quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Planalto defende Meirelles para vice de Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ideia de Lula é ter alguém com perfil de Alencar na chapa, mas ele sabe que PMDB resistirá contra o ""cristão novo""

Vera Rosa e Beatriz Abreu

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a auxiliares e dirigentes do PT que, se depender dele, a cara-metade da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na chapa ao Palácio do Planalto será um nome com perfil semelhante ao do vice-presidente José Alencar (PRB). Lula defende para a dobradinha o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, cristão novo no PMDB, mas sabe que a cúpula peemedebista não apenas criará problemas a essa indicação como tentará emplacar o presidente da Câmara, Michel Temer (SP).

Ao tomar café da manhã, ontem, com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), Lula combinou com o aliado que, antes de definir o vice, a prioridade será superar as divergências entre o PT e o PMDB nos Estados, na tentativa de construir palanques conjuntos para Dilma.

Sarney pediu a Lula que cobre do PT apoio à sua filha, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB). O presidente garantiu a ele que, apesar da divisão do PT no Estado, os petistas darão aval à reeleição de Roseana. Detalhe: Sarney também acha que a indicação de Temer para vice de Dilma é a que mais unifica o partido. No seu diagnóstico, Temer sairá fortalecido na convenção do PMDB que foi antecipada para 6 de fevereiro e deverá reconduzi-lo ao comando do partido.

Para o governo, porém, Meirelles atuaria como uma espécie de escudo da candidata do PT, dando segurança ao mercado financeiro. A cúpula da campanha petista teme que a oposição explore o passado de Dilma como ex-guerrilheira, provocando desconfianças sobre os rumos da economia.

Em conversas reservadas, Lula tem dito que, nesse cenário, somente um nome com bom trânsito no empresariado e no setor financeiro - papel que Alencar desempenhou em sua campanha, em 2002 - quebraria resistências.

Embora o programa de governo de Dilma não esteja pronto, a principal recomendação do presidente é para que o PT "não queira inventar a roda" na economia. Serão mantidos o sistema de metas de inflação, câmbio flutuante e ajuste fiscal. Não sem motivo, um dos principais coordenadores da campanha de Dilma - que ontem participou do Fórum Social, em Porto Alegre - será o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (SP), hoje deputado.

MALDIÇÃO DO VICE

A operação de bastidor para barrar a indicação de Temer como candidato a vice tem ainda ingrediente adicional. O receio do Planalto é que a maldição do vice se repita e o governo seja obrigado a trocar o colega de chapa da ministra durante a corrida eleitoral, causando instabilidade na campanha.

A necessidade de substituir vices alvejados por denúncias - mesmo que não comprovadas - já atingiu tanto Lula como o então candidato Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na campanha de 1994, além do também tucano José Serra - hoje governador e potencial candidato ao Planalto - na maratona de 2002.

Em dezembro, Temer foi citado pela Polícia Federal na Operação Castelo de Areia. Acusado de ter recebido R$ 410 mil da construtora Camargo Corrêa entre 1996 e 1998, ele reagiu. "Isso é uma indignidade e expresso minha revolta com esse papel apócrifo, que coloca nomes das mais variadas pessoas. É uma infâmia", disse na época.

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