quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ofensiva de FHC não foi combinada, mas tucanos apoiam

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Líderes afirmam que ex-presidente não está "na contramão nem fora do tom", mas Serra evitará bate-boca

Christiane Samarco, Ana Paula Scinocca

BRASÍLIA – A ofensiva do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contra as críticas e as avaliações dos governos tucanos (1995-2002) feitas pelo presidente Lula e pela candidata petista ao Planalto, Dilma Rousseff, não foi previamente combinada com a cúpula do PSDB. Apesar disso, as lideranças do PSDB disseram ontem que o ex-presidente não está "nem na contramão nem fora do tom".

A única definição estratégica dos tucanos, até agora, é esta: o governador e pré-candidato ao Planalto, José Serra, oficializa a candidatura em março e, até lá, não se envolve em nenhum bate-boca com Lula porque o presidente não é o candidato a enfrentar. O próprio Serra, em entrevista ao Estado, em meados do mês passado, disse que "candidato a presidente não é chefe da oposição".

Essa frase de Serra e a pouca disposição dos líderes do PSDB no Congresso em defender os governos tucanos liberaram Fernando Henrique para fazer o papel de "líder da oposição" nesta pré-campanha. Os congressistas tucanos estão vendo duas serventias na disposição crítica do ex-presidente: não deixar Lula e Dilma falarem sozinhos e, ao mesmo tempo, expor publicamente a crítica que os petistas menos gostam de ouvir, que a política econômica do governo Lula é continuidade da política econômica tucana.

"As mentiras do PT têm de ser desmascaradas e Fernando Henrique está mostrando muito bem que tentaram inventar um inimigo virtual. Este governo tem coisas boas e ruins, mas todas as coisas boas deste governo não são novas e o que é novo não é bom", resumiu o deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES), que preside o Instituto Tancredo Neves de estudos e pesquisas do PSDB. Para a cúpula tucana, o ex-presidente é hoje quem melhor pode falar pela oposição neste momento de pré-campanha, em que não há candidato oficial ao Planalto. Até por haver mais continuidade do que divergência, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse ontem que a estratégia continua sendo a de não ficar na comparação entre os dois governos.
"O PT quer comparar passado contra passado porque quer esconder a candidata", afirmou Guerra. "Fernando Henrique nos orgulha muito pelo que fez, pelo que faz e pelo que diz, mas o debate da campanha não será entre ele e Lula, mas entre Serra e Dilma."

"PERFIL AUTORITÁRIO"

Na campanha eleitoral, ao levar Dilma para o centro do debate, o PSDB quer explorar as "deficiências" da ministra, como a suposta falta de experiência administrativa e seu "perfil autoritário". Nesse quesito, avaliam os tucanos, Serra sai na dianteira, já que ocupou vários postos-chave, em diferentes níveis de governo, entre os quais o de ministro da Saúde (1998 a 2002), prefeito de São Paulo (2005 a 2006) e agora o de governador paulista.

Ao decidir tentar afastar Lula do centro do debate, Serra não poderá ser hostil ao petista.

"Serra não será o anti-Lula", avisou Guerra. Por causa do alto índice de popularidade do presidente, a meta é mostrar, em certa medida, até uma semelhança entre eles ? inclusive na biografia. De origem humilde, filho de feirante, foi no bairro paulistano da Mooca, na zona leste, que o tucano aprendeu a descascar seus primeiros abacaxis. "Vai ser a campanha do governante José Serra, e não apenas a do Serra, intelectual e bom gestor", resumiu um articulador do partido.

Segundo os líderes do partido, o candidato tucano não terá problemas em se comprometer com a manutenção de programas do governo Lula, como o Bolsa-Família. "Pode até ampliar a rede de proteção social", dizem.

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