sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Lula subjuga o PT

Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


O presidente Lula dizer que não vê crise no PT, se não for um achincalhe, pode parecer esperteza política, mas trata-se apenas da expressão de seu egoísmo ímpar. O projeto político do presidente há muito tempo deixou de ter — se é que já teve algum dia — um horizonte mais amplo do que a simples manutenção do poder. A senadora Marina Silva, ao dizer que abandonava 30 anos de militância petista em busca de uma utopia que o partido já não sustenta, estava dizendo, em outras palavras, o que o atual governador de São Paulo, e provável candidato tucano à Presidência em 2010, José Serra, constatou no início do governo: os petistas, na sua definição, eram bolcheviques sem utopias, cujo objetivo era o poder pelo poder

Foi o presidente do PT, Ricardo Berzoini, cara e jeito de burocrata stalinista, quem decretou o fim de uma tímida revolução de veludo na bancada petista do Senado, cuja maioria pretendia abrir processo contra o presidente do Senado, José Sarney, para manter pelo menos as aparências.

Mas o que menos importa a Lula são as aparências, escudado em sua popularidade excepcional, que parece blindada contra tudo. (Até quando?) Para levar adiante o projeto político pessoal de fazer seu sucessor — até o momento uma sucessora, na verdade — ele não mede esforços nem palavras. Desmoraliza os políticos de maneira geral, e os do PT com especial crueldade, e distorce a história política, a do país e a própria.

Como no momento o que importa é garantir o apoio do PMDB à candidatura de Dilma Rousseff, — leia-se minutos de propaganda eleitoral no rádio e TV —, ele mistura alhos com bugalhos e refaz a própria história do PT, comparando Sarney e Collor a Getulio e Jânio Quadros, todos vítimas, na peculiar visão lulista, de movimentos impensados da opinião pública, exacerbada pela mídia e por seus adversários.

Como se não tivesse sido um dos líderes do movimento que derrubou Collor do poder, aliado a Sarney, cuja filha Roseana chegou a ser definida como “a musa do impeachment”.

Crise após crise, Lula vai refazendo seus conceitos, abrindo mão de símbolos petistas para se aliar a símbolos da política que prometia combater ao chegar ao poder. O senador Flávio Arns, que está de partida do PT envergonhado do caminho que o partido vem tomando, é um remanescente dos grupos ligados às Comunidades Eclesiais de Base (CEBS), um dos pilares da fundação do PT.

Quando pensou em fundar um partido social-democrata, Fernando Henrique e outros políticos dissidentes do PMDB, à falta de uma base operária que é característica da social-democracia, procuraram Frei Beto para propor a organização partidária a partir das bases desses movimentos católicos.

Esses movimentos uniram-se afinal aos sindicalistas de São Bernardo para fundar o Partido dos Trabalhadores.

A revolta do senador Flávio Arns, sobrinho de Zilda Arns e de D. Paulo Evaristo, arcebispo de São Paulo, uma tradicional família ligada à Igreja Católica e aos movimentos sociais de ajuda aos necessitados, — ele se dedica especialmente aos deficientes físicos — deve ter ecoado mais fundo em certos setores petistas do que até mesmo a desistência de Marina.

A senadora sai, afinal, com um projeto eleitoral que pode levá-la à Presidência da República e à realização de sua utopia verde.

Os próprios petistas já tratam de desqualificar seu gesto, atribuindo-o a uma suposta manobra do PSDB, mais especificamente do governador José Serra, a quem se atribui uma influência política muito maior do que a que ele realmente tem.

Já se fala em Marina para vice numa eventual chapa com Serra, numa coligação antes mesmo do primeiro turno, o que considero completamente sem sentido.

Se há alguma vantagem para os tucanos na presença de Marina na corrida sucessória é justamente a de quebrar o caráter plebiscitário da disputa, que o presidente Lula gostaria que acontecesse.

Trazer a senadora Marina Silva para dentro da chapa dos tucanos, além de reduzir seu gesto a uma manobra eleitoral, levaria novamente a disputa para a dupla PT/PSDB.

E Marina não parece desses políticos que abrem mão de suas utopias por meras jogadas políticas.

Já Flávio Arns deixa o partido em protesto contra a falta de ética de suas ações políticas, o que tem peso nesses setores ligados à Igreja Católica que não acompanharam os companheiros que se desligaram anteriormente ou do governo, como Frei Beto e Oded Grajew, ou para formar o PSOL.

Boa parte desses, como o deputado federal Chico Alencar, também ligada aos movimentos católicos da esquerda.

A tentativa de Lula de desqualificar seu gesto, chamando-o de “senador de primeiro mandato” e dizendo que ele sempre foi “encrencado” com o PT, só mostra o vezo autoritário de Lula, que não aceita discutir divergências no partido que comanda com mão de ferro.

O senador Aloizio Mercadante, que acabou compreendendo que já não era o líder de fato da bancada e que ao Palácio do Planalto agradaria sua saída efetiva do cargo, diz que vai continuar lutando dentro do partido para mudar os seus rumos, mas não parece ter o apoio nem o ânimo necessários a uma tarefa dessa envergadura.

Mais preocupado com sua reeleição para o Senado, que corre um sério risco de ser sabotada, primeiro dentro do próprio PT, e, se vingar, também pelos eleitores, Mercadante tende a ser engolido nesse turbilhão que engolfou o PT a pouco mais de um ano das eleições gerais.

Lula trata seus companheiros petistas com a prepotência dos autocratas: só quem segue fielmente seu comando, pode contar com as benesses que ele distribui com seu poder e sua popularidade.

Do orgulho à vergonha

Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Durante a campanha eleitoral de 1989, esta Folha recebeu em almoço todos os principais candidatos. Menos, salvo erro de memória, Fernando Collor, no que se revelaria uma profilática premonição do jornal.

Quando já terminava o almoço com Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato do PT pousou o braço sobre os ombros de Octavio Frias de Oliveira, o "publisher", morto em 2007, e disse:

"Frias, você ainda vai se orgulhar desse petezinho", como se o anfitrião fosse PT desde criancinha. Não era, claro, mas nunca escondeu seu respeito pelo que considerava padrão ético do partido.

Vinte anos depois, a profecia de Lula revela-se tão falsa como era equivocada a crença do "publisher" desta Folha. Hoje, até um petista como o senador Flávio Arns diz sentir "vergonha", não orgulho, desse "petezinho".

Aliás, "petezinho" é expressão adequada, pelo nanismo ético e moral de sua camada dirigente, que deve ter contaminado boa parte da militância, talvez toda ela, a julgar pelo silêncio ensurdecedor a respeito do espetáculo de pouca vergonha que marca o PT. De quebra, ainda há o nanismo intelectual dos acadêmicos petistas, incapazes de abrir a boca, embora um deles tenha escrito, na esteira do "mensalão", que não mais admitiria nem sequer o sumiço de um alfinete do Palácio do Planalto.

