Irritado com a derrota na Câmara, articulada por mansos dissidentes da sua dispendiosa maioria, o presidente Lula aproveitou a viagem a Israel para, como mensageiro da paz, dar um aperto nos seus aliados na Câmara, que embarcaram na canoa furada do deputado Ibsen Pinheiro, outro que subiu à tona depois de anos em que não foi visto nem falado. Mas é de uma evidência que entra pelos olhos que Lula, com baralho na mão, deu as cartas marcadas para o blefe na hora certa.
É só raciocinar sem paixão: depois de uma ousada articulação internacional, em que tantos se destacaram, para trazer para o Brasil a Copa do Mundo de 2014, já no governo do seu sucessor, provavelmente sucessora, e os Jogos Olímpicos de 2016, o presidente não aceitará a jogada eleitoreira da oposição de virtualmente botar tudo a perder. O governador do Rio, Sérgio Cabral, não está tocando fogo na palha para espantar fantasmas quando repete à exaustão que, se com a punga, a verba dos royalties de petróleo for reduzida a uma esmola, ele não terá como realizar as obras para preparar a cidade para receber os dois maiores eventos esportivos do mundo.
E, sem o Rio, nem Copa do Mundo nem Olimpíada. Ora, Lula está em campanha, acaba até de ser multado em R$ 5 mil pelo discurso de comício na visita a obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ao lado da candidata Dilma. As últimas pesquisas de opinião confirmam a ascensão da sua candidata, que se encosta no governador José Serra, de São Paulo, e virtual candidato da oposição.
A estratégia do presidente é transparente. A primeira guerrilha será no Senado, uma maioria que dá e sobra para uma articulação objetiva e direta: se não for derrubada ou negociada a emenda do deputado Ibsen Pinheiro, Lula cumprirá a palavra empenhada com o governador Sérgio Cabral de vetar o monstrengo. É a última porta a ser aberta.
Não é tudo: a passeata dos 150 mil do Rio, debaixo de chuva torrencial, aplaudida ao longo do trajeto da Candelária à Cinelândia é como tocar fogo em pólvora. Uma nova derrota no Senado de senhores e senhoras de cabelos grisalhos, e a população voltará às ruas. Muito mais bem informados pela imprensa, televisão, rádio e internet, os “traidores” da Copa e da Olimpíada não terão como fazer um comício em qualquer cidade do Rio. E vamos reviver a época das grandes passeatas. Das suas maiores desde a ditadura militar de 1964: a dos Cem Mil, que também saiu da Candelária e ocupou toda a Avenida Rio Branco até o Monroe, e acabou no AI-5. E a das Diretas Já, com 1 milhão de pessoas espremidas do palanque em frente à Igreja da Candelária até o Ministério da Guerra. As Diretas Já foram derrotadas pelo Congresso humilhado pelas cassações de mandato, no negrume da censura à imprensa e das violências, torturas e mortes nas masmorras dos Doi-Codi.
Assisti às duas. A dos Cem Mil caminhando pela Avenida Rio Branco entre os caras-pintadas do apoio dos estudantes e uma massa humana que era um corte em toda a sociedade, dos ricos aos populares já empanzinados de ditadura. E a do milhão do palanque ao lado dos dois líderes de temperamentos opostos. O visionário deputado Ulysses Guimarães, olhos marejados ao contemplar a multidão, sustentava o seu otimismo na certeza de que o Congresso não resistiria à pressão de 1 milhão que exprimiam toda a população. Do outro lado do palanque, a sabedoria mineira do senador Tancredo Neves racionava pelo avesso de Ulysses: o que eles teriam para dizer ao povo com a derrota inevitável das Diretas Já por um Congresso submisso à ditadura?
Acertou na mosca.
O que não é o caso. A crise política do Brasil está agora em Brasília. E o escândalo da distribuição de pacotes de notas pelo ex-governador José Arruda, hoje preso, aguardando julgamento é a mais clara advertência de que a população da capital, construída por Juscelino Kubitschek e reconhecida como Patrimônio da Humanidade, graças ao gênio de Oscar Niemeyer e à dança das suas curvas, tem uma dívida com o país.
