase que uma obrigação elevarmos o tom para ver o que acontece", disse Marina dos Santos, da coordenação nacional do MST.

Houve ainda manifestações contrárias ao apoio de Lula ao senador José Sarney (PMDB-AP). Numa porta do ministério, um sem-terra escreveu: "Lula, você é o culpado de manter o Sarney no poder". Do carro de som, Sarney e Renan Calheiros foram chamados de "moleque", "safado", "bandido" e "ladrão".

A polícia não precisou cumprir a ordem judicial de reintegração de posse do prédio. O ministro Guido Mantega (Fazenda) não trabalhou no ministério: ao saber da ação, seguiu direto para a sede provisória do Executivo no Centro Cultural Banco do Brasil.

Além da passeata e da invasão no Distrito Federal, militantes do MST e da Via Campesina fizeram ontem protestos em 13 Estados contra o corte de verbas para assentamentos. Foram invadidas as sedes regionais do Ministério da Fazenda (em Mato Grosso, Pará e Paraná) e do Incra (em Pernambuco, Bahia e Ceará).

No Pará, cerca de 800 trabalhadores chegaram anteontem a Belém após sete dias de marcha e invadiram o Incra. Ontem, o grupo invadiu o Ministério da Fazenda em Belém.

Em Curitiba, cerca de 400 sem-terra também invadiram a sede regional do ministério e outros cem fizeram ações em frente ao prédio do Incra.

Em Porto Alegre a entrada da Receita foi bloqueada por cerca de mil manifestantes. Em Cuiabá, cerca de 1.200 sem-terra invadiram o prédio da Receita.

Sem-terra invadiram as sedes do Incra em Petrolina (PE), Salvador e Fortaleza. No Ceará, os protestos reuniram 1.500 pessoas em seis municípios. Houve ainda atos em frente aos prédios da Fazenda em São Paulo, Rio, Florianópolis e Maceió, e do Incra em Boa Vista.

Colaborou a Agência Folha

Balanço das horas

Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO

Tem havido nos últimos tempos mais notícias boas que ruins, aqui e no exterior. Tanto nos balanços das empresas negociadas no mercado de capitais quanto nos indicadores dos países. Alguns dados ainda assustam, como a queda do PIB russo de 10% no segundo trimestre, ou a redução das exportações chinesas em 23% em julho. Mesmo assim, o balanço dos balanços das empresas é positivo.

As empresas se afastaram do precipício. Os resultados dos balanços do 2otrimestre, tanto aqui quanto lá fora, estão surpreendendo. No Brasil, quem ganhou incentivo do governo teve mais chance, mas a crise aqui foi muito menos rigorosa. Quem depende do comércio externo continua sofrendo porque o país está com queda superior a 30% nas exportações.

Desde o início da recessão, quase sete milhões de vagas foram fechadas nos EUA. É contraditório, mas os especialistas dizem que foi esse ajuste no mercado de trabalho que permitiu uma recuperação mais rápida da economia. As empresas estão reduzindo custos e isso já se reflete nos balanços. Houve redução da mão de obra, mas com ganho de eficiência por hora de trabalho. A produtividade disparou 6,8% no 2otri, numa taxa anualizada, enquanto o custo unitário do trabalho caiu 5,8%.

Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, as empresas americanas se ajustaram rapidamente ao novo cenário por causa da flexibilidade da economia do país: — Os resultados foram surpreendentes, com praticamente todos os setores divulgando números melhores que o esperado. As demissões são um efeito colateral da crise, mas foi isso que salvou as empresas. Elas aprenderam a ficar mais eficientes e reduziram custos.

Álvaro Bandeira, economistachefe da Ágora Corretora, acredita que parte dessa surpresa boa nos balanços acontece porque as previsões foram feitas no auge da crise, então muito projeção foi carregada para pior. Aqui no Brasil, que ainda aguarda o balanço de empresas grandes, como a Petrobras, tem havido também surpresas positivas.

De acordo com levantamento feito pela Gap Asset, comparando o resultado das empresas com o que a corretora projetava, caiu o percentual de balanços que decepcionaram. No 4otri de 2008, esse número foi de 36%. No 1º tri, de 34%. Até agora, no 2º tri, 28% dos resultados vieram piores.

— O número de surpresas negativas está diminuindo — afirmou Ivan Guetta, gestor de renda variável da GAP.

Para a analista Mônica Araújo, da Ativa Corretora, os resultados das empresas brasileiras têm uma razão a mais para serem positivos: — O Brasil não estava no centro da crise, então acabou sendo bem avaliado pelos investidores. Além disso, o Banco Central reduziu juros, houve aumento de liquidez e políticas anticíclias.

Tudo isso contribuiu para que os resultados viessem melhores — explicou.

Bom é relativo. Em várias empresas o que está sendo comemorado é a saída do bode da sala: a expectativa era tão ruim, as quedas das ações foram tão fortes no ano passado, que qualquer resultado parece positivo.

Já as empresas de varejo, ligadas ao mercado interno, tiveram melhora de resultados mesmo. A renda das famílias foi pouco afetada pela crise e além disso o mercado de trabalho não piorou tanto. A B2W teve uma receita líquida de R$ 873 milhões no 2otrimestre, com crescimento de 20,9% em relação ao mesmo período de 2008. A controladora das Lojas Americanas teve um aumento de receita maior, de 35,7%. Ambas foram ajudadas pela redução de IPI nos produtos da linha branca. Na bolsa brasileira, as empresas de varejo acumulam alta de 75,6% este ano.

Efeito semelhante aconteceu com empresas ligadas à construção civil, que foram beneficiadas pelos incentivos do governo para o segmento de baixa renda. A Gafisa, que comprou a construtora Tenda, teve aumento na receita de 53% em relação a 2008.

As empresas produtoras de commodities tiveram desempenho pior: os setores de siderurgia e mineração sofreram pela baixa demanda externa e a revalorização do câmbio. A CSN sofreu queda de 30% na receita líquida em relação a 2008. A Gerdau teve queda maior, de 42,3%. A Aracruz, de papel e celulose, teve redução de 12%. A Vale sofreu um tombo de 41% na receita líquida do 2º trimestre.

Mônica acredita que os números do segundo semestre serão melhores porque a base de comparação do ano passado ficará mais fraca, já que a crise se agravou em meados de setembro, com a quebra do banco americano Lehman Brothers.

A demanda por crédito no Brasil voltou a crescer e o crédito direto à pessoa física, que mais sofreu no pior da crise, deve terminar o ano com alta de 11% (veja nota no blog www.miriamleitao.com). Esse resultado é menor do que nos anos anteriores, em que o crédito cresceu a taxas superiores a 20% ao ano. Há indícios de que o fenômeno da antecipação de consumo produzido pela queda do IPI deixou de fazer efeito. Lá fora, ainda há vários sinais preocupantes.

O PIB da Rússia que crescia a 7% deve terminar o ano com menos 8%. A China está se segurando pelo mercado interno. A crise não acabou, mas onze meses depois da queda do Lehman a situação está inegavelmente melhor

Com Alvaro Gribel