sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Contra oposição, PT adota o discurso do risco de retrocesso

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Estratégia é alertar para possível ruptura de políticas sociais de Lula em caso de derrota

Em 2002, campanha tucana usou discurso do "medo" de que possível vitória de Lula trouxesse de volta inflação e instabilidade econômica


Ana Flor, Catia Seabra

Menos de oito anos depois de ser vítima do discurso do "risco PT", em que a oposição tentava associar uma vitória de Lula à volta da inflação e à instabilidade econômica, o governo pôs em marcha uma estratégia semelhante para 2010.

Ministros, autoridades do governo e o próprio Lula passaram a embutir em suas falas pelo país alertas para a possibilidade de ruptura nas políticas econômicas e sociais caso a candidata do Planalto, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), não vença as eleições.

Em 2002, quando tucanos e aliados adotaram o discurso do "risco PT", a atriz Regina Duarte foi à TV declarar o voto a Serra, que concorria à Presidência, afirmando ter "medo" de Lula.

Hoje, a estratégia é vincular Dilma à continuidade das políticas do governo Lula, e colar, na possibilidade de vitória da oposição, o risco de retrocesso.

Em entrevista, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou ter convicção de que Dilma manteria a atual política econômica -mas sobre o principal nome da oposição para enfrentá-la, o governador José Serra (PSDB), disse não ter a mesma certeza.

Diante dos bons resultados da Petrobras, o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, atribuiu o sucesso ao governo Lula e afirmou, também em entrevista, que se tivesse vencido em 2002 e 2006, "o PSDB já teria vendido parte" da empresa.

Ainda mais enfático foi o presidente Lula que, ao encontrar catadores e moradores de rua, alertou para o perigo da não continuidade de seu governo: "Não sabemos o que pode acontecer no país".

Aprovação

O expediente de associar Dilma ao sucesso do governo Lula é uma das principais estratégias de campanha. Sem nunca ter enfrentado as urnas, Dilma tem apenas o trabalho como ministra para mostrar.

O comando do PT e ministros próximos ao presidente rechaçam as expressões "terrorismo" ou "medo". Avisam, entretanto, que intensificarão a estratégia de associar Serra à administração Fernando Henrique Cardoso.

O ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) afirma que é "inevitável" a comparação de projetos. "É uma linha de defesa do governo. E não é apenas continuidade, o projeto é continuar avançando", diz.

Segundo o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), o partido quer promover um debate sobre "os destinos do Brasil" -em que sobram ataques para o governo tucano.

"[Vamos discutir se o Brasil] vai ser potência mundial ou não", diz ele. "O PT defende o Estado forte, um Estado que enfrenta a crise como nós enfrentamos. Eles acham que isso é gastança", afirmou o deputado.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, diz que a estratégia de comparação entre os governos terá o seu ápice durante o horário eleitoral. "Não queremos que o eleitor tenha medo. Mas que possa optar entre dois projetos antagônicos."

Berzoini afirma que o tucanato praticou terrorismo também em 1998 ao dizer que a eleição de Lula ameaçaria a estabilidade econômica.

Enquanto o PT investe na comparação dos governos Lula e FHC, o PSDB vai insistir no confronto dos currículos de Dilma Rousseff e José Serra. Os tucanos realçarão as realizações do tucano no governo de São Paulo e no Ministério da Saúde. Lembrarão, por exemplo, a criação dos medicamentos genéricos:

"A história de Serra é anteparo para esse debate medíocre. A estratégia [do medo] não cola em quem fez o genérico e quebrou patente", disse o deputado federal Jutahy Magalhães (PSDB-BA).

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