Nada disso, no entanto, surpreende. Os intelectuais petistas se masturbaram com a debiloide teoria da conspiração para explicar os pecados do partido, mesmo ante a contundente evidência de que a única conspiração era a dos fatos. O que na verdade surpreende é a surpresa do senador Arns. Deveria ter sentido "vergonha" quando a direção do seu PT foi chamada de "organização criminosa" pelo então procurador-geral da República. Tudo o que veio depois é até café com leite.

Lula engole o PT

Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - OK, o PT "continua forte", como diz Lula, mas é preciso definir o que é ser "forte". O PMDB, por exemplo, é fortíssimo. Tem o maior número de governadores, prefeitos, senadores, deputados e vereadores. É isso que o PT quer?

Virar um PMDB? Sua verdadeira força sempre foi outra. E faz falta. Os fins justificam os meios.
Antes, valia tudo pela causa. Hoje, vale tudo pelo poder. Ao jogar fora os escrúpulos de consciência (como faziam ministros civis na ditadura) para garantir o apoio do PMDB a Dilma Rousseff, Lula pode ter não apenas humilhado e rachado o PT no Senado mas conseguido o inverso do que queria.

Senão, vejamos: Lula agarrou-se a Collor, a Renan, a Jucá, desprezou o passado, sacrificou a bandeira mais cara do PT, dividiu a bancada, enlouqueceu o líder Mercadante, empurrou Marina Silva para a campanha presidencial e levou Flávio Arns a gritar que tinha "vergonha" do partido.
E salvou Sarney.

Isso enfraquece a alma do PT, mas não fortalece a aliança com o PMDB para 2010. O apoio a Dilma não depende de Sarney estar ou não na presidência do Senado, depende da força e da capacidade de vitória que ela demonstrar.

E qual foi o resultado de toda a operação de Lula pró Sarney? Desde que lançada ao vento, a candidatura Dilma nunca esteve tão fragilizada, cheia de interrogações e pressionada. O que seria uma polarização Dilma-Serra, como operava Lula, virou uma campanha sortida, com Marina empunhando a bandeira do desenvolvimento sustentável e Ciro Gomes com os mesmos índices de Dilma nas pesquisas.

A esta altura, o PMDB está menos preocupado com Sarney e mais com o que acontece, ou vai acontecer, com as chances de Dilma. Ou seja: Lula e o PT pagam um alto preço por tirar o pescoço de Sarney da guilhotina, mas podem ter afastado, em vez de ter atraído, o apoio do "forte" PMDB. Que fica com Dilma se for para ganhar e pula fora se for para perder.

Simples assim.

A paz dos cemitérios

Fernando Gabeira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


RIO DE JANEIRO - O verbo normalizar, usado por Sarney para descrever o que acontece no Senado, é muito significativo. Todos esperavam por outro verbo: moralizar. A normalização para um senador que deixa seu partido porque a bandeira da ética foi jogada na lata de lixo representa o horror que precisa ser enfrentado, inclusive com o risco de perder o mandato.

Numa hora dessas, é possível pensar em duas direções: a eleitoral e a outra, do interesse do país. Na primeira, a instituição putrefata vai exalar seu horrível fedor sobre as forças que mantiveram Sarney. O preço ainda será pago.

Mas, para o interesse nacional, era preciso resolver a situação rapidamente, sem considerar as eleições. Num movimento interno, isso não foi possível.

Sempre disse que não bastava a opinião pública e a pressão da imprensa. É preciso fazer algo articulado, no interior do próprio Senado.

Desde menino também, quando lutava contra o aumento do preço dos bondes, constatei que, infelizmente, um argumento apressa todos os processos: o cheiro de fumaça.

É o tipo do argumento que hoje em dia combato. É preciso algo não violento. E creio que a resistência pacífica deveria ser reservada para todos os senadores que se apresentarem na campanha de 2010. Nem todos tiveram o mesmo comportamento. Mas todos terão de explicar o que fizeram durante essa crise.

Os estrategistas convencionais acham que tudo voltará ao normal, que as pessoas vão esquecer. Não percebem que o mau cheiro vai envolver também sua campanha presidencial. Estão sentados em cima de um cadáver, uma instituição morta, com um Conselho de Ética dominado por cafajestes.

Mesmo sem cheiro de fumaça, tão eficaz no passado, o país achará uma forma de punir os coveiros da credibilidade política.

Para onde vai o voto lulécio

Maria Cristina Fernandes
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Quem tem por ofício fazer prognósticos eleitorais a 14 meses da disputa, coloca Minas Gerais como a maior incógnita de 2010. Uma eleição nunca é igual a outra, mas o comportamento eleitoral, visto pelo retrovisor, é, a esta altura dos acontecimentos, mais útil do que pesquisas de intenção de voto incensadas pelos interesses de ocasião.

A lupa sobre essa geografia do voto dá, em grande parte, razão ao peso do eleitorado mineiro. A ver: São Paulo tem 29 milhões de eleitores. O Nordeste, seis milhões a mais. No primeiro turno de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou com um pouco mais de um terço dos votos paulistas, enquanto no Nordeste colheu 66% dos votos. É lá que o lulismo espera continuar recuperando a desvantagem imposta por São Paulo.

Lula comeu poeira no Sul, mas respirou no Rio. A provável candidatura Fernando Gabeira tende a reforçar a oposição fluminense, ainda que a derrota do PT no Estado tenha acontecido uma única única vez, na avalanche do Real, em 1994.

Se a entrada da senadora Marina Silva (AC- sem partido), afeta todos os prognósticos, o faz mais marcadamente no Norte e Centro-Oeste, pelo peso do duelo ruralistas x ambientalistas nessas regiões, que têm exatamente o mesmo peso eleitoral e motivações que se confrontam.

Resta Minas, um eleitorado de 14 milhões, o segundo maior do país, com uma fatia de 10% do total. Lula ganhou no Estado tanto em 2002 quanto em 2006. Nesses mesmos anos, o governador Aécio Neves foi eleito e reeleito em primeiro turno com acachapantes votações. Esta será a primeira eleição em que o poder de transferência de votos de ambos será testado, considerando como tal o poder do ocupante de um cargo fazer seu sucessor.

O interesse do governador tucano em manter boas relações com o petismo presidencial é parte da explicação do voto lulécio - Lula presidente, Aécio governador - que prevaleceu nas duas últimas eleições.

Foi na esteira desse voto que o governador e o ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT) aproximaram-se. Essa parceria, que culminou com a eleição, ainda que apertada, do prefeito da capital, Márcio Lacerda (PSB), tinha data marcada para acabar ou, pelo menos, para não ter mais uma versão ao vivo e em cores, como nas eleições de 2008.

