quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Apagões agravam crise e oposição convoca protestos na Venezuela

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Chávez determina "rodízio" de suspensão de energia por 4 horas a cada 2 dias para evitar colapso do sistema

AP, Afp e Reuters

Ao Vento - Roupas penduradas em cabos elétricos em Caracas: crise energética provoca fechamento antecipado de repartições públicas

CARACAS - A oposição venezuelana convocou para o dia 23 uma marcha em Caracas em repúdio à recente desvalorização do bolívar forte anunciada pelo governo do presidente Hugo Chávez na sexta-feira. O anúncio foi feito num momento complicado para a administração chavista, que vem sofrendo duras críticas por impor drásticas medidas de racionamento de energia.

Pouco antes, o governo anunciou que suspenderá a partir de hoje o abastecimento de energia durante quatro horas a cada dois dias em toda a Venezuela. A decisão é mais uma das medidas para tentar solucionar a crise do setor.

"Estamos planejando uma mobilização para prestar contas ao povo e para reiterar nosso compromisso com a democracia", afirmou Antonio Ledezma, prefeito de Caracas. Segundo ele, a manifestação servirá para que a oposição apresente propostas alternativas para enfrentar os "graves problemas" dos blecaute.

Desde 2003, o país adotou o sistema de câmbio fixo. O bolívar forte estava valorizado artificialmente e, embora a cotação oficial fosse 2,15 bolívares fortes por dólar desde 2005, no mercado paralelo - atividade tipificada pelo governo como delito grave -, a cotação era ontem de 6,40 para venda.

Chávez determinou que a moeda nacional terá um câmbio duplo. A cotação será de 2,60 quando as divisas forem usadas para a compra de itens prioritários, como alimentos e medicamentos. Já a importação de automóveis, bebidas, petroquímicos, cigarros e eletrônicos será feita com a moeda valendo 4,30.

Analistas econômicos acreditam que a desvalorização da moeda deve dar a Chávez recursos extraordinários, causando uma "impressão" de bonança no país.

Desde o anúncio da desvalorização, os venezuelanos correram aos supermercados e lojas de eletrodomésticos, provocando uma alta dos preços dos importados. Acompanhadas de soldados, autoridades venezuelanas fecharam ontem temporariamente cerca de 90 estabelecimentos comerciais por remarcarem seus preços.

A Mesa de Unidade Democrática, uma aliança que reúne 11 partidos de oposição, condenou a desvalorização da moeda, afirmando que a medida é uma das consequências da atitude "irresponsável" de Chávez.

As declarações da oposição começam a movimentar o clima político do país para as eleições parlamentares, marcadas para 26 de setembro.

RESTRIÇÃO ENERGÉTICA

De acordo com o ministro da Energia Elétrica, Ángel Rodríguez, o objetivo da restrição de consumo de energia é tentar prevenir a seca da Represa de Guri, responsável por cerca de 70% do abastecimento elétrico na Venezuela. "Estamos tentando evitar que a Guri nos leve a uma situação crítica no fim de fevereiro, a um apagão geral do país", disse Rodríguez.

O anúncio do rodízio de apagões segue a linha de decisões tomadas por Chávez, que na sexta-feira determinou que as repartições públicas funcionarão apenas cinco horas, das 8 às 13 horas. O presidente chegou até mesmo a pedir à população que restrinja seus banhos a "três minutos". O horário de funcionamento de shoppings e bingos também foi limitado e o governo estuda fechar siderúrgicas estatais para economizar energia.

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