sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Candidatura de Dilma deve crescer mais, dizem analistas

Agência Estado

Anne Warth

SÃO PAULO - A virtual candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República está em ritmo ascendente e deve continuar a crescer, avaliam cientistas políticos consultados pela Agência Estado. Para eles, a pesquisa Ibope/Diário do Comércio encomendada pela Associação Comercial de São Paulo indica que a petista ainda não atingiu um teto e ainda deve ser beneficiada pelos altos índices de aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No levantamento, Dilma aparece com 25% das intenções de voto, atrás do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), com 36%.

"Ainda acho que Dilma está aquém do que deveria estar, diante da superexposição a que está sendo submetida. Seria até estranho se ela não crescesse. É um resultado mais do que esperado", afirmou o cientista político Humberto Dantas, conselheiro do Movimento Voto Consciente.

Para o analista de pesquisa eleitoral Sidney Kuntz, a ministra deve se beneficiar também do fato de que 34% dos entrevistados na pesquisa querem a total continuidade do governo e 29% almejam pequenas mudanças com continuidade. Dantas corrobora a opinião, destacando que 78% dos consultados confiam no presidente Lula.

"Na hora em que a campanha começar e o presidente aparecer pedindo votos para Dilma, as intenções de voto devem aumentar ainda mais." Na avaliação de Kuntz, a pesquisa indica que o timing de José Serra está no limite, ou seja, ele tem que dizer se é ou não candidato. "Se a vantagem entre ele e Dilma continuar a cair, vai ficar difícil para o tucano iniciar uma campanha com competitividade", reiterou.

Kuntz disse também que Serra já foi candidato à Presidência e é mais conhecido do que Dilma, e caso não haja uma definição do candidato tucano a vantagem da petista poderá se acentuar nas próximas pesquisas. "Além de entrar no cenário, Serra não poderá perder tempo para indicar o seu vice."

Dantas ponderou que Dilma e Serra estão em situações opostas. Enquanto a petista precisa se expor porque não é tão conhecida pelo eleitor, Serra tem a vantagem de já ter concorrido ao cargo. "Serra não precisa aparecer, ele já lidera as intenções de voto", afirmou. Porém, para o cientista político, a dificuldade do PSDB será emplacar um discurso convincente como oposição tendo em vista os altos índices de aprovação de Lula e de seu governo.

O conselheiro do Movimento Voto Consciente questionou também a linha de campanha indicada pelo Instituto Teotônio Vilela, do PSDB. "Herança maldita é bom caminho quando inteligível. Nesse caso, falar sobre o déficit das contas externas é muito complicado para o cidadão comum, que tem emprego e consegue comprar seus bens. Essa herança maldita é de inteligibilidade difícil e acho que não vai colar", opinou.

Na avaliação dele, o desejo de continuidade do eleitor mostra um cenário eleitoral no qual os tucanos irão enfrentar uma campanha dificílima.

Um comentário:

  1. Os silêncios de Serra

    José Serra evita assumir a candidatura presidencial porque ainda não confia em suas chances de vitória. Pragmático, sabe que uma derrota o afastaria, talvez definitivamente, do comando peessedebista em São Paulo. A liderança passaria ao novo governador, provavelmente Geraldo Alckmin, que disputa espaço com Serra e substituirá seus apadrinhados assim que possível.
    Um remoto fracasso nos âmbitos nacional e estadual causaria estrago ainda maior, podendo inclusive levar à desintegração do PSDB. Por outro lado, aceitando a reeleição, dada como inevitável até por seus adversários, Serra garantiria uma imensa máquina administrativa e manteria posição destacada no partido.
    Mas ele possui outros motivos para adiar uma definição. Não resta dúvida, se alguma houve, de que a campanha presidencial terá caráter predominantemente plebiscitário. Qualquer pré-candidato oposicionista, assim que se assuma como tal, será constrangido a posicionar-se acerca das principais vitrines do governo Lula. Deverá anunciar a continuidade ou a interrupção do Bolsa Família e do PAC, por exemplo. Na primeira hipótese, para não contrariar a grande aprovação popular, entraria em conflito com o próprio discurso repetido pela oposição nos oito anos de governo Lula. Optando pelo posicionamento mais coerente, desagradaria uma porção relevante do eleitorado.
    Em 2006, a candidatura Alckmin naufragou precocemente porque não soube escapar desse dilema. Serra, por temperamento e opção estratégica, precisa fugir da indefinição constrangedora a que seu colega tucano foi jogado. A solução plausível é despolitizar os debates que antecedem as definições das candidaturas, apostando no enfoque biográfico e numa imagem de excelência administrativa que a grande imprensa serrista procura espalhar pelo país.
    Trata-se, portanto, de empobrecer a agenda eleitoral até que Dilma Rousseff esteja exposta, sem anteparos institucionais, vulnerável a ataques pessoais. Serra então divulgaria sua versão da “Carta aos brasileiros” petista, inaugurando uma nova fase na sucessão. Ou deixaria a incumbência para Aécio Neves, que tem muito menos a perder.

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