A questão agora é saber para onde vai o voto lulécio. Oito entre dez mineiros, segundo pesquisa que circula no Palácio da Liberdade, continuam achando que Aécio será candidato a presidente. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais, o cientista político Carlos Ranulfo, diz que essa crença só seria prejudicial ao governador José Serra, se Aécio viesse a passar a imagem de preterido. Com um acordo, aposta, esse sentimento de mineiridade traída tende a se dissipar, o que não significa que venha a cair, necessariamente, no colo de Serra.

O voto lulécio não está dissociado da eleição estadual. Ao contrário de Lula, que investe num plebiscito, Aécio quer pulverizar a disputa. Seu candidato, o vice-governador Antonio Anastasia, assim como Dilma, nunca foi testado nas urnas. Pode crescer, ainda que, em Minas, poucos apostem que Aécio, por causa de seu candidato, vá entrar em bate boca público com funcionário demitido.

Aécio estimula o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), a sair candidato, e ainda filiou o ex-presidente Itamar Franco no PPS como alternativa caso seus planos A e B fracassem.

O ministro larga na frente, como sói acontecer nas majoritárias que já disputou. Nas duas outras vezes, contra Eduardo Azeredo e Hélio Garcia, perdeu fôlego no final.

Resta o PT de Pimentel e Patrus Ananias, o ministro do Bolsa Família. O confronto se dará na disputa pela presidência estadual do partido em novembro. Pimentel, que tem um desempenho melhor nas pesquisas, costura por baixo com os candidatos proporcionais do PMDB, a quem interessa antes compor com uma coligação com o PT que bancar Hélio Costa.

Pimentel, que acompanhou Dilma Rousseff nas semanas em que a ministra esteve em tratamento em São Paulo, joga duro para fazer a maioria dos delegados eleitores da direção do PT estadual, que acontecerá em novembro e fará as vezes de uma prévia. Patrus tem sido incitado à disputa, mas não costuma entrar em bola dividida.

Lula e Aécio caminham para o fim de seus mandatos com patamares de popularidade igualmente estratosféricos em Minas. Nas eleições anteriores, nem Lula forçou a mão para eleger um petista governador nem Aécio comprou briga pelos candidatos tucanos à Presidência. A disputa de 2010 marca o fim da trégua. O que não significa, em se tratando de Minas Gerais, que venha por aí uma guerra.

Sobre a falta de decoro

A saída da senadora Marina Silva no mesmo dia em que o PT ajudou a sepultar as denúncias no Conselho de Ética é saudada ora como símbolo da esperteza da virtual candidata à Presidência da República ora como sinal dos descaminhos do partido governista. A probabilidade de as duas contingências estarem corretas não inibe a especulação de uma terceira: o arquivamento das denúncias, contra os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Arthur Virgílio (PSDB-AM) acontece no mesmo momento em que a oposição consegue consagrar, na primeira página dos jornais, a estampa da ex-detentora de um dos cargos mais sujeitos a pressões da capital federal, a contestar a palavra da ministra mais importante da República.

O Palácio do Planalto precipitou-se em negar um encontro na ilusão de que a política se move pela lei do ônus da prova. A ex-secretária da Receita Lina Viera foi clara: não foi sua a iniciativa de informar o encontro com Dilma Rousseff, apenas confirmou sua existência ao ser questionada. O encontro foi o achado de uma oposição ameaçada pela pira que, acesa para assar um leitão, já ameaçava a pocilga inteira. O teor da conversa, como ficou claro pelo depoimento, é o que menos importa. Trata-se agora de colar na candidata do presidente a pecha de mentirosa. Como a absolvição de Sarney e Virgílio bem mostrou, não é pelo decoro que Brasília se move.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

Crise? Que crise?

Paulo Francisco, Ipanguaçu (RN)
DEU EM O GLOBO

Lula minimiza saída de senadores do PT e diz que o partido "continua forte"

Um dia depois de o PT perder dois senadores — a ex-ministra Marina Silva e Flávio Arns — e ajudar a enterrar qualquer possibilidade de investigar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou ontem as perdas da bancada petista, negou que haja crise no PT e disse que os insatisfeitos podem deixar o partido.

— Não vejo crise no PT. O PT continua forte, com muitas possibilidades — disse, em entrevistas a rádios do Rio Grande do Norte, onde inaugurou uma escola técnica.

Lula elogiou Marina Silva e lembrou que ela deixou o Ministério do Meio Ambiente porque quis: — Se a pessoa quer sair de um partido, não está confortável, é um direito da pessoa. Se ela quis fazer uma opção e não me procurou para conversar é porque ela estava com a opção feita. Acho que, da mesma forma que veio para o PT, ela pode sair do PT .

Lula afirmou ainda que sua relação com a ex-ministra é superior à relação partidária: — Minha relação com a Marina não muda absolutamente nada, eu continuo gostando dela, achando (que ela é) um quadro extraordinário.

Já sobre a decisão do senador Flávio Arns, do Paraná, de deixar o partido, após a ordem do próprio Lula para a bancada no Senado salvar Sarney, afirmou: — O Flávio Arns é um senador de primeiro mandato, é um companheiro que tem seus valores, mas sempre foi muito encrencado com o PT. Bom, se quiser sair, também... Quem entra, sai.

Mas o PT continua forte e continua com muitas possibilidades Arns disse que deixará o PT por entender que a legenda abandonou suas bandeiras da ética ao apoiar o arquivamento de denúncias contra Sarney.

“Pior que doença que não tem cura”

Ao inaugurar uma escola técnica em Ipanguaçu, no Rio Grande do Norte, Lula discursou e criticou a oposição, quando falava dos que dizem que o governo não faz investimentos num ou outro lugar porque o prefeito não é do PT ou amigo do Lula.

— Na verdade, uma oposição, quando não tem argumentos para fazer oposição, é pior que doença que não tem cura. É pior — afirmou o presidente, no discurso.

Muito à vontade perante uma plateia de estudantes e moradores de Ipanguaçu, Lula disse que está numa fase de sua vida que “enquanto os cães ladram, a caravana passa e eu tenho que governar este país”.

Segundo Lula, o dia de ontem era de muito orgulho para ele porque estava podendo oferecer para os filhos do país aquilo que a sua geração não pôde ter.

— Acho que eu e Zé Alencar somos na história do mundo o primeiro presidente e o vice que não têm diploma universitário — disse o presidente, lembrando que o vice tinha saído de casa aos 14 anos como um menino pobre e virou um dos maiores empresários do país.

— Saí de Garanhuns, virei sindicalista e um belo dia o sindicalista se encontra com o grande empresário e a gente forma uma dupla e ganha a eleições.

