segunda-feira, 1 de março de 2010

A hora do corredor polonês

DEU NO CORREIO BRAZILIENSE

Nas Entrelinhas :: Alon Feuerwerker

As denúncias que mexeram no quadro eleitoral daquele 2002 esquentaram entre março e abril. As notícias desse fim de semana indicam que este ano não será diferente: é a hora do pântano

Por Denise Rothenburg

O PT fez uma festa nos bastidores por conta da pesquisa Datafolha divulgada neste fim de semana que mostra o indiscutível crescimento da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, de 23% para 28%, enquanto José Serra (PSDB) caiu de 37% para 32% no cenário em que Ciro Gomes (PSB) e Marina Silva (PV) estão no páreo. Um grupo de tucanos partiu para o desespero, achando que, ou põe seu bloco na rua agora, ou adeus. A história mostra que os dois estão errados.

Primeiro, vale a pena relembrar o que nos diz a última eleição em que um presidente da República não era candidato. Como Lula também não é. Em fevereiro de 2002, quando Fernando Henrique se despediu da Presidência, as diferenças entre o resultado e a largada foram grandes.

Em fevereiro daquele ano, a onda era da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, então do PFL. Ela apareceu com 23% na pesquisa Datafolha, pouco atrás de Lula, que liderava com 26%. José Serra, então ministro da Saúde, surgia em quarto, com 10%, atrás de Anthony Garotinho (13%). Ciro Gomes somava 8% da preferência do eleitorado.

Em abril, Roseana estava fora disputa por causa do dinheiro apreendido na Lunus, a empresa administrada pelo marido. Mais tarde, ela foi inocentada de qualquer processo e os valores acabaram devolvidos, mas o estrago estava feito: o então PFL jogou a culpa no PSDB e ficou longe de José Serra na campanha presidencial. O PMDB se aliou ao tucano e só teve a deputada Rita Camata como vice porque todos os demais listados para a função — inclusive o atual líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, hoje um dos mentores da aliança com Dilma — sucumbiram ao longo do caminho por conta de denúncias de irregularidades. A história acima mostra que as denúncias capazes de mexer com o cenário eleitoral daquele 2002 surgem entre março, abril e maio, o trimestre que antecede a temporada das convenções para a escolha dos candidatos. Os políticos que prestaram atenção em outros pontos do noticiário do último fim de semana, além da pesquisa do Datafolha e da tragédia provocada pelo terremoto no Chile, não têm dúvidas: chegou a hora do pântano na campanha presidencial.

O mesmo fim de semana que traz a pesquisa Datafolha põe luz sobre o escândalo do mensalão petista, com trechos do processo em curso no Supremo Tribunal Federal divulgados pela Revista IstoÉ. O material apresentado pelo semanário deixa claro que a investigação andou e há indícios cada vez mais fortes de que houve, sim, dinheiro público incluído na história, e não apenas recursos recolhidos de empresas que não quiseram aparecer — o caixa dois —, como os atores procuraram demonstrar lá atrás.

As notícias que jogam lama sobre o PT não pararam por aí. Na semana passada apareceu a Eletronet, a empresa que bombou depois de ter José Dirceu como consultor. Ciro Gomes (PSB) se referiu a esse caso como parte do “roçado de escândalos” que representa a aliança PT-PMDB. “Roçado de escândalos é o avião em que o irmão dele levou a sogra.” A frase eu ouvi na semana passada do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele se referia ao governador do Ceará, Cid Gomes, irmão de Ciro. Ou seja, o clima nos bastidores não está bom.

Como Lula fez em 2002, frio, passando ao largo das brigas entre os aliados do governo FHC e apenas recolhendo os feridos, os tucanos vão tentar fazer o mesmo. Nesta quarta-feira, durante a solenidade para marcar o centenário de Tancredo Neves, farão de tudo para mostrar que estão todos bem — ainda que o ninho esteja completamente agitado e ansioso e a pressão para que Aécio Neves seja vice de Serra esteja a mil.

A ansiedade dos tucanos se justifica. Lula tem junto ao eleitorado um prestígio que FHC não tinha. Tanto é que conseguiu transformar Dilma, neófita nesse campo eleitoral, em uma candidata promissora e em ascensão. Mas Serra continua na frente, sem ser candidato. Essa é a largada no momento de atravessar o pântano. Resta saber quem chegará vivo e forte do outro lado, ou seja, em junho, quando for aberta a temporada das convenções oficiais para a escolha de candidatos. Por enquanto, é uma curva. E de curvas, a estrada até outubro está cheia.

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