DEU EM O GLOBO
Com empate técnico entre os dois candidatos, presidente chilena decide assumir postura mais contundente
Cristina Azevedo
SANTIAGO. Com as pesquisas mostrando o ex-presidente Eduardo Frei em situação de empate técnico com o opositor Sebastián Piñera, a presidente Michelle Bachelet se manifestou de forma inequívoca nos últimos dias a favor de seu candidato, gerando polêmica e acusações de intervenção do governo nas eleições presidenciais chilenas. Numa entrevista à Rádio Cooperativa, Bachelet lançou o que os chilenos estão chamando de ofensiva final:
- Vou votar nele (Frei) porque é uma pessoa honesta, que, desde o começo, quando decidiu se dedicar à vida pública, separou os negócios de tudo - disse a presidente.
Até esta semana, apoio de Bachelet era indireto
Ninguém duvidava de que Bachelet votaria em Frei, mas, até esta semana, o apoio da presidente era feito de forma mais indireta. Sua mãe, Angela Jeria, participou de comícios do candidato da Concertação e quinta-feira à noite estava no encerramento da campanha de Frei, em La Granja. Logo após o primeiro turno, em que Piñera abrira uma vantagem de dois dígitos, Bachelet liberou ministros para se desligarem do governo e trabalharem por Frei, como sua então secretária de Governo, Carolina Tohá, que assumiu o comando da campanha. Mas, esta semana, com a distância entre os dois candidatos tendo diminuído, Bachelet foi mais contundente.
Na segunda-feira, na inauguração do Museu da Memória e dos Direitos Humanos, em Santiago, teve Frei ao seu lado, na qualidade de ex-presidente - um argumento que não satisfez a Coalizão para a Mudança, de Piñera. E a entrevista à Rádio Cooperativa acabou publicada no site do governo, incluindo o trecho polêmico.
- A declaração foi um pouco mais além do que um presidente costuma fazer. A declaração não foi só contundente. Ela disse por que ia votar em Frei, disse que o fez como cidadã, mas não se pode separar da figura de presidente - analisou Guillermo Holzmann, professor de Ciências Políticas da Universidade do Chile.
Bachelet se referia aos negócios do empresário, que já anunciou que vai se desligar deles, mas depois de eleito. Dono de uma fortuna estimada em mais de US$1 bilhão, Piñera já passou adiante uma boa parte de suas empresas, mas manteve sua participação em quatro: a companhia aérea LAN, o canal de TV Chilevisión, um dos mais populares do país, as Clínicas Condes e o time de futebol Colo Colo - o único que afirma que manterá.
Analista da CNN acha que afirmações não terão efeito
O comando de Piñera contra-atacou, com o coordenador geral da campanha, Rodrigo Hinzpeter, acusando Frei de realizar reuniões de acionistas em sua casa quando era presidente. Numa escalada de ataques, Piñera comparou hoje a Concertação a uma pessoa que precisa de respiração artificial. As afirmações dos dois lados geraram um cenário em que não fica claro como isso poderá influenciar a votação de amanhã.
- Acho que não terá efeito eleitoral algum. Todos já sabiam que ela ia votar nele - minimizou o jornalista Tomás Mosciatti, diretor da Rádio Bio-Bio e analista da CNN Chile.
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