quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O palanque aceita tudo

DEU EM O GLOBO

Lula inaugura universidade sem água

Se a campanha eleitoral seguir o ritmo de Lula e Dilma ontem em Minas, o eleitor vai precisar tomar muito cuidado. O presidente saiu de Brasília para inaugurar apenas 98 casas populares e, no mesmo ritmo, abriu às pressas uma universidade em Teófilo Otoni sem água, sem acessos e com falta de professores. Apesar das vaias dos estudantes, Lula não se abalou: “Vou continuar viajando até o dia 31 de dezembro à meia-noite. Até lá, a festa é minha.”

Lula inaugura universidade que mal consegue funcionar

Faltam professores, água, acesso; estudantes protestaram na solenidade

Fábio Fabrini Enviado especial

TEÓFILO OTONI. A inauguração de dois prédios da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) pelo presidente Lula virou palco para protestos de estudantes que denunciavam os problemas de estrutura. Há falta de acessos ao local, déficit de professores e carência de água. No palanque, o presidente Lula e sua comitiva tiveram de enfrentar os protestos. O governo admitiu falhas e prometeu avaliar as reivindicações.

As obras de um campus avançado para a universidade começaram em 2007, com previsão de entrega em 2012. Dos dez prédios, cinco ainda estão em construção e três sequer saíram do papel, segundo a reitoria, que admite atraso no cronograma. Os dois edifícios entregues ontem abrigam desde agosto cerca de mil alunos, matriculados em seis cursos. Mas só se chega a eles por uma rua de terra ou trilhas de boi. Em dias de chuva forte, carros e ônibus não atravessam a lama, o que tem levado ao cancelamento das aulas. No semestre passado, os alunos perderam 15 dias. Ontem, as vaias dos estudantes chegaram a abafar os discursos da prefeita de Teófilo Otoni, Maria José Hauesein (PT), e do reitor, Pedro Angelo Almeida Abreu.

A UFVJM tem 54 professores, 26 a menos que o ideal, reconhece a reitoria, que atribui o problema ao MEC. Segundo a instituição, cabe ao governo abrir vagas para docentes. Os estudantes de Serviço Social, por exemplo, reclamam que, para os sete períodos do curso, há sete pessoas para ensinar.

— Estamos voltando aos tempos da escola primária, quando tínhamos uma “tia” para várias matérias — diz Marcos Antunes Lopes, de 21 anos, aluno de Serviço Social e integrante do DCE.

Os alunos reclamam da falta de itens básicos, como bebedouros. Como o sol bate todo o dia no reservatório, não raro alunos da noite bebem água quente. Ontem, representantes do Diretório Central dos Estudantes distribuíram um manifesto no qual reclamam que os prédios funcionam sem alvará do Corpo de Bombeiros.

Também reclamam da falta de água e da climatização dos ambientes.

As obras deveriam custar R$ 30 milhões, mas o orçamento deve estourar. Sobre o cronograma, a UFVJM alega atrasos no repasse de verbas. Diante do palanque, os estudantes estenderam faixas cobrando providências. O ministro da Educação, Fernando Haddad, reconheceu os problemas no palanque e prometeu ouvir as queixas numa reunião com o reitor: — Algumas obras deixaram de estar no cronograma. Vamos avaliar as reivindicações e alocar recursos. A região pode ser pobre, mas a qualidade de ensino não tem que ser pobre.

Em seu discurso, Lula se dirigiu aos estudantes e os incentivou a brigar “pelo melhor”, mas, em tom de recomendação, cobrou respeito às autoridades.

Exaltou os números de seu governo. E criticou a elite do país por, segundo ele, não se preocupar com a geração de oportunidades na educação: — A elite brasileira, por muito tempo, foi perversa, porque estudava, mas não queria que o povo estudasse — disse.


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