segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ricardo Noblat:: Dilma aperta Serra

DEU EM O GLOBO

O que disse Lula quando o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, pediu socorro na última quarta-feira para tornar viável a candidatura a presidente da República do deputado Ciro Gomes (PSB-CE)? Os dois conversaram a respeito antes de Lula ser internado às pressas no Hospital Português do Recife. Sua pressão arterial era de 18 por 12.

Eduardo havia argumentado com Lula que a candidatura de Ciro seria vital para impulsionar o crescimento do PSB e ampliar as chances de Dilma Rousseff derrotar José Serra (PSDB) em um possível segundo turno. Dos 10 candidatos do partido a governos estaduais, cinco lideram as pesquisas de intenção de voto. O PSB tem 29 deputados federais. Imagina eleger entre 40 a 45.

Como presidente do PSB, Eduardo pretendia que Lula cedesse a Ciro o passe de dois pequenos partidos, talvez o PCdoB e o PP. Sem tal favor, Ciro não será candidato, garantiu Eduardo. É mínimo o tempo de propaganda eleitoral do PSB no rádio e na televisão. Só aumentará via coligação com outros partidos. Lula também poderia indicar fontes de financiamento para a campanha de Ciro.

E o que respondeu Lula? Primeiro elogiou Ciro, seu ex-ministro da Integração Nacional. Chorou ao afirmar que nenhum ministro foi mais leal do que ele. Segundo admitiu carecer de autoridade para exigir que companheiros desistissem de ser candidatos – logo ele, que disputou cinco eleições presidenciais seguidas. Por último, esqueceu de responder ao pedido de ajuda de Eduardo.

"Não disse sim nem disse não”, contou Eduardo a um assessor. “Se não disse sim nem não é porque é não”. Para o público externo foi oferecida a desculpa de que Eduardo e Lula adiaram a decisão sobre o destino de Ciro. O programa semestral de propaganda do PSB na televisão irá ao ar no próximo dia 18. Eduardo espera que ele sirva para Ciro amealhar mais votos. Se isso ocorrer – quem sabe?

Em dezembro do ano passado, quando o Datafolha sondou a intenção de voto dos brasileiros ouvindo 11.429 pessoas em todos os Estados, Ciro apareceu como o cara capaz de empurrar para o segundo turno a escolha do sucessor de Lula. Sem ele no páreo, Serra derrotaria Dilma no primeiro turno com 51,9% dos votos válidos contra 33,8%. Com Ciro no páreo, Serra ficaria com 45,6% dos votos válidos, e Dilma, 28,4%.

Ao limitar a disputa pela vaga de Lula a Serra, Dilma e Marina Silva (PV), o Datafolha descobriu que 43% dos eleitores de Ciro votariam em Serra, 15% em Dilma e 13% em Marina. Os 28% restantes se dividiriam entre não votar em nenhum dos três e não saber em quem votar. Na medida em que se identifique cada vez mais com Lula, é razoável que Dilma subtraia votos de Ciro.

Mas é verdade também que Ciro candidato, disposto a criticar Serra sem dó nem piedade, contribuiria para fazer minguar o número de eleitores dele capazes de votar em Serra no segundo turno. Na simulação do segundo turno produzida pelo Datafolha, Serra atrairia os votos de 55% dos eleitores de Ciro, e Dilma, de 29%. Os votos de Marina se repartiriam assim: 45% para Dilma e 37% para Serra.

A cabeça de Lula está feita. Ele quer uma eleição simplificada na base do “nós contra eles”. Se for o caso, prefere ver Dilma vencida por Serra direto no primeiro turno a se arriscar a assistir a um segundo turno disputado por Serra com outro candidato – Ciro, por exemplo. Pegaria mal para ele. De resto, Lula parece convencido de que a eleição acabará liquidada no primeiro turno com a vitória de Dilma.

Tem motivos para pensar assim. Um deles: o fato de Aécio Neves (PSDB), governador de Minas Gerais, recusar o lugar de vice na chapa de Serra. “Aécio se engajará na campanha de Serra, mas não será vice dele”, repete Lula, convicto e animado, entre amigos. Outro motivo: pesquisas recentes, encomendadas por bancos, registraram a queda da vantagem de Serra sobre Dilma. Ela ficou abaixo dos 10 pontos percentuais.

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