Zé Alencar, como eu, não teve o direito de estudar. Mas exatamente por isso é que a gente tem um compromisso, que é a educação.

O presidente encerrou seu discurso afirmando que, se a juventude brasileira não participar, o país vai ter pouca chance de renovar a política brasileira.

— Portanto, presta atenção, que no ano que vem já tem eleições. É hora de fazer valer a consciência de cada homem, de cada mulher e de cada jovem deste país.

O que Lula dizia

Na Era Sarney

“Se não formos para a rua, a direita é que vai. (...) A continuar como está, e se o governo prosseguir cometendo erros, o que vai sobrar para o Sarney é ser maquinista da Ferrovia Norte-Sul que ele está tentando construir. É preciso tirar, em primeiro lugar, o presidente Sarney, porque ele está fazendo papel de rainha da Inglaterra; é preciso tirar, em seguida, o Ulysses Guimarães, que está fazendo papel da primeira-ministra Margareth Tatcher”. (Em outubro de 1987, convocando o PT para ir às ruas e derrubar Sarney e Ulysses).

“A classe trabalhadora está cansada de ser manipulada e não vai mais aceitar essa pouca vergonha. (O governo Sarney) é mentiroso e não tem legitimidade” (Julho de 1985, referindo-se a Sarney como “presidentezinho”, criticando o então presidente por declarações contra a participação do PT num confronto com a PM)

Na Era Collor

“Com 45 dias de governo, o Collor ainda está vivendo muito mais um momento carnavalesco do que efetivamente governando o país.” (Em 1990, sobre os primeiros dias do governo Collor) “Tem muito bandido que cerca o Collor.

As informações que a gente tem são as mais absurdas possíveis. Eu penso que ele pode usar qualquer instrumento porque ele é imoral do ponto de vista político.” (Abril de 1990) “Se a CPI (do PC) criou a CUG (Central Única de Golpistas), o governo Collor instalou a CUC (Central Única da Corrupção)” (Em julho de 1992, acusando o governo Collor)

Na Era Itamar

“O Itamar é um filho da puta. Todo mundo sabe que o ministro da Fazenda, Eliseu Resende, é um canalha que tem compromissos com empreiteiras. Ele (Itamar) recebeu o mandato de presente, não precisou fazer acordos com ninguém”.

(Em maio de 93, comentando o suposto favorecimento de Eliseu à empreiteira Norberto Odebrecht) “Se ele (Itamar) tocar no assunto (o palavrão), vou explicar que não houve a menor intenção de ofendê-lo, embora ele tenha todo o direito de ter-se ofendido, vendo a coisa como foi mostrada”.

(Em maio de 1993, explicando que fez as declarações sobre Itamar em conversa informal com jornalistas) “De todos os deputados do Congresso Nacional, há pelo menos 300 picaretas.

E eles foram eleitos, não caíram lá de pára-quedas. São políticos que põem seus interesses acima de suas obrigações com a comunidade”. (Em setembro de 1993, então pré-candidato do PT à Presidência da República)

Na Era FH

“Este plano me cheira a estelionato eleitoral. Funcionará a curto prazo e, depois, seja o que Deus quiser. Ele apenas vai congelar o estado de pobreza e essa foi a grande sacada de Fernando Henrique”.

(Em junho de 94, na campanha presidencial, criticando o Plano Real) “O papel do governo não é chorar.

Quem chora é a oposição. O governo tem de governar.” (Em julho de 1994) “É inacreditável a semelhança de comportamento entre o Fernando dois e o Fernando um. É o mesmo discurso, são as mesmas alianças, as mesmas pessoas no palanque.” (1994) “Se FH tiver medo de uma CPI estará passando para a sociedade a idéia de uma certa conivência”. (Em março de 1996, sobre a CPI dos Precatórios) “Quando precisou comprar votos para aprovar a reeleição, o presidente comprou. Mas quando foi para aprovar reformas que pudessem significar alguma coisa para o social, ele não quis.” (Setembro de 1998) “Se está livre de testemunhar perante o Senado e sob os holofotes da CPI, Chico Lopes acaba condenado de vez perante a opinião pública. Se ele não quer falar, é porque tem o que esconder.” (Em abril de 1999, durante a crise da desvalorização do Real).

Marina diz que governo Lula é insensível a causas sociais

Pedro Paulo Blanco
DEU EM O GLOBO

Um dia após deixar o PT, a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva elevou o tom das críticas ao governo Lula. "Este é um governo insensível a causas sociais", afirmou. Segundo ela, não havia mais sentido em ficar no PT para convencer o partido da importância da causa ambiental. O presidente Lula minimizou a crise e a saída de dois senadores além de Marina, o paranaense Flávio Arns deixou o partido. "O PT continua forte", disse Lula, que elogiou Marina, mas disse que Arns é "muito encrencado com o PT”. Durante Inauguração de escola, no Rio Grande do Norte, criticou a oposição:
"Uma oposição que não tem argumentos é pior que doença que não tem cura”.


Marina: governo Lula é insensível a causas sociais

Em encontro sobre meio ambiente um dia após deixar o PT, senadora critica gestão dos ex-companheiros

BELÉM. Um dia após deixar o PT, a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva elevou o tom das críticas ao governo Lula e disse que o Planalto é insensível a causas sociais.

Ao falar sobre a desfiliação, que considerou “dolorosa”, disse que parte de sua história ficava no PT: — Não posso ficar no partido para convencer essas pessoas de que o meio ambiente tem que ser prioridade. Este é um governo insensível às causas sociais — disse Marina, que foi a evento sobre jornalismo ambiental. — Muitas vezes fui criticada, na pasta do Meio Ambiente, chamada de antipatriota, travadora do desenvolvimento, porque não aceito a implantação de projetos onde comunidades indígenas ou tradicionais tenham que ser atingidas ou sacrificadas. E os projetos hidrelétricos da Amazônia não podem ser instalados sem diálogo. É preciso entender que aqui (na Amazônia) moram 25 milhões de pessoas que precisam ser ouvidas.

Marina disse que o governo Lula repete erros de seus antecessores ao desprezar ações de desenvolvimento sustentável: — Deixamos na pasta do Meio Ambiente ações que reduziram o desmatamento em 57%. Estas mesmas ações foram extintas pelo (ex) ministro (de Assuntos Estratégicos) Mangabeira Unger. Desconheço os motivos, mas lamento.

A data do dia 30, especulada como dia de filiação de Marina ao PV, não foi confirmada: — Digo apenas que me sinto bem à vontade para articular minha entrada no partido.

Questionada sobre a candidatura a presidente da República, esquivou-se, mas demonstrou bom humor: — Se nem os que são candidatos desde criancinha estão confirmando a candidatura, imagina eu, que cheguei agora.

