quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Fernando De Barros e Silva: Lula e o populismo

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - O lulismo é uma nova forma de populismo? E quais relações ele teria com o getulismo?

Na sua definição mais geral, o populismo se caracteriza pela existência de um líder carismático que estabelece um vínculo direto com as massas, cuja identidade passa a depender da relação com o "pai" em que se espelha e reconhece.

Trata-se, nas palavras de Norberto Bobbio, de um movimento conservador, no qual a sociedade dividida em classes dá lugar à noção de um "povo" indivisível. Seu inimigo é o "antipovo", cujo conteúdo é historicamente variável -elites imperialistas, oligarquias nacionais, grupos com ideologias estranhas ao povo (como o comunismo) etc.

No artigo "Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo", comentado aqui ontem, o cientista político André Singer diz, já nas suas conclusões, que a ideia de um conflito entre "um Estado popular e elites antipovo" poderá "cair como luva para o próximo período". Ou seja, a disputa eleitoral de 2010 pode ser pautada pela gramática do populismo.

Conforme Singer mostra, ao unir em seu governo defesa da ordem econômica e promoção social, Lula articulou em torno de si a massa desorganizada de baixa renda, que passou a existir como ator político por meio da sua liderança. Ou seja, o lulismo deixou a direita órfã do povão. E Lula deu um nó no enredo que a esquerda lhe havia preparado.

Os "descamisados", aqueles setores "menos esclarecidos e mais desfavorecidos" que o petista identificou como responsáveis por sua derrota para Collor em 1989, passaram a formar a base social do lulismo.

Leonel Brizola, filho do getulismo e velho crítico do PT -que para ele representava a elite sindical dos trabalhadores, a igreja progressista e as classes médias intelectualizadas, mas era incapaz de alcançar as massas-, talvez se admirasse com destino popular do "sapo barbudo".

A liderança de Lula reúne traços inegáveis do populismo, sem que isso fragilize as instituições. É difícil imaginar um governo de comunhão nacional além da sua figura.

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