quinta-feira, 8 de abril de 2010

Compra de dossiê pode virar pizza

DEU EM O GLOBO

Ainda não foi descoberta a origem do dinheiro dos petistas envolvidos

CUIABÁ e SÃO PAULO. O empreiteiro Valdebran Padilha, que em 2006 foi preso com cerca de R$1,7 milhão na tentativa de compra de um dossiê contra tucanos, ficou conhecido como um dos "aloprados" do PT. Esse foi o termo cunhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao se referir aos envolvidos no escândalo. As investigações do Ministério Público Federal sobre a compra do dossiê correm o risco de serem encerradas sem que se chegue à origem do dinheiro, que seria usado por petistas para a compra do dossiê contra os tucanos.

Valdebran foi tesoureiro da campanha do hoje deputado estadual Alexandre César à prefeitura de Cuiabá, em 2004. Ele tinha prestígio no PT do estado e chegou a ser indicado duas vezes para a diretoria financeira da Eletronorte - iniciativas do PT matogrossense, liderado pelo deputado Carlos Abicalil.

Com o escândalo do dossiê e as denúncias de fraudes nas licitações para favorecer suas empresas, Valdebran acabou sendo expulso do PT pela Comissão de Ética, no fim de 2006. Sua gestão na campanha de 2004, no entanto, deixou uma herança para os petistas. Em fevereiro passado, com as contas de campanha consideradas irregulares pela Justiça Eleitoral, o partido teve, como punição, a suspensão dos recursos do Fundo Partidário por três meses.

O procurador da República Mário Lúcio Avelar, responsável pelas investigações sobre o dossiê dos "aloprados", admitiu ontem, pela primeira vez, que pode encerrar o caso sem conseguir chegar à origem do dinheiro. Em entrevista ao GLOBO, ele se queixou de que está difícil concluir o trabalho.

- Estou pensando em encerrar o caso. O juiz não defere nossos pedidos de quebra de sigilo.

A coisa não anda. Está difícil seguir com esta investigação - lamentou o procurador.

O caso dos aloprados teve início em 15 de setembro de 2006, quando Valdebran Padilha e Gedimar Passos foram flagrados no hotel Íbis, em São Paulo, com o dinheiro que seria usado para o pagamento de um dossiê montado para atingir o PSDB, especialmente o então candidato a governador de São Paulo, José Serra. O dossiê fora oferecido por Luiz Antônio Vedoin, dono da empresa Planan e preso na operação Sanguessuga, que investigou fraudes na aquisição de ambulâncias por meio de emendas parlamentares dirigidas.

O inquérito ainda corre na Justiça de Mato Grosso sem que o Ministério Público tenha oferecido denúncia. Estão indiciados pela Polícia Federal: Valdebran Padilha, Gedimar Passos, José Giácomo Baccarin (tesoureiro da campanha do senador Aloizio Mercadante), Hamilton Lacerda (coordenador da campanha de Mercadante), Fernando Manoel Ribas Soares e Sirlei da Silva Chaves; os dois últimos eram donos de uma casa de câmbio.

Hamilton Lacerda ensaiou uma volta ao PT do ABC paulista, mas seu retorno ao partido está em discussão na direção nacional petista. No último domingo, a "Folha de S.Paulo" informou que Lacerda comprou uma fazenda no Sul da Bahia, em sociedade com Juscelino Dourado, ex-assessor do deputado e ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. (Anselmo Carvalho Pinto e Tatiana Farah)

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