sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O feliz ano novo do Brasil

DEU EM O GLOBO

Após estagnação de 2009, projeções de crescimento para 2010 variam entre 5% e 6,5%

Cássia Almeida

Crescimento forte, inflação baixa, emprego em alta, mais importações que exportações e mais dinheiro externo para financiar o consumo. Assim é o Brasil desenhado por economistas em 2010. Depois de enfrentar estagnação no ano passado, reflexo da crise financeira que abalou o mundo, o país cresce rápido. As projeções giram entre 5% e 6,5%, puxadas pelos investimentos - que recuaram com força em 2009.

A busca de máquinas, equipamentos e de bens para atender o consumo interno fará as importações aumentarem. E as exportações não conseguirão acompanhar, já que a economia mundial crescerá num ritmo bem menor que o Brasil - perto de 3%. Assim, o nosso saldo na balança comercial terá uma queda drástica, na opinião de analistas, saindo de mais de US$20 bilhões em 2009 para perto de US$10 bilhões, na mais otimista das previsões.

Sem o saldo na balança para compensar a sempre deficitária conta de serviços com o resto do mundo, o déficit em transações correntes (contas entre o Brasil e o mundo) deve dobrar em 2010, ficando perto de US$40 bi. O investimento direto estrangeiro ajudará a fechar as contas.

Contas públicas não preocupam
"Ano de Pibão", resume assim Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores, a situação do Brasil este ano. A LCA prevê alta de 6% em 2010, e a economia com sinal positivo em 2009 (o resultado só sai em março), ligeiramente superior a zero:

- Um ano de recuperação do investimento e consumo puxado pelo emprego, confiança e renda. Os juros devem subir pela alta forte da demanda, mas antes, teremos o aumento dos compulsórios (dinheiro retido no Banco Central) - diz.

As contas públicas não preocupam em 2010. A arrecadação em alta equilibrará as despesas que subiram em 2009, diz Faria. Elson Teles, economista-chefe da Corretora Concórdia, apesar de concordar que a arrecadação maior melhorará as contas públicas, lembra que no período eleitoral os gastos aumentam. Teles prevê algum entrave, criado pelo aumento dos gastos do governo no ano passado.

O investimento será a vedete de 2010. As taxas de crescimento devem superar 20% no ano, mas a parcela da economia brasileira destinada a aumentar a capacidade de expansão do país só volta aos patamares de antes da crise em 2011. Este ano, a taxa deve ficar próxima de 18%, enquanto que em 2008, superou 19%.

No mercado de trabalho, o céu é de brigadeiro. No início do ano, deve haver o aumento sazonal da taxa de desemprego, mas ela deve ficar, na média do ano, em 7,5% da força de trabalho, taxa inferior aos 8% esperados para o ano passado (o número oficial só sairá no fim do mês).

As eleições pesaram pouco nesse cenário projetado pelos analistas, na opinião do economista da Tendências Consultoria, Bernardo Wjuniski, que não consegue enxergar "medidas drásticas" anunciadas pelos candidatos já confirmados: o governador José Serra (PSDB) e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Faria, da LCA, prevê algum ruído quando a campanha tomar as ruas, com alguma crítica em relação ao câmbio, mas nada nem perto do que houve nas eleições de 2002. Na época, a instabilidade fez dobrar a cotação do dólar. Como consequência, a economia ficou estagnada em 2003.

- Não se vê hoje ameaça de mudança na gestão da política econômica - destaca Faria.

Inflação é outro grande indicador da economia que se manterá tranquilo em 2010, com as expectativas em torno da meta fixada pelo governo de 4,5%. Os índices gerais de preço (IGPs), medidos pela Fundação Getulio Vargas, fecharam o ano em queda. Assim, reajustes de aluguéis, escolas, telefonia, energia terão reajustes baixos, já que são baseados nesses índices de inflação.

O economista Luiz Carlos Prado, da UFRJ, destaca que a população brasileira cresce num ritmo muito menor. Pelo Brasil crescer acima da média mundial, em breve, diz, a renda do brasileiro se aproximará da dos países desenvolvidos:

- O crescimento de 5% hoje corresponde, em termos de renda per capita, à expansão de 7%, 8% da época do fim do milagre, nos anos 70.

O dólar deve se valorizar ao longo do ano, principalmente perto das eleições, mas fechará 2010 perto de R$1,80, impulsionando as importações.

Vale lembrar que as projeções vão se modificando ao longo do ano. No início de 2009, a expectativa era de que o país cresceria 2,5%. Em abril, com dois trimestres seguidos com o PIB recuando caracterizando a recessão, as estimativas pioraram para -0,3%. Depois melhoraram, voltando a cair no fim do ano passado. Agora, a expectativa é de que o país fique estagnado. Em suma, projeções são apenas projeções: nem sempre se confirmam.

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