Garanto apenas que essa possibilidade é uma grande honra para mim.

'A bancada do PT está sendo humilhada'

ENTREVISTA Flávio Arns
Gerson Camarotti Brasília
DEU EM O GLOBO


Senador critica intromissão do Planalto no caso Sarney e diz que partido só pensa em 2010

De malas prontas para deixar o PT, o senador Flávio Arns (PR) fez ontem uma avaliação de seus oito anos no partido. Para ele, o PT se transformou com a necessidade de continuar no poder e hoje só enxerga um objetivo: a eleição presidencial de 2010. Arns entendeu como um rebaixamento o fato de senadores do partido terem sido obrigados pelo Planalto a votar pelo arquivamento das denúncias contra o senador José Sarney (PMDB-AP) no Conselho de Ética. Ligado aos movimentos sociais — Arns é sobrinho do cardeal-arcebispo emérito de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, e da coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns —, ele também rebateu as críticas de petistas de que ele deixará o partido porque necessita de votos para renovar o mandato ano que vem.
E, em resposta ao presidente Lula, admitiu dificuldade de relacionamento com o governo nestes anos em questões administrativas. Mas diz que, agora, o problema é de princípios

O GLOBO: O presidente Lula disse que o senhor é um companheiro que tem seus valores, mas sempre foi muito encrencado com o PT. Esse é o motivo da sua saída do partido?

FLÁVIO ARNS: De fato houve muitas dificuldades no decorrer desses anos. Sempre fui muito crítico do relacionamento, não do partido, mas do Executivo, com a sociedade organizada. Sempre disse que havia uma falta de respeito, uma desqualificação, uma desvalorização com os movimentos sociais. Também não gosto de ficar devendo favores. Não tenho pessoa indicada em qualquer cargo do governo. Agora, o que a militância pensa de tudo isso é exatamente o que eu penso. O que existe é uma falta de sintonia entre as lideranças e a base.

Vários integrantes do PT dizem que o senhor estaria querendo faturar com críticas ao PT porque precisaria de votos para se reeleger.

FLÁVIO ARNS: É uma interpretação equivocada. Já esperava isso. Mas quando as pessoas de bem dizem isso, falo que o divisor de águas foi outro. Porque se não houvesse os votos dos senadores do PT, e particularmente a orientação do presidente do partido (Ricardo Berzoini), nós nem estaríamos discutindo o assunto. Houve ainda a supervisão do Palácio do Planalto para esse tipo de atitude. Dizer que estou saindo por causa de votos é absolutamente inverídico.

Mas não foi humilhante para a bancada votar obedecendo ao presidente Lula? Ou os petistas votaram por convicção pelo arquivamento das denúncias contra Sarney?
FLÁVIO ARNS: Eu penso que a bancada do PT foi desqualificada nesse episódio faz muito tempo. Quando fizemos a primeira reunião, decidindo pela investigação e pelo afastamento do presidente Sarney, a bancada foi chamada para um jantar no Palácio da Alvorada. O que saiu no dia seguinte foi que o presidente Lula havia enquadrado o presidente do PT. Na sequência, o ministro José Múcio (Relações Institucionais) desautorizou a posição da bancada, dizendo que essa era a opinião de um ou dois senadores do PT. Berzoini chamou a posição de Mercadante de infantil. A bancada está sendo humilhada.

Como o senhor avalia o fato de os senadores do PT terem sido obrigados a votar a favor de Sarney por determinação direta do Planalto?

FLÁVIO ARNS: Isso é um rebaixamento total e absoluto, em vários sentidos. Porque os senadores que votaram tinham, antes, elaborado e assinado um documento que pedia a investigação. Assinaram e não cumpriram. Além disso, houve uma interferência indevida de um poder em outro poder. O que mais me assusta nisso é que o PT tomou uma posição oficial como partido para o Brasil todo. Ultrapassou a bancada. Foi uma pressão enorme! Mas somos senadores e temos que estar acostumados com pressão.

Esse processo pode levar a uma debandada maior de quadros do PT?
FLÁVIO ARNS: Não tenho dúvida em relação a isso. O pior de tudo isso é esse comportamento da cúpula, sem sintonia com a base. Eu me sinto envergonhado. Mas a base também está envergonhada com o PT.

E do que o senhor mais se envergonha neste momento, depois de oito anos no partido?

FLÁVIO ARNS: O presidente falou que a minha relação com o PT era encrencada. Sempre considerei esses episódios como coisas administrativas. Mas agora, nessa crise, chegamos a conflitos de princípios. Ontem, o partido determinou que se fizesse o contrário do que todo mundo acha que deveria acontecer: a investigação. Então, eu me envergonho disso. É um princípio ético fundamental! Isso é que me decepcionou, porque agora não é mais uma questão burocrática. E como poderia chegar agora para as pessoas e explicar que estou no PT, mas que o partido fez isso? O PT se transformou. A proximidade do poder e a necessidade de continuar no poder, em muitas ocasiões, transformam e transtornam as pessoas. Isso faz uma espécie de viseira que você só enxerga um tipo de objetivo: 2010. E tudo tem que estar de acordo para conseguir esse objetivo. E aquilo que é importante numa caminhada para se atingir com dignidade o objetivo fica de lado

Para analistas, ética cedeu lugar ao pragmatismo no PT

Flávio Freire
DEU EM O GLOBO

Sociólogo fundador da legenda diz que partido está a reboque de Lula e atua segundo sua conveniência eleitoral

SÃO PAULO. De ex-petistas de carteirinha a sociólogos, historiadores e cientistas políticos, o raciocínio recorrente quando analisada a atual crise que atinge o PT é o de que, há tempos, a ética deu lugar à conveniência eleitoral. Tanto especialistas em análise política como quem já participou da estrutura petista dizem acreditar que as deserções anunciadas nas últimas 48 horas — os senadores Marina Silva (AC) e Flávio Arns (PR) — são apenas os primeiros reflexos da “degradação” do partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

— O PT está sendo despedaçado pelo presidente Lula, que ficou maior que o partido. E ele é quase uma unanimidade, tanto do lado dos dominados como do dos dominantes. O PT governista ficou a reboque do presidente e caminha de acordo com o que é conveniente — disse um dos fundadores do PT, o sociólogo Francisco de Oliveira, que abandonou a legenda em 2003, primeiro ano do governo petista, por causa de diferenças ideológicas.

Ideologias conflitantes

Para Oliveira, não se pode levar adiante a justificativa da cúpula do partido de que a defesa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), é tão somente uma forma de impedir que a oposição desestabilize a base do governo.

