domingo, 18 de abril de 2010

'Agora que tiraram as rodinhas da bicicleta, Dilma não consegue andar'

DEU EM O GLOBO

ENTREVISTA Sérgio Guerra

Gerson Camarotti e Maria Lima

BRASÍLIA

O GLOBO: Quais foram o principal acerto e o principal erro do pré-candidato tucano José Serra até agora?

SÉRGIO GUERRA: O principal acerto foi o encontro dos partidos em Brasília, em que ele fez o melhor discurso dos últimos tempos. Muitas perguntas que estavam no ar foram integralmente respondidas por ele. E vamos, de fato, iniciar a précampanha em Minas.

Minas é uma forma de neutralizar a tentativa da pré-candidata Dilma Rousseff de conquistar o mineiro?

GUERRA: Tudo que a Dilma está fazendo não está dando certo. Pode ser que, no futuro, ela acerte.

Tucanos e aliados reclamaram da demora de Serra em se lançar. Foi o principal erro?

GUERRA: Se antes estava errado, terminou dando tudo certo. Então, prefiro não discutir este assunto. Acho que começamos com pé direito essa pré-campanha. Olhar para trás para saber se deveríamos ter começado antes? Eu não consigo responder a essa pergunta.

Mas essa demora de Serra não permitiu a Dilma crescer nas pesquisas?

GUERRA: Eu não conheço qualquer eleitor de Dilma. Conheço gente que vota nela porque é a candidata do Lula.

E quais o acerto e o erro da campanha de Dilma?

GUERRA: Não posso dizer que o PT é incapaz de desenvolver campanha. Pelo contrário. O PT é extremamente competente na realização de campanhas. O presidente da República é um comunicador de primeiríssima qualidade. Agora, na primeira volta sem Lula, ela não ajudou. Como disse Roberto Jefferson, agora que tiraram as rodinhas da bicicleta dela, Dilma não consegue andar direito. A ministra foi muito orientada. Imagino que a orientação foi boa, e a execução da tarefa foi ruim. Porque o resultado é péssimo.

Como assim?

GUERRA: Ela não tem liderança. O tom agressivo da ministra não foi inventado agora. As pessoas que trabalharam junto com ela sabem que Dilma é autoritária. Ela não consegue disfarçar. Quando se tem natureza autoritária, é difícil alterar esse comportamento.Ao primeiro gesto de democracia, ela fica irritada. Eleita presidente, será alguém com vocação autoritária e governo fraco.

O PSDB vai ter caixa para fazer campanha milionária?

GUERRA: Campanhas de presidente não se resolvem com mais ou menos dinheiro. A logística de campanha custa caro. Mas é preferível gastar menos. Porque a população não gosta da exuberância, do exagero. A notícia de que o PT tem duas, três, quatro casas alugadas no Lago Sul guarda distância imensa de uma campanha que quer ser a dos pobres. É uma ostentação exagerada.

O PSDB tem enfrentado muitas dificuldades nos palanques regionais, no Ceará, no Amazonas, no Rio...

GUERRA: Os palanques têm a própria lógica dos estados. Temos problemas que qualquer partido tem. O PT tem uma aliança muito ampla, o que deve dificultar as alianças locais. O PT tem condições de resolver as confusões dele porque tem o poder, o governo. As nossas, temos que resolver com cabeça, trabalho e esforço.

A eleição será plebiscitária?

GUERRA: Há sinais de que a campanha está caminhando para ser plebiscitária. A candidatura Marina Silva não tem crescido. Ciro não tem apoio partidário. A maioria dos votos de Ciro já está com Dilma. E os votos residuais dele podem ir para Serra. Por enquanto, a disputa é entre Serra e sua biografia e Lula com sua candidata. Quando começar a disputa, a eleição será entre Dilma e Serra.

Qual o desafio de uma campanha plebiscitária?

GUERRA: Eleição entre dois candidatos simplifica o julgamento. A população terá que considerar duas propostas e duas hipóteses de governo. Nessa comparação, nós levamos imensa vantagem.

Mas o PT quer comparar o governo Lula com o governo Fernando Henrique...

GUERRA: Isso é conversa de elefante. Essa é a agenda deles, não a agenda da população. As pessoas vão pensar no Brasil que está pela frente.

Um vice errado pode derrubar uma candidatura?

GUERRA: Seguramente, um vice errado prejudica e derruba uma candidatura. Agora, não é certo dizer que o vice elege um candidato. Defendo que não devemos alimentar a expectativa de Aécio Neves como vice. A gente não pode pendurar a candidatura do Serra nessa dependência. Se Aécio for o vice, melhor. Se não for, vai ser bom também.

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