domingo, 7 de março de 2010

“Romper paradigmas leva tempo”

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
ENTREVISTA » LUIZA PONTUAL – DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Mesmo com os avanços, as mulheres ainda encontram dificuldades para ocupar mais espaços na política. Quando exercem um mandato, querem se equiparar aos homens e, às vezes, não privilegiam projetos que fomentem políticas de gênero. É o que avalia a professora Luiza Pontual, doutora em Ciência Política, que estuda o tema.

JORNAL DO COMMERCIO – Como a senhora avalia a representatividade da mulher na política de uma forma geral?

LUIZA PONTUAL – O aperfeiçoamento das instituições tem contribuído muito para a ampliação da participação da mulher. Estamos em um momento importante porque estamos vivendo 25 anos seguidos de democracia, de igualdade de oportunidades. É um momento especial porque ajuda nessa luta da mulher por mais espaços. Hoje, inclusive, temos a divisão das tarefas domésticas, o que não ocorria antes com facilidade. Os homens assumem a tarefa de cuidar da casa e dos filhos, liberando as mulheres para o trabalho. Assim, sobra mais tempo para a mulher se envolver na política.

JC – A senhora considera ainda reduzido o número de mulheres que são eleitas para cargos no Legislativo ou já é significativo?

LUIZA PONTUAL – Como a sociedade ainda é extremamente machista, o homem está no centro de tudo. Agora, a mulher começa a ter mais espaço. A própria mulher, muitas vezes, é machista. Romper paradigmas é lento. Temos muito o que avançar. Hoje, há uma necessidade de ter alguém (no Legislativo) que tenha a experiência que a mulher tem no cotidiano. O próprio fato de ser mãe é um ponto importante. A mulher não é feliz se um filho não está feliz. A mulher tem a capacidade de sair mais dela, de olhar o outro. Tem a capacidade de juntar, unir, negociar, que são habilidades da política. Essas qualidades a mulher tem no seu dia a dia. A mulher consegue se desdobrar em muitas. O quadro mostra que está havendo um avanço.

JC – O que verificamos na atuação das mulheres no interior é que as vereadoras quase não apresentam projetos que beneficiem políticas de gênero. Por que isso ocorre?

LUIZA PONTUAL – É a ideia de igualdade, que camufla a de subordinação. Para que possam ser respeitada, querem parecer com um homem. É uma forma de se afirmar. Até que ela assuma essa política voltada para a mulher, leva tempo. Quando isso acontece, muitas vezes, há um preconceito. Leva um tempo para se romper preconceito e tradição.

JC – É significativo o fato de identificarmos que, no interior, a representatividade das mulheres nas câmaras está crescendo?

LUIZA PONTUAL – É um avanço, sem dúvida. Começamos a superar os preconceitos. Muitas mulheres entram na carreira política depois que criam os filhos, ficam mais soltas, têm mais espaço para seus projetos pessoais. Na área urbana, como no Grande Recife, a mulher tem mais tarefa e menos tempo para a política. Também temos a ideologia do individualismo, que é mais forte aqui do que no interior. No interior, a capacidade de ver o coletivo é mais forte. Ninguém quer cuidar do coletivo nas grandes cidades.

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