— Ora, toda oposição se opõe ao governo, em qualquer lugar do mundo. O que não pode é usar essa articulação para justificar o que sempre foi injustificável dentro do PT, que é apoiar o Sarney — disse o sociólogo, que não reconhece como positivo o governo administrado pelo partido que ele mesmo ajudou a fundar.

— Este governo tem façanhas sociais, mas se transformou numa regressão política.

Está trazendo de volta um patrimonialismo que já tinha sido superado.

O professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp Roberto Romano afirmou acreditar que a crise atual no PT nada mais é do que um resultado das ideologias conflitantes que sempre estiveram presentes no partido, como a ala sindical, o setor católico e os pensamentos alinhados ao stalinismo e trotskismo.

— O sentido da ética sempre foi diferente para cada uma dessas forças. Era previsível que esses conflitos expusessem diferentes visões em relação ao que é certo e errado — analisa o professor.

Para Romano, o apoio do PT ao arquivamento das denúncias contra Sarney, para assim mantê-lo no cargo, é um exemplo claro dessas diferenças conceituais.

O professor considera que essa situação criou uma linha divisória na história da legenda.

— Essa crise mostra um ato de ruptura entreas propostas pragmáticas que atendiam esses grupos tão conflitantes e o que é realidade de fato.

O que aconteceu ontem (anteontem) no Senado foi o escancaramento dessa contradição entre o que é propalado e o efetivo. Mostra que a ética é só um objetivo genérico que se grita tanto para a militância interna como para toda a sociedade — diz ele.

Um dos principais nomes do PT até 2005, quando deixou o par tido após expor suas diferenças com a linha política que vinha sendo adotada, o advogado e ex-deputado federal Plínio de Arruda Sampaio, hoje filiado ao PSOL, disse que a crise envolvendo Sarney é apenas a gota d’água na crise institucional que domina as fileiras internas petistas.

— O Sarney sempre foi nosso inimigo. O PT se criou lutando contra o Sarney, onde ficam a ética e a coerência? — indaga ele.

Na opinião de Arruda Sampaio, a saída dos senadores Marina Silva e Flávio Arns dos quadros petistas é apenas o primeiro movimento de “muitos outros que virão”, aposta: — O PT não é um bando de sem-vergonhas, por isso acho que muita gente ainda vai deixar o partido.

Já o historiador Marco Antônio Villa, da Universidade Federal de São Carlos, avalia como “inevitável” o “abandono de lar” de figuras históricas d o P T depois da crise instaurada por conta da defesa ao senador José Sarney.

Para ele , no entanto, o partido pagará um preço alto por sua atual conduta nas eleições de 2010.

— É inevitável o PT sofrer consequências, mais cedo ou mais tarde, depois de tantas mudanças na forma de fazer política. Mas esse é só o início de uma crise que, provavelmente, terá um reflexo ainda maior nas eleições do ano que vem — afirma Marco Antônio Villa, para quem, mesmo assim, o partido deve seguir para o sacrifício só para não perder um dos bens mais preciosos numa campanha eleitoral.

— Todo esse barulho é para ganhar mais tempo na TV. Vai ter muita exposição ainda — ironiza o historiador

Marina atrapalha Dilma, dizem jornais estrangeiros

Destaque é para prejuízo de Lula com saída de ex-ministra

A saída da ex-ministra Marina Silva do PT repercutiu ontem na imprensa internacional.

Para o “La Nacion”, da Argentina, a notícia é “um duro contratempo para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que perde uma dirigente experiente, com três décadas de militância no partido”. O jornal diz ainda que, se Marina aceitar mesmo ser candidata a presidente pelo PV, Lula terá um problema extra, já que “a reputada ambientalista tem mais apoio popular que Dilma Rousseff, a pouco carismática ministra que foi escolhida por Lula como candidata do PT”.

Segundo o jornal argentino, a candidatura de Marina dividiria o eleitorado de esquerda e favoreceria o candidato da oposição, o governador José Serra. O “La Nacion” lembra que Marina é uma grande defensora da Amazônia e deixou o Ministério do Meio Ambiente por suas divergências ambientais com Dilma no governo.

E diz que a ex-ministra também se recusou a apoiar o presidente do Senado, José Sarney, a pedido de Lula.

O chileno “El Mercurio” diz que a provável candidatura de Marina pode atrapalhar os planos de Lula para eleger Dilma porque a ex-ministra atrairia os votos femininos e de esquerda.

Meio ambiente de volta à agenda política do país Reproduzindo reportagem da AP, os jornais americanos “Washington Post” e “New York Times” destacaram que a saída de Marina do PT é uma perda para Lula por causa dos planos do presidente para 2010.

O britânico “The Guardian” disse que Marina decidiu sair do partido afirmando que os políticos falharam em não dar atenção suficiente para a causa ambiental. Segundo o jornal, os apoiadores de Marina esperam que ela, ao concorrer à Presidência em 2010, ponha o “meio ambiente de volta à agenda política do maior país da América do Sul”.

O também britânico “Financial Times” lembrou que a senadora dividirá os votos prógoverno “naquela que deveria ser uma corrida entre os candidatos do governo e da oposição” e disse que sua saída deve agravar a “crise crescente” que assola o governo e o PT.

A metamorfose ambulante

DEU EM O GLOBO

Com a bandeira da defesa da ética, o Partido dos Trabalhadores foi fundado em 1980 por dirigentes sindicais, intelectuais e artistas de esquerda e católicos ligados à Teologia da Libertação. Ao longo dos anos, no entanto, se envolveu em escândalos de corrupção e perdeu alguns de seus principais integrantes.

1982: O partido disputa a primeira eleição para a Câmara, elegendo oito deputados.

1984 : O PT toma posição contrária ao Colégio Eleitoral, que escolheria, em eleição indireta, o sucessor do presidente João Figueiredo. Disputavam Tancredo Neves e Paulo Maluf. A cúpula do partido, incluindo Lula, insistia em defender a campanha pela diretas.

1985: Três dos oito deputados federais do PT, Airton Soares, Bete Mendes e José Eudes, votam em Tancredo no Colégio Eleitoral.
Ameaçados de expulsão, deixam o partido. Em 2005, o deputado José Genoino defenderia a posição do PT: “Para se viabilizar, o PT tinha de se colocar à esquerda”.

1988: Na última votação da Constituinte, a da redação final do texto, simbólica, o PT votou contra. E só decidiu assinar a Carta após longa discussão no Diretório Nacional. “O PT, por entender que a democracia é algo importante, vem aqui dizer que vai votar contra esse texto, exatamente porque entende que, mesmo havendo avanços na Constituinte, a essência do poder, a essência da propriedade privada, a essência do poder dos militares continua intacta nesta Constituinte”, disse Lula à época.

