sábado, 13 de março de 2010

Lula admite que Jefferson o alertou sobre mensalão

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Em resposta a processo do STF, presidente também dirá que não conhece Marcos Valério

O presidente Lula vai reconhecer pela primeira vez que ouviu em março de 2005 do presidente do PTB, Roberto Jefferson, o alerta sobre o esquema para a compra de congressistas aliados, o mensalão. Isso acontecerá em resposta a questionário do Ministério Público Federal que consta de processo no STF.

O mensalão foi revelado em entrevista de Jefferson à Folha três meses depois.

O presidente responderá que não conhece pessoalmente o publicitário Marcos Valério - operador do maior escândalo de corrupção do governo petista.

Dirá que o publicitário nunca esteve na Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência.

Lula afirmará que pediu investigação informal ao então ministro Aldo Rebelo e ao líder do governo na Câmara na época, Arlindo Chinaglia. Segundo Lula, recebeu a resposta de que não havia provas.

Lula dirá que foi avisado por Jefferson sobre o mensalão

Em resposta ao Ministério Público, presidente confirmará declaração de petebista

Em questionário que integra processo no STF, petista vai negar que conheça Marcos Valério e que o publicitário tenha ido à Granja do Torto

Kennedy Alencar
Da Sucursal de Brasília

Em resposta ao questionário do Ministério Público Federal que consta do processo do mensalão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconhecerá pela primeira vez que ouviu em março de 2005 do presidente do PTB, Roberto Jefferson, o alerta sobre a existência do esquema de compra de congressistas da base aliada.

Segundo a Folha apurou, Lula responderá que não conhece pessoalmente o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser operador do principal escândalo de corrupção do governo petista.

Lula repetirá a versão que já deu em conversas reservadas sobre Valério. Dirá que o publicitário nunca esteve na Granja do Torto, em resposta a uma pergunta específica sobre um suposto encontro.

O mensalão, que consistia na compra de apoio político no Congresso, foi revelado em uma entrevista de Jefferson, então deputado pelo PTB-RJ, à Folha em junho de 2005.Lula confirmará que ouvira de Jefferson em março daquele ano alerta sobre a existência do mensalão em reunião no Palácio do Planalto na qual estavam Aldo Rebelo e Walfrido dos Mares Guia, à época ministros das Relações Institucionais e do Turismo, respectivamente; Arlindo Chinaglia, então líder do governo na Câmara, e José Múcio, na época líder do PTB.

O presidente afirmará que pediu a Aldo e Chinaglia uma investigação informal e que ambos responderam depois que a Câmara, por meio de sua Procuradoria, havia investigado a história e não obtivera provas do esquema.

Na primeira entrevista à Folha, Jefferson afirmou que Lula chorou quando ele o alertou sobre o mensalão e que disse "não ser possível".

Até hoje Lula evitou respostas sobre o alerta de Jefferson. Em entrevista à Folha em outubro de 2007, ele disse: "Não comento Roberto Jefferson". Indagado sobre o motivo da recusa, afirmou : "Não merece que eu faça um comentário" e "é um direito meu dizer que não quero comentar".

No documento do Ministério Público, enviado para Lula em novembro e que até agora não foi respondido, o presidente é questionado se soube do mensalão por outra pessoa. É uma alusão a uma conversa entre o presidente e o então governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, em maio de 2004.

Nesse encontro, Perillo teria dito a Lula que deputados do PSDB receberam oferta de ajuda financeira para migrar para partidos da base governista. Essa resposta estava em debate ontem na Casa Civil. O mais provável seria Lula dizer que não se lembra, pois não teria sido usado o termo mensalão.

O presidente dirá que só soube de detalhes do esquema de compra de apoio parlamentar após as revelações de Jefferson à Folha. Ele deverá afirmar, por exemplo, que só teve ciência pela imprensa dos empréstimos tomados pelo PT com Valério e suas empresas.

Desde a revelação do mensalão, há rumores de que Delúbio Soares, então tesoureiro do PT, teria levado Valério à Granja do Torto para se encontrar com Lula, que nega essa versão.

Esses rumores ganharam força em janeiro de 2008, quando Delúbio depôs no processo do mensalão. Apesar de o ex-tesoureiro ter dito que só responderia a questões da juíza da audiência, o advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, fez uma pergunta entendida como sugestão de que poderia ter havido o encontro entre Lula e o publicitário.

O advogado perguntou a Delúbio: "Frequentou a Granja do Torto, em Brasília? Em caso afirmativo, em companhia de quem?". Delúbio ficou calado. Os dois procuradores federais que elaboraram o questionário, José Alfredo de Paula Silva e Raquel Branquinho, fizeram quatro perguntas específicas para saber se Lula teve relação direta com Valério. Todas tiveram resposta negativa.

Acordo com PL

Há perguntas do Ministério Público sobre eventual ciência do presidente de acordo financeiro entre o PT e o antigo PL, partidos que fizeram aliança em 2002 para formar a chapa presidencial com Lula e José Alencar. O presidente confirmará presença na reunião no apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PA) em 2002 para celebrar a aliança PT-PL.

Lula dirá que teve ciência de entendimentos políticos, mas não financeiros. Afirmará que nunca o então presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o cobrou sobre eventuais recursos que o PT deveria à sua legenda.

O processo do mensalão tramita no Supremo Tribunal Federal e tem previsão de ser julgado em 2011. O Ministério Público fez 33 perguntas, algumas com subdivisões. As respostas deverão ser enviadas em breve à Justiça Federal de Brasília. O subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Beto Vasconcelos, elabora a redação final.

Lula responderá que o publicitário Duda Mendonça, que recebeu recursos do esquema, não lhe falou sobre dívida das campanhas do PT de 2002.

Responderá que conhece e é amigo desde os anos 80 de Delúbio, do ex-ministro José Dirceu, do ex-dirigente do PT Silvio Pereira e dos deputados federais paulistas José Genoino, presidente do PT durante o mensalão, e João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara e beneficiário do valerioduto, segundo o inquérito.

O presidente confirmará que todos integraram o ex-Campo Majoritário, que domina o PT, e responsabilizará a direção do partido pelas escolhas de Dirceu, Delúbio, Pereira e João Paulo para funções em sua campanha eleitoral na sucessão presidencial de 2002.

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