quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Merval Pereira :: Forjando a união

DEU EM O GLOBO

O governador de Minas, Aécio Neves, deu mais um passo na construção de uma imagem de liderança nacional ao definir claramente sua participação na campanha presidencial como sendo, sem tergiversações, no campo da oposição. A partir da definição de que seu projeto pessoal está intimamente ligado ao projeto nacional do PSDB, e que a unidade da oposição é o pressuposto para a vitória na sucessão de Lula, o governador mineiro deu consequência ao discurso político que vem desenvolvendo desde que decidiu desistir da précandidatura à Presidência

Considerar Aécio Neves um ingênuo ou um político afoito e irresponsável é cometer um grave erro, e os petistas parece que caíram nessa esparrela. Passaram a difundir que o governador mineiro estaria magoado com seu partido e que faria corpo mole na campanha presidencial para não dar apoio à candidatura do governador paulista, José Serra.

Esse raciocínio político tosco não leva em conta que Aécio retirou-se da disputa para se tornar protagonista da decisão tucana. Fez um movimento estratégico que o colocou como um líder com visão de futuro, e não como aquele que provoca uma divisão partidária por interesses imediatistas.

O que o torna o fiel da balança para uma decisão tucana é que seu peso político em Minas e em outras regiões do país, como o Rio, pode não ser suficiente para colocá-lo na liderança das pesquisas, mas é grande o bastante para definir uma eleição nacional.

E esse apetite pela política nacional ele tem demonstrado nas conversas dos últimos dias, com informações atualizadas sobre a situação de diversos estados.

Mas a cada dia que passa Aécio demonstra que sabe que não pode ter dimensão nacional se não cuidar de sua seara política local, e por isso não basta a ele se eleger senador, ou mesmo eleger Antonio Anastasia o governador de Minas.

Por um desses golpes do destino, a candidata adversária Dilma Rousseff é mineira de nascença, embora tenha feito sua vida profissional e política fora do estado.

Minas tornou-se então um ponto fundamental da disputa eleitoral. Juntandose a isso o fato de que o PT mineiro tem uma estrutura forte no estado, e dois candidatos importantes, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, “o pai” da Bolsa Família, e o exprefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, temos aí um desafio e tanto para a liderança de Aécio Neves.

Mesmo tendo a eleição para o Senado garantida, de nada servirá a Aécio ser um senador de uma bancada minoritária e fraca, com o PT governando o país e seu estado ao mesmo tempo.

Mesmo elegendo o governador, se a candidata oficial vencer a eleição, com votação forte em Minas, o senador Aécio ficará enfraquecido em Brasília, e o Senado deverá continuar sendo presidido pelo PMDB.

Ao evitar receber o presidente Lula em Minas para a inauguração da barragem em Jenipapo de Minas, no Vale do Jequitinhonha, a região mais pobre do estado, o governador mineiro deixou claro que não alimentará a campanha de Dilma com posições ambíguas.

Como vem acontecendo com frequência alarmante nesses últimos meses, a inauguração transformou-se em campanha eleitoral aberta, com a candidata travestida de ministra fazendo terrorismo eleitoral contra a oposição. As críticas à inoperância do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) transformaram-se, no palanque governista, em ameaça de acabar com o programa em si, como se a barragem que acabava de ser inaugurada pudesse não existir se a oposição estivesse no governo.

Uma amostra de que a disputa será mais que vigorosa, e que o governador mineiro, assim como o paulista, terão que competir com obras com o governo federal antes de se desincompatibilizarem no final de março.

O presidente Lula já anunciou que pretende inaugurar, com Dilma a seu lado, “o máximo de obras possível” até o último prazo legal.

A postura mais engajada do governador mineiro no projeto nacional do PSDB dispensaria até mesmo a alternativa de ele vir a ser o vice numa chapa tucana purosangue. Mas, na entrevista que deu esta semana, o governador Aécio Neves abriu uma brecha na até então irremovível barreira que colocava a essa possibilidade, embora continue negando-a.

Mais importante do que ter dito que “irreversível é só a morte”, foi o governador colocar a questão em termos de ajudar a vitória de Serra à Presidência, no mesmo plano da eleição de governador do estado: “Não acho que eu possa ajudar mais a candidatura do PSDB do que estando em Minas Gerais, eventualmente como candidato ao Senado, ajudando a dar a vitória ao nosso candidato ao governo em Minas Gerais e ao nosso candidato à Presidência da República”.

Nesses termos, se a continuidade da campanha eleitoral demonstrar que a presença de Aécio Neves na chapa do PSDB é mais interessante para o projeto nacional do partido do que sua candidatura ao Senado, ele terá condições de rever sua posição.

Mais uma vez, como na renúncia à pré-candidatura, ele será o senhor da decisão, em uma estratégia de convergência de interesses, e não de divisão.

Ao contrário do que escrevi aqui ontem, o ex-presidente do Chile Eduardo Frei Montalva, pai do candidato derrotado da Concertação Eduardo Frei — também ex-presidente chileno — morreu em um hospital e não na prisão.

Tendo se transformado em opositor do golpe militar que colocou o general Pinochet no poder, Eduardo Frei Montalva foi envenenado, e a prisão dos acusados pelo crime foi decretada na reta final da eleição, dez anos depois de iniciado o processo.

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