sábado, 13 de março de 2010

Crise afetou potencial de expansão futura do PIB

DEU EM O GLOBO

Demora na retomada dos investimentos atrapalha, dizem analistas. Governo aposta na 2ª fase do PAC

Vivian Oswald e Martha Beck

BRASÍLIA. O tropeço da economia brasileira depois de 16 anos crescendo vai custar caro ao país e pode comprometer nos próximos anos o chamado Produto Interno Bruto (PIB) potencial - taxa de crescimento limite, ou seja, que não causa distorções como inflação. Este teto era estimado por economistas e governo em algo entre 4,5% e 5% antes da crise e poderá demorar a se recompor de forma sustentável. O prazo da retomada ainda é incerto, mas já se fala em um futuro menos auspicioso. A velocidade de expansão dos investimentos é fator chave nesta equação.

O mercado acredita que os investimentos que alavancam a atividade econômica ainda vão demorar a voltar aos níveis pré-crise e, com isso, prejudicar a taxa de crescimento esperado para os próximos anos. O governo, contudo, já aposta que o reaquecimento iniciado no fim do ano passado deve servir de combustível para que a economia cresça, sim, a uma média de 5% a 5,5% anualmente até 2014.

A Sobeet, entidade que reúne as empresas transnacionais, calcula que a recuperação dos investimentos no país após uma crise deste porte leva cerca de 12 trimestres. Ou seja, são necessários três anos para que o volume volte aos níveis em que se encontrava antes de deflagrada a crise.

"Não há poupança interna suficiente para investimento"

A entidade adverte ainda que, apesar do apetite de estrangeiros por grandes eventos previstos para o Brasil a médio prazo - Copa, Olimpíadas e pré-sal - os investimentos estrangeiros diretos não darão conta do recado, porque já não têm tanto espaço para se expandir. Segundo o presidente da Sobeet, Luis Afonso Lima, os investimentos diretos no Brasil hoje correspondem a 15% da formação bruta de capital fixo no país (indicador de investimento do PIB). Historicamente, este valor é de 12% no mercado internacional.

- Dificilmente chega a 20%. O resto terá que vir do mercado interno, do governo e do setor privado - diz Lima.

O ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas Gomes diz que, se o motor da economia no ano passado foi o consumo, a partir deste ano tem que ser o investimento.

- Só o consumo não dá. Ano passado foi atípico. Estamos vivendo pela primeira vez um contexto em que não há poupança interna suficiente para fazer investimento. Ela tem sido usada pelos cidadãos para consumo e pelo governo para o custeio. E a poupança externa, as transações externas, não tem folga.

Mas o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, garante que os investimentos voltam rápido, principalmente em função da segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), a ser anunciado dia 29. Ele admitiu que, antes da crise, o governo contava com um potencial de crescimento de 4,5% e 5%, mas, diante das turbulências, a faixa foi revisada para 4% e 4,5% no período de crise:

- Este ano, voltaremos ao patamar pré-crise. E, a partir de 2011, já trabalhamos com algo entre 5% e 5,5%.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o resultado do PIB de 2009 não altera as perspectivas de crescimento brasileiro para os próximos anos.

- Em 2009, foi registrado um ponto de inflexão em todo o mundo, mas com intensidades diferentes. Esse fato preservou a expectativa de crescimento para os próximos cinco anos ao redor de 4,5% ao ano em média - afirma.

A projeção do governo para o crescimento de 2010 está em 5,2%, mas, como já adiantou o ministro Guido Mantega, o percentual deve ser ajustado, podendo chegar a 5,7%. Para o período de 2011 a 2014, o crescimento médio efetivo da economia deve ficar entre 5% e 5,5%, prevê o governo.

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