sábado, 23 de janeiro de 2010

Troca de ofensas serve para demarcar território

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Discurso do PT irá comparar Lula a FHC; PSDB venderá "continuidade sem continuísmo"

Fernando Rodrigues
Da Sucursal de Brasília

O conteúdo vitriólico das notas e declarações disparadas por PT e PSDB nos últimos dias tem um objetivo simples: demarcar território e fixar a imagem que cada legenda julga conveniente para seu postulante ao Planalto.

Tucanos e petistas já definiram a linha geral dos discursos a partir de junho, quando começa oficialmente a campanha.

O foco do PT no plano nacional será dizer que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma administração melhor do que a de seu antecessor, o tucano Fernando Henrique Cardoso. Para tanto, interessa aos petistas insinuar que tucanos no Planalto serão sinônimo de retrocesso, com o cancelamento de programas atuais.

Do lado do PSDB, o enfoque do discurso no plano nacional será o de reconhecer avanços no atual governo, mas sugerir que muito mais poderia e será feito com um tucano no lugar de Lula. É a proposta de continuidade sem continuísmo, usada por candidatos de oposição em disputa contra administradores bem avaliados.

Nesta fase de pré-campanha, políticos sempre tentam duas coisas: 1) fixar determinados conceitos positivos para si e 2) colar imagens negativas nos rivais. A estratégia é definida por extensas pesquisas qualitativas sobre o humor do eleitor.

No final do ano, por exemplo, circulou no Planalto pesquisa na qual os eleitores diziam estar muito satisfeitos com Lula, mas que enxergavam o tucano José Serra como o mais habilitado a dar continuidade ao programa do presidente petista.

Não é à toa que os tucanos enfatizam sempre em suas críticas o suposto "despreparo" de Dilma Rousseff. Também não é por acaso que Dilma é mostrada pelo PT de maneira recorrente como se fosse uma executiva de sucesso, ao lado de Lula.

Para dar certo, essa política de ataques mútuos precisa preservar o candidato. As pesquisas (sempre elas) mostram que o eleitor rejeita quem fala em tom beligerante. Foi o erro de Lula em várias eleições nas quais saiu derrotado. A solução é terceirizar a artilharia pesada para um pelotão que preserva o principal interessado.

No caso do PSDB, foi o presidente nacional da legenda, Sérgio Guerra, que deu entrevista classificando como ficção o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), propondo sua eliminação num possível governo tucano. Mais adiante, ao ser atacado, Guerra teve o auxílio nos bastidores de José Serra para escrever uma nota mais dura, na qual acusava Dilma de "mentir". Mas Serra nunca apareceu desempenhando o papel de agressor.

No PT a estratégia é idêntica. Dilma aparece em público fazendo discursos mais políticos. Quem apareceu para bater e chamar Guerra de "jagunço da política" foi o presidente nacional petista, Ricardo Berzoini.

Lula é uma exceção. Do alto de sua popularidade recorde, flutua entre refutar o "baixo nível" e chamar o dirigente tucano Sérgio Guerra de "babaca" durante reunião ministerial.

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