1992: Após denúncias feitas por Pedro Collor, começa o movimento pela saída do presidente Fernando Collor de Mello. O PT é um dos críticos mais vorazes do governo e da “República de Alagoas”, integrada, entre outros, por Renan Calheiros.
Uma CPI é instalada, a pressão popular aumenta, e Collor, para evitar o impeachment, renuncia.

1993: Contrariando o partido, a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina aceita o convite de Itamar para o ministério. O PT suspende por um ano seus direitos partidários. Em 1998, Erundina deixa o partido.

2003: PT ameaça punir a senadora Heloísa Helena com censura por ter faltado à sessão que elegeu José Sarney presidente do Senado.
No fim do ano, Heloísa vota contra a reforma da Previdência defendida pelo governo Lula. O PT, em convenção, decide expulsá-la. Os deputados federais João Batista Araújo (o Babá), João Fontes e Luciana Genro também são expulsos. O grupo mais tarde funda o PSOL.

2004: Waldomiro Diniz, principal assessor do então chefe da Casa Civil, José Dirceu, é gravado negociando propina com empresário do ramo dos jogos. O governo consegue adiar por mais de um ano a investigação.

2005: O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), em entrevista à “Folha de S. Paulo”, afirma que deputados do PL e do PP recebiam dinheiro do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, em troca de votos favoráveis a projetos de interesse do Planalto. Surge o escândalo do mensalão. Dono de uma agência de publicidade, Marcos Valério é apontado como operador do esquema.
São instaladas a CPI dos Correios (para apurar as denúncias do mensalão) e a dos Bingos (que investigou o caso Waldomiro). Dirceu e Jefferson tiveram os mandatos cassados pela Câmara.

2006: O caseiro Francenildo Costa depõe na CPI dos Bingos e afirma que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, frequentava uma mansão usada por lobistas. Mais tarde, é descoberta a quebra de sigilo bancário do caseiro. Palocci se vê obrigado a renunciar ao cargo Durante a campanha eleitoral, grupo de integrantes do PT é descoberto tentando comprar um dossiê contra o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra.

Em 2007, eles, além de integrantes da cúpula do PT, como José Genoino e Delúbio, tornaram-se réus em processo que tramita no Supremo Tribunal Federal, denunciados pelo então procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. Dirigentes de partidos aliados do governo Lula, como PP e PL (hoje PR) também integram a lista dos 39 réus.

2009: O Planalto usa todas as armas em defesa do presidente do Senado, José Sarney, alvo de denúncias de favorecimento e nepotismo. Entre os aliados do PT estão Collor e Renan.
Alguns petistas mostram insatisfação com o governo, mas a maioria atende às determinações. No mesmo dia em que o partido garante o arquivamento das investigações, a senadora Marina Silva anuncia sua saída.
O senador Flávio Arns faz o mesmo, por não concordar com a postura do partido para salvar Sarney.

Mão Santa anuncia que deixará PMDB

DEU EM O GLOBO

Partido não assegura candidatura dele à reeleição em 2010

BRASÍLIA. De carona na saída da senadora acreana Marina Silva do PT, seguida pelo colega de bancada Flávio Arns (PR), outros parlamentares podem se desfiliar até o dia 2 de outubro, de olho nas eleições de 2010. O senador Mão Santa (PMDB-PI) anunciou ontem que sai do partido por não conseguir legenda para concorrer à reeleição como senador. Outro que estuda deixar o PMDB, por falta de legenda para concorrer ao Senado no ano que vem, é o senador Valter Pereira (PMDB-MS). Mão Santa é um dos maiores críticos do presidente Lula e dos “aloprados” do PT, que ele diz terem dominado o PMDB do Piauí.

— Estou saindo do partido porque o PMDB foi cooptado pelo PT no meu estado. Ninguém me dá a certeza que eu terei legenda para disputar a eleição — argumentou Mão Santa.

Os senadores pretendem entrar com pedido de troca de legenda por justa causa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Mão Santa irá alegar que o diretório estadual do PMDB, no Piauí, não lhe dá garantia de se candidatar. No Piauí, o PMDB é aliado do governador petista Wellington Dias.

Mão Santa disse que ainda não escolheu em que partido irá se filiar: — Estou namorando o PPS.

Foi o primeiro a me oferecer legenda.

Já o senador Valter Pereira aguardará até o fim deste mês definição do governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), sobre o candidato ao Senado. Na aliança com o PT, Puccinelli tenderia a apoiar o senador Delcídio Amaral (PT-MS) e sinalizava dar a outra vaga a Waldemir Moka (PMDB).

A presidente do PMDB, deputada Íris de Araújo (GO) afirmou não ter recebido comunicação oficial de Mão Santa

Lula já tem substituto para Mercadante

Vera Rosa e Tânia Monteiro, Brasília
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O senador Aloizio Mercadante (SP) anunciou que deixará a liderança do PT no Senado, em razão da pressão do Planalto pelo arquivamento das denúncias contra José Sarney (PMDB-AP). Pouco depois, o presidente Lula já tinha um candidato à vaga: o ex-suplente João Pedro (AM). Amigo de Lula, João Pedro é tido como conciliador, capaz de atuar para contornar a crise petista. Os correligionários consideram que Mercadante cometeu erro político ao não indicar governistas para vagas de titular no Conselho de Ética, levando o PT para o centro do confronto. Mercadante ainda dependia de conversa com Lula para sacramentar sua decisão de sair.

Sem voto, João Pedro é cogitado para assumir posto

Lula disse a auxiliares que não pediria para Mercadante ficar e defendeu suplente como bom candidato à vaga

Irritado com o líder do PT no Senado, Aloízio Mercadante (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a ministros com quem conversou ontem que já tinha candidato para a sucessão do petista. O senador que conta com a simpatia de Lula para ocupar a cadeira de Mercadante é João Pedro (PT-AM), suplente do amazonense Alfredo Nascimento (PR), titular do Ministério dos Transportes.

Dono de estilo conciliador, João Pedro foi o senador que leu no Conselho de Ética, na quarta-feira, a nota do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), orientando a bancada a salvar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

Lula e Mercadante conversaram ontem à noite, no Palácio da Alvorada. Antes do encontro, o presidente disse a auxiliares que não pediria ao petista que ficasse no cargo. O senador, por sua vez, insistiu em que a renúncia à liderança do PT seria apresentada hoje, em caráter irrevogável, da tribuna do Senado.

O presidente não foi pego de surpresa com a decisão. Avisado na quarta-feira que Mercadante estava mesmo disposto a entregar o cargo, Lula nada fez. Lavou as mãos por achar "lamentável" a atitude do senador, que se recusou a ler a carta de Berzoini, absolvendo Sarney, no Conselho de Ética.

