sábado, 27 de fevereiro de 2010

Lula diz que não deve satisfações aos EUA

DEU EM O GLOBO

Presidente garante que interesse no Irã é comercial e, em Brasília, Amorim prepara visita de Hillary Clinton

Eliane Oliveira e Luiza Damé*

BRASÍLIA E SAN SALVADOR. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que não vai aceitar interferência dos Estados Unidos nas relações entre o Brasil e o Irã. Em visita a El Salvador, Lula disse que os EUA não vão decidir quais países o presidente brasileiro pode ou não visitar. Lula tem viagem a Teerã agendada para maio.

— Os EUA nunca me pediram para viajarem para qualquer país, não têm que prestar contas a mim. Eles visitam quem querem e eu visito quem quero, dentro do respeito soberano de cada país. Não vejo nenhum problema em visitar o Irã. Não terei que prestar contas a ninguém, a não ser ao povo brasileiro — disse Lula.

Lula, que é contra as sanções ao Irã, insistiu que o interesse do Brasil no país é comercial.

O governo americano vem tentando mudar a posição brasileira — tema que deve ser tratado com a secretária de Estado, Hillary Clinton, na quarta-feira em Brasília.

Numa mensagem que agradou ao Itamaraty, em Brasília, o subsecretário de Estado para Assuntos Políticos dos EUA, William Burns, afirmou que seu país quer chegar a um entendimento com a Rússia sobre a redução do número de ogivas e ratificar no Senado americano o Tratado de Interdição Completa de Testes Nucleares (CTBT, sigla em inglês) antes da Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), marcada para maio, em Nova York.

A declaração tenta mostrar ao Brasil que os EUA estão avançando na questão do desarmamento e esperam, do lado brasileiro, uma mudança na posição inflexível de condenar as sanções ao Irã.

O impasse quanto aos iranianos foi tratado com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Segundo assessores, houve “uma troca de impressões” e Amorim lembrou que o Brasil sempre foi favorável à não-proliferação de armas atômicas.

EUA querem inspeções na usina de Resende Os americanos aguardam, nas próximas semanas, a publicação do “Nuclear Posture Review” (NPR), documento que relaciona o uso de armas nucleares na segurança dos EUA.

O último NPR, de 2002, colocava esse tipo de arma como uma entre as diversas opções de defesa.

O Brasil espera que seja reduzida a ênfase nuclear e que os EUA abram mão ao direito de “primeiro uso”, só usando esse recurso se for ameaçado.

Segundo um alto funcionário brasileiro, os EUA também tentam pressionar o Brasil a assinar um protocolo que permita inspeções mais intrusivas na usina de enriquecimento de urânio de Resende. O Brasil sempre se recusou, e Burns, cuidadosamente, evitou falar sobre o tema.

Sobre a América Latina, Burns disse que os EUA são a favor da reforma na Organização dos Estados Americanos (OEA), para produzir resultados concretos.

A visita de Hillary ao Brasil foi bastante discutida. Será assinada uma declaração criando um mecanismo abrangente de cooperação em vários setores até a junção democracia-desenvolvimento.

Na prática, os dois países ajudariam terceiros a se desenvolverem, fortalecendo a democracia.

Honduras, Cuba e Haiti são alguns exemplos

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