Quando Brasília fará a passeata que está devendo ao Brasil? Pacífica, sem violência, conforme o modelo da do Rio de Janeiro, que não registra um único incidente. E não há tempo a perder. O presidente Lula e a candidata Dilma precisam ser cobrados pela população que a Câmara ultrajou.
É só raciocinar sem paixão: depois de uma ousada articulação internacional, em que tantos se destacaram, para trazer para o Brasil a Copa do Mundo de 2014, já no governo do seu sucessor, provavelmente sucessora, e os Jogos Olímpicos de 2016, o presidente não aceitará a jogada eleitoreira da oposição de virtualmente botar tudo a perder. O governador do Rio, Sérgio Cabral, não está tocando fogo na palha para espantar fantasmas quando repete à exaustão que, se com a punga, a verba dos royalties de petróleo for reduzida a uma esmola, ele não terá como realizar as obras para preparar a cidade para receber os dois maiores eventos esportivos do mundo.
E, sem o Rio, nem Copa do Mundo nem Olimpíada. Ora, Lula está em campanha, acaba até de ser multado em R$ 5 mil pelo discurso de comício na visita a obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ao lado da candidata Dilma. As últimas pesquisas de opinião confirmam a ascensão da sua candidata, que se encosta no governador José Serra, de São Paulo, e virtual candidato da oposição.
A estratégia do presidente é transparente. A primeira guerrilha será no Senado, uma maioria que dá e sobra para uma articulação objetiva e direta: se não for derrubada ou negociada a emenda do deputado Ibsen Pinheiro, Lula cumprirá a palavra empenhada com o governador Sérgio Cabral de vetar o monstrengo. É a última porta a ser aberta.
Não é tudo: a passeata dos 150 mil do Rio, debaixo de chuva torrencial, aplaudida ao longo do trajeto da Candelária à Cinelândia é como tocar fogo em pólvora. Uma nova derrota no Senado de senhores e senhoras de cabelos grisalhos, e a população voltará às ruas. Muito mais bem informados pela imprensa, televisão, rádio e internet, os “traidores” da Copa e da Olimpíada não terão como fazer um comício em qualquer cidade do Rio. E vamos reviver a época das grandes passeatas. Das suas maiores desde a ditadura militar de 1964: a dos Cem Mil, que também saiu da Candelária e ocupou toda a Avenida Rio Branco até o Monroe, e acabou no AI-5. E a das Diretas Já, com 1 milhão de pessoas espremidas do palanque em frente à Igreja da Candelária até o Ministério da Guerra. As Diretas Já foram derrotadas pelo Congresso humilhado pelas cassações de mandato, no negrume da censura à imprensa e das violências, torturas e mortes nas masmorras dos Doi-Codi.
Assisti às duas. A dos Cem Mil caminhando pela Avenida Rio Branco entre os caras-pintadas do apoio dos estudantes e uma massa humana que era um corte em toda a sociedade, dos ricos aos populares já empanzinados de ditadura. E a do milhão do palanque ao lado dos dois líderes de temperamentos opostos. O visionário deputado Ulysses Guimarães, olhos marejados ao contemplar a multidão, sustentava o seu otimismo na certeza de que o Congresso não resistiria à pressão de 1 milhão que exprimiam toda a população. Do outro lado do palanque, a sabedoria mineira do senador Tancredo Neves racionava pelo avesso de Ulysses: o que eles teriam para dizer ao povo com a derrota inevitável das Diretas Já por um Congresso submisso à ditadura?
Acertou na mosca.
O que não é o caso. A crise política do Brasil está agora em Brasília. E o escândalo da distribuição de pacotes de notas pelo ex-governador José Arruda, hoje preso, aguardando julgamento é a mais clara advertência de que a população da capital, construída por Juscelino Kubitschek e reconhecida como Patrimônio da Humanidade, graças ao gênio de Oscar Niemeyer e à dança das suas curvas, tem uma dívida com o país.
Quando Brasília fará a passeata que está devendo ao Brasil? Pacífica, sem violência, conforme o modelo da do Rio de Janeiro, que não registra um único incidente. E não há tempo a perder. O presidente Lula e a candidata Dilma precisam ser cobrados pela população que a Câmara ultrajou.
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