domingo, 24 de janeiro de 2010

Serra busca suavizar imagem com mercado

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Pré-candidato, tucano tem colaboradores com trânsito em variados setores da economia para aproximação com empresariado

Aliados ajudam a combater a ideia recorrente de que, se eleito presidente, tucano estaria fechado a diálogo com grupos de empresários

Catia Seabra

Da Reportagem Local

Potencial candidato do PSDB à Presidência, o governador de São Paulo, José Serra, investe em pontes para suavizar sua imagem diante de empresários.

Em sua equipe, Serra não conta só com colaboradores com trânsito em diferentes setores da economia. Mas busca parcerias, seja com a escalação de empresários para o conselho do recém-criado Investe São Paulo (agência paulista de investimento), ou com a cooperação do Movimento Brasil Competitivo na área de gestão.

Além de sensibilizar o empresariado para ações administrativas, a colaboração ajuda a demolir ideia recorrente em setores da economia de que, eleito presidente, Serra estaria fechado ao diálogo.

Hoje, o conselho da Investe São Paulo inclui, por exemplo, nomes como o de Paulo Cunha (Grupo Ultra), Ivan Zurita (Nestlé) e Paulo Godoy (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base).

Grupos privados

Com a contratação da assessoria do INDG (Instituto de Desenvolvimento Gerencial), Serra atraiu a colaboração do Movimento Brasil Competitivo -liderado por Jorge Gerdau (Grupo Gerdau) e Beto Sicupira (InBev). Apoiadores dos INDG, representantes de grupos privados participam de reuniões periódicas no Palácio dos Bandeirantes, como a de outubro do ano passado, quando Serra fez um balanço de seu trabalho aos empresários.

"Fico imaginando a margem de manobra que existiria na esfera federal", disse Serra, após anunciar economia de R$ 518 milhões como produto do programa de melhoria da qualidade de gastos.

Em reuniões, o governador enaltece a capacidade de atrair investimentos. "O Estado tem sido o que mostra mais agilidade na captação de financiamentos. No caso do Banco Mundial, somos o maior parceiro", disse.

Com um capital autorizado de R$ 1 bilhão, a criação da Nossa Caixa Desenvolvimento acabou por adensar a relação do governo com o empresariado.

Sem estrutura física no Estado, a agência recorreu a parcerias com associações como a Abimaq (Associação Brasileira da Industria de Máquinas e Equipamentos) para oferecer financiamento a empresas de médio porte. Em outubro, em inauguração do escritório da CNI (Confederação Nacional da Indústria), a agência foi apresentada por Serra como um instrumento de desenvolvimento criado em sua gestão.

"Os chineses não são mais competitivos do que nós porque têm o olhinho puxado. É porque eles têm outra política monetária e outra política cambial. Vamos ter isso muito claro. Isso não é uma fatalidade da natureza nem preguiça. Os trabalhadores são muito bons e temos uma excelente classe empresarial", discursou.

Além das reuniões, Serra participa de almoços informais com empresários, como os oferecidos pelo ex-secretário municipal Andrea Matarazzo.

Assim como Matarazzo, aliados reforçam a interlocução com o empresariado. O secretário estadual de Agricultura, João Sampaio, por exemplo, tem influência no agronegócio e o presidente da SPTuris, Caio Carvalho, na área do turismo.

Os presidentes da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa), Celso Lafer, e da Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano), Márcio Fortes, também terão o papel de ampliar esse diálogo.

"Serra considera importante saber o que o mercado pensa. Mas sabe que o mercado, por si só, não faz o bem público", afirma Lafer.

Fortes, por sua vez, minimiza resistências ao nome de Serra. Mas tucanos reconhecem que sua personalidade forte, aliada à crítica à política monetária, alimenta restrições em alguns setores, como os bancos. Recente entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), prometendo mudanças nas metas de inflação, acabou por fomentar uma insegurança.Interlocutor de Serra, o economista Roberto Gianetti da Fonseca afirma que a entrevista não retrata o pensamento do governador. "Ninguém tem condição de fazer uma política detalhada para 2011, diante das incertezas sobre o exercício de 2010. É muito cedo para dizer isso", justifica Gianetti, acrescentando, porém, que Serra não esconde seu ponto de vista sobre política cambial.

"O Serra sempre deixou claro que acha a taxa de câmbio bastante apreciada, que seria importante reduzir a taxa de juros, mudar a política econômica no sentido de gerar maior crescimento com estabilidade."

Tendo já se declarado à esquerda do PT, Serra se apresenta, em discursos, como defensor do desenvolvimento com estabilidade. Em seu portfólio, exibe ações dos tempos de Legislativo, como a instituição do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), ou a recente redução de ICMS para bens de capital. Mas isso não basta para aplacar resistência.

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