"Se ele quiser renunciar, que renuncie", afirmou o presidente, segundo relato de assessores do Planalto. Na tentativa de desfazer o mal-estar, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, telefonou para Mercadante e pediu a ele que adiasse o seu pronunciamento, previsto para ontem.

A operação para evitar cicatrizes ainda maiores e prejuízos para o Planalto foi conduzida pela líder do governo no Congresso, Ideli Salvatti (SC). Foi Ideli que telefonou para Lula e depois fez a ponte com Múcio, que, por sua vez, ligou para Mercadante.

"Eu acho que Mercadante é mais do que necessário na liderança do PT", afirmou Múcio, jogando água no novo foco de incêndio na base aliada. "Tenho absoluta certeza de que este episódio será superado."

Berzoini também telefonou para o senador. Os dois não se entendem há tempos. "Eu disse a ele que era um erro sua saída da liderança, mas isso é diferente de pedir para alguém ficar", argumentou.

Na prática, Mercadante já havia ameaçado várias vezes entregar o cargo. Chegou a admitir a possibilidade para o próprio Lula, em jantar da bancada do PT com ele, em junho. Na quarta-feira, porém, mostrou-se decidido. Antes da reunião do Conselho de Ética, teve um encontro a portas fechadas, no Centro Cultural Banco do Brasil, com o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, Berzoini e os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e Tarso Genro (Justiça). João Pedro (AM), Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC) também participaram da reunião.

Ao ser confirmada a estratégia do governo para salvar Sarney, com a divulgação da carta de Berzoini, Mercadante disse que poderia não lhe restar outra saída a não ser a renúncia da liderança. O presidente soube da ameaça e reagiu com desdém, segundo assessores.

A tensão entre Lula e Mercadante não é de hoje. Em julho, quando o senador divulgou nota considerando "grave" a denúncia que ligava Sarney à edição de atos secretos , o presidente ficou furioso. Disse que a nota jogava mais combustível na crise em pleno recesso parlamentar.

Nos bastidores do governo, o comentário é que o líder do PT agiu para "ficar bem na foto" com os eleitores, já que é candidato a novo mandato. "Meu posicionamento nunca foi em função de interesses político-eleitorais", reagiu Mercadante. "Agi em nome da bancada, pois a maioria sempre quis o afastamento de Sarney e essa avaliação estava clara em várias notas do partido.
Não houve qualquer mudança."

Ciro se reúne com Aécio e reitera que é candidato

Carmen Pompeu, Fortaleza
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) desembarcou na tarde de ontem de surpresa em Fortaleza. Reuniu-se, a portas fechadas, com o governador mineiro Aécio Neves (PSDB) no Palácio Iracema, sede do governo cearense. A conversa foi reservada. No desembarque, no saguão do aeroporto, Ciro fez questão de afirmar que, antes de presidenciáveis, ele e Aécio são "amigos que se admiram".

O deputado cearense reiterou ser candidato à Presidência da República e mencionou a insistência da base aliada e do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que ele dispute o governo paulista. Segundo Ciro, a ideia não foi descartada. Ressaltou, porém, que ainda não transferiu seu domicílio eleitoral para São Paulo.

"Estou pensando. Eu já disse que não quero, não é meu projeto, mas eu respeito essas pessoas. Entre elas está o Lula, que me pediu para pensar nessa possibilidade e a gente vai pensar junto", contou.

Ciro também disse não se sentir incomodado por uma eventual candidatura à Presidência da ex-ministra e ex-petista Marina Silva, pelo PV. "Não é provável que haja um plebiscito no País, daqueles que apoiam e que são contra o Lula, porque algumas variáveis estão fora do controle do presidente e das forças que o apoiam", afirmou.

ELOGIOS

Ciro não poupou elogios a Marina. "É uma pessoa maravilhosa, é minha amiga. Vai acrescentar dados interessantes ao debate nacional", avaliou.

Serra lança programa para treinar mão de obra

Silvia Amorim
DEU EM O ESTDO DE S. PAULO


É a quarta medida anunciada na área de geração de emprego em menos de um mês

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), lançou ontem o quarto programa de geração de empregos em menos de um mês. O Aprendiz Paulista, sistema online que visa a abrir portas de empresas para estudantes da rede estadual, tem a meta de atender 15 mil jovens. O governo tucano quer incentivar empregadores a cumprir a cota de contratação de 5% a 15% de aprendizes, estabelecida em lei.

Na cerimônia, o governador criticou uma resistência inicial do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ações desse gênero. "O próprio Ministério do Trabalho, até um tempo atrás, jogou contra a aplicação da lei, obedecendo a interesses corporativos", alfinetou.

Cada vez mais as questões relacionadas ao desenvolvimento econômico e desemprego têm tido espaço na agenda do governador. Nos últimos 24 dias, foram cinco eventos para divulgar programas, quatro solenidades em uma única semana.

Serra, provável nome tucano para o Palácio do Planalto, tem montado uma rede de ações nessa área, munição para o PSDB no próximo ano. Com a crise mundial, os dois temas terão papel decisivo na eleição.

A atuação de Serra tem se mostrado diversificada. Vai da distribuição de bolsa-auxílio para setores vulneráveis, como os desempregados entre 30 e 59 anos e jovens sem experiência no mercado de trabalho, a medidas de incentivo para reduzir a informalidade.

O discurso sobre a economia paulista e nacional também é adotado em inaugurações de escolas, hospitais ou moradias, quando o governador sempre destaca o número de empregos gerados com suas obras para moradores de regiões carentes.

RECADO

Em todas as ocasiões, o recado é o mesmo. "É mais um esforço que estamos fazendo no sentido de abrir oportunidades de emprego para as famílias, de um lado, e, de outro, de desenvolver São Paulo", costuma dizer.

É recorrente, também, a comparação com as ações em âmbito nacional. "Ampliamos o nosso Banco do Povo de R$ 70 milhões para R$ 120 milhões e temos uma taxa de juro de 1% ao mês. É o segundo Banco do Povo do Brasil e cobramos 2/3 da taxa de juros do Banco do Povo do Nordeste, o primeiro a ser criado, que é federal", comentou Serra, no início do mês.

Na campanha de 2002, o tema desemprego custou caro ao tucano. Com a promessa de criar 10 milhões de vagas, entre outras plataformas, Lula saiu vencedor da disputa. Serra apareceu na propaganda eleitoral com uma carteira de trabalho nas mãos e prometeu 8 milhões de postos de trabalho. Pesou, porém, o ataque dos adversários pelo fato de o governo Fernando Henrique ter enfrentado aumento do desemprego.

O governo Serra nega viés eleitoral na divulgação em série de medidas. "Eu não tirei isso da cartola. É trabalho desde o começo do governo", justificou o secretário de Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos. Ele atribui à crise o pacote de ações voltadas ao emprego.