quinta-feira, 4 de março de 2010

"PT foi um dos principais beneficiários da Nova República", diz José Serra

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Raquel Ulhôa, de Brasília

Na sessão solene em comemoração ao centenário de Tancredo Neves, transformada pelo PSDB em festa tucana, o governador de São Paulo, José Serra, atribuiu a chegada do PT ao poder a uma das conquistas políticas e democráticas da Nova República, que completa 25 anos: a alternância tranquila no poder de forças político-partidárias antagônicas, pondo fim à polarização e à radicalização na sociedade brasileira. Assim como o governador de Minas, Aécio Neves, neto de Tancredo, Serra defendeu medidas adotadas pelo governo Fernando Henrique Cardoso, a partir das quais o PT soube "colher bons frutos", segundo ele.

"Já ninguém mais contesta a legitimidade das vitórias eleitorais e do natural desejo dos adversários vitoriosos de governar sem perturbações. O resultado é ainda mais impressionante quando se observa que uma dessas alternâncias aparentemente mais contrastantes foi a chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores, que encarnava, a principio, se não uma força desestabilizadora, ao menos um comportamento radical e deliberadamente à margem da política nacional."

Serra completou seu raciocínio afirmando que o PT foi "um dos principais beneficiários da eleição do primeiro presidente civil e das conquistas sociais e culturais da nova Constituição, e soube, posteriormente, ao longo de seus períodos de governo, colher bons frutos de mudanças institucionais e práticas como o Plano Real, o Proer e a Lei de Responsabilidade Fiscal".

Serra, que chegou a coordenar o programa de governo de Tancredo, classificou os 25 anos da Nova República como o período das maiores conquistas de qualidade política e humana - um período ininterrupto de democracia de massas. Citou a expansão da cidadania, das liberdades civis e políticas, o fim das restrições ao direito de voto, a ampliação da participação das massas populares, a ausência de conspirações e golpes militares e a derrubada da superinflação.

Apesar das conquistas, o governador paulista enfatizou a necessidade de duas "observações acautelatórias". Primeiro, que as conquistas da segunda redemocratização custaram esforços enormes e o período tem de ser analisado no todo, "na sua integridade, êxitos e fracassos juntos, já que esses são partes inseparáveis do processo de aprendizagem coletiva, para o qual contribuíram numerosos dirigentes e cidadãos numa linha de continuidade, não de negação e de ruptura". Como exemplo, citou que o Plano Real não teria acontecido sem as experiências de planos anteriores.

A segunda é que nenhuma conquista é definitiva e irreversível. De acordo com o governador, a estabilidade, o crescimento e os ganhos de consumo "não têm garantidas as condições de sustentabilidade no médio e longo prazos.

Aécio também citou as conquistas dos 25 anos da Nova República e dedicou-se especialmente a falar do avô Tancredo, cuja característica mais marcante, disse, era a busca da conciliação. Pressionado a assumir a Vice-Presidência na chapa de Serra, Aécio desabafou: "No exercício do poder nunca estamos sozinhos. Mas somos sempre sós. As grandes decisões são sempre solitárias. Indelegáveis...Precisamos resistir às pressões que nos afastam daquilo que acreditamos. Precisamos acostumar os olhos à luz e à sombra da política, para enxergarmos com clareza os interesses menores que se travestem de interesse coletivo...Não podemos temer a incompreensão, quando agimos de acordo com a nossa consciência e responsabilidade."

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