quinta-feira, 25 de março de 2010

Lula volta a acusar imprensa de má-fé

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O presidente Lula disse ontem que os jornalistas têm uma "predileção pela desgraça", ao ignorar as boas ações do governo. Segundo ele, os jornais publicam "muita mentira".

Lula Se diz vítima de "má-fé" da mídia

Presidente acirra ataques, afirma que jornais brasileiros publicam "muita mentira" e os compara a tabloides sensacionalistas londrinos

Leonencio Nossa


BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem duros ataques à atuação de TVs e jornais, no mesmo tom crítico adotado na crise política de 2005 e na campanha pela reeleição em 2006. Ele acusou a imprensa de agir de "má-fé" e dar informações erradas sobre o governo.

"Se daqui a 30 anos alguém tiver que fazer alguma história do Brasil e tiver que ler alguns tabloides, vai estudar muita mentira", disse, comparando os periódicos brasileiros aos jornais sensacionalistas de Londres.

Ao participar de evento de divulgação do programa Territórios da Cidadania, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Lula reclamou especialmente do noticiário recente sobre suas viagens e inaugurações de obras. "É triste quando as pessoas têm dois olhos bons e não querem enxergar e têm a oportunidade de escrever a coisa certa e escrevem errado", disse.

Até ontem, as críticas de Lula à imprensa no segundo mandato tinham sido mais brandas do que as feitas nos quatro primeiros anos de governo. Ele agora elevou o tom, na avaliação de assessores, porque os jornais e TVs, neste começo do processo de sucessão, teriam acabado com a trégua, recorrendo a notícias "erradas" e "contra" o governo.

O presidente, no discurso de ontem, disse que estava fazendo o desabafo para o noticiário não piorar ainda mais. "Se você se acovardar, eles (jornais) vêm para cima. Se tem uma coisa que não temos que ter é vergonha do que fizemos neste país", afirmou. Ele reclamou, em especial, da cobertura das inaugurações de obras.

"Esses dias eu fiquei triste. Inaugurei duas mil casas e não vi uma nota no jornal. Mas, quando cai um barraco, eles dizem que caiu uma casa", disse. "É uma predileção pela desgraça."

Confecom. Ele ainda reclamou que empresários do setor foram convidados a participar da Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), organizada pelo governo no ano passado, mas não compareceram. Ao reclamar da cobertura negativa de suas ações, Lula voltou a acusar a imprensa de preconceito por sua origem. "Se não querem saber pelos seus olhos, poderiam saber pelas pesquisas de opinião pública. Mas ainda assim não querem ver", disse.

Lula disse que os embates políticos, decorrentes da disputa eleitoral deste ano, não podem atrapalhar o andamento das ações do governo e especialmente os programas sociais. Ele reafirmou que lançará na próxima segunda-feira a segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento, o chamado PAC 2, para garantir ao próximo presidente orçamento para tocar as obras. Nesse momento do discurso, os participantes do evento começaram a gritar o nome da ministra da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência.

"Eu não posso dizer quem vai ser (o próximo presidente), apesar de, na minha cabeça, eu ter consciência do que vai acontecer neste ano", afirmou.

Multa. Na semana passada, o presidente foi multado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por propaganda indireta e encoberta da candidatura de Dilma durante inauguração de obras, em maio de 2009, na favela de Manguinhos, no Rio. Na ocasião, ao ser interrompido pela plateia aos gritos de "Dilma", o presidente expressou sua expectativa: "Que a profecia que diz que a voz do povo é a voz de Deus esteja correta neste momento."

Dança. À tarde, numa entrevista após almoço com o rei da Suécia, Carl Gustaf, Lula disse que, na reta final do mandato, quer aproveitar o máximo de sua equipe. Mais descontraído, afirmou que os novos ministros que entram no governo no dia 1.º de abril terão de trabalhar mais do que os que deixarão o governo para disputar as eleições. "É quase natural. Você está no fim da festa e quer sentar numa cadeira e não quer dançar mais. Agora, eu quero que a turma dance", comparou, ressaltando que ainda tem muitas obras para concluir até o fim do mandato. "Esse pessoal que vai entrar vai trabalhar muito mais que o pessoal que sair."

Ele ainda mandou um recado para a secretária executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, que comandará a pasta. "Quem entrar no lugar da Dilma, vai trabalhar muito mais que ela."

Segundo ele, também "não vai ter nervosismo desta vez", porque o governo tem consciência do que quer fazer até a conclusão de seu mandato. "Não vamos brincar com a estabilidade econômica. A questão fiscal continuará sendo tratada com seriedade e a inflação tem quer ser controlada porque se ela voltar vai para cima do pobre", afirmou.

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