quinta-feira, 11 de março de 2010

Bancoop atrasou até triplex de Lula

DEU EM O GLOBO

Em 2005, o presidente Lula e dona Marisa Letícia compraram uma cobertura triplex de frente para o mar na Praia das Astúrias, no balneário paulista de Guarujá, mas amargam até hoje na fila. O casal é uma das vítimas da Bancoop, cooperativa habitacional dos bancários, que está sob investigação do MP por suspeita de desviar recursos para campanhas do PT. Incapaz de concluir a obra, a Bancoop repassou-a para a construtora OAS, mas ela continua parada. Um imóvel como o de Lula naquela praia pode passar de R$ 1 milhão.

Segurança relata escolta para saques da Bancoop

E conta que depois Vaccari, hoje tesoureiro do PT, se reunia com presidente da cooperativa

Leila Suwwan SÃO PAULO

Testemunha-chave na investigação do caso Bancoop, o chefe de segurança da Cooperativa Habitacional dos Bancários até 2004, Andy Roberto Gurczynska, afirma ter realizado a escolta de funcionários da entidade na realização dos saques em dinheiro operação que teria sido utilizada para desviar somas milionárias dos empreendimentos imobiliários, parte deles supostamente para campanhas do PT.

Segundo ele, o ex-presidente da BancoopLuiz Malheiro, morto em acidente de carro em 2004, realizava encontros após os saques com João VaccariNeto, então presidente do Sindicato dos Bancários e hoje tesoureiro nacional do PT.

Gurczynska afirma, porém, que não presenciou a suposta entrega de envelopes de dinheiro.Vaccari nega as acusações e sustenta que as transações investigadas peloMinistério Público de São Paulo não eram saques e sim transferências interbancárias.

Em entrevista ao GLOBO na noite de anteontem,Gurczynska revelou que o controle de caixa do suposto esquema de desvio de recursos da Bancoop era acompanhado pela secretária particular de Luiz Malheiro, Helena Lage. Era ela quem programava os saques, enviava os funcionários e encomendava a escolta de seguranças.
Depois, contou ele, Helena recebia os recursos na sede da Bancoop

Encontros também com Berzoini

Além de encontros frequentes com Vaccari, o segurança relata que Malheiro também era escoltado para encontros com Ricardo Berzoini, na época em que este já era ministro da Previdência.

O petista era tratado como chefe. Gurczynska trabalhou para a Bancoop até a chegada de Vaccari, quando sua equipe foi substituída pela empresa Caso, de Freud Godoy, envolvido no escândalos dos aloprados um grupo ligadoao PT que tentou comprar um suposto dossiê contra o governador José Serra e outros tucanos nas eleições de 2006.

Eu ia até o banco com mais um para escoltar, geralmente, uma terceira pessoa. Entrávamos até determinada sala da tesouraria. De lá para dentro, a outra pessoa entrava e ela só trazia o pacote. Quando eu digo pacote, não era um pacote gigante.

Era coisa pequena. Muitas vezes era um envelope, muitas vezes aquele envelope grande, A4.

Muitas vezes trazia no próprio corpo. A pessoa entrava e saía. Se pedia escolta, era para escoltar alguma coisa disse Gurczynska.

Ele aceitou conceder entrevista ao GLOBO, mas estava sob forte esquema de segurança e pediu para não ter o rosto fotografado.

Segundo Gurczynska,os saques eram realizados por diversos funcionários do baixo escalão administrativo da Bancoop, a pedido de Helena Lage, que tinha um bom levantamento de tudo o que entrava e saía.

Ela e o irmão do Luiz (Hélio Malheiro) são as provas vivas de tudo.

Eram as pessoas mais próximas a ele e que tinham conhecimento.

Hélio prestou depoimento e entrou no programa de proteção às testemunhas após a morte do irmão. Helena, que não trabalha mais na Bancoop, segundo depoimentos,teria herdado a parte de Luiz Malheiro na empreiteira Germany, que teria sido utilizada na triangulação e desvios de recursos.

(O dinheiro sacado) era entregue para quem solicitou nossa escolta.

De lá,a gente não via o envelope até a gente ser solicitado para ir para outro lugar, que muitas vezes era o sindicato (dos bancários, presidido por Vaccari) relatou.

Gurczynska disse que os saques das contas da Bancoop, já em posse do promotor José Carlos Blat, que comanda as investigações, seriam as provas materiais de seu depoimento, prestado ao MP em janeiro de 2008. Afirmou não ter mantido registro dos encontros do chefe, para o qual sempre realizou a logística prévia e escolta.

Uma vez, o Berzoini ganhou uma caneta Mont Blanc. Ele (Malheiro) disse que estava presenteando o chefe por alguma coisa disse Gurczynska, lembrando que o petista era ministro da Previdência e tinha escolta da Polícia Federal.

Vaccari se disse perseguido por MP

Berzoini não foi localizado no celular ontem à noite. A assessoria de imprensa do PT informou que Vaccari Neto não concederia entrevista nem faria qualquer manifestação sobre o caso.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo de ontem, Vaccari negou a existência de caixa dois no PT e o rombo de R$ 100 milhões na Bancoop, cifra estimada pelo MP. Disse ainda que Helio Malheiros e Andy Gurczysnka foram demitidos da Bancoop por má prestação de serviços. Esse promotor quer sacanear comigo porque sou petista, tesoureiro do PT, disse Vaccari na entrevista.

Seu advogado, Luiz Flávio D’Urso, disse que Vaccari só passou a gerir a Bancoop em 2005 e que Gurczynska sequer afirma ter visto a suposta entrega de dinheiro.

Vamos aguardar se ele depõe prestando compromisso, sob responsabilidade da lei por falso testemunho afirmou o advogado.

O segurança disse que decidiu depor em favor das famílias prejudicadas na compra dos apartamentos. Antecipando ataques, afirmou que é um dos cooperados seu apartamento foi entregue e que cobrou na Justiça fatura de cerca de R$70 mil que teria ficado em aberto após sua dispensa.

Não sou nenhum Robin Hood. Os cooperados querem Justiça, não estão querendo prejudicar ninguém. Acho que quando a gente conta a verdade, dá para sustentar o resto da vida.

Ontem, dez associações de cooperados da Bancoop protocolaram pedido de intervenção e dissolução da entidade no MP. O grupo se reuniu com o promotor de Justiça do Patrimônio Público e Social, Saad Mazloum, para detalhar as investigações e as suspeitas defraude e desvios. O pedido será encaminhado a um promotor por sorteio e correrá de forma independente.

O promotor José Carlos Blat já pediu o bloqueio das contas da Bancoop e a quebra de sigilo de Vaccari Neto. A defesa do tesoureiro do PT recorreu

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