quinta-feira, 15 de abril de 2010

Dia de cantoria e elogios a Lula

DEU EM O GLOBO

Em visita à Bahia, Serra, bem-humorado, aponta avanços do governo petista

Fábio Fabrini


SALVADOR. No primeiro ato público após o lançamento de sua candidatura à Presidência, o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) incorporou o discurso "paz e amor", evitando o confronto com o governo Lula - e chegando até a elogiá-lo. Em visita à capital baiana, onde a popularidade de Lula é alta e candidata petista, Dilma Rousseff, está à sua frente nas pesquisas, o tucano apontou boas políticas da administração petista: as medidas para enfrentar as turbulências da economia no ano passado e o Bolsa Família, que prometeu consolidar.

Perguntado, em tumultuada entrevista, se houve coisas boas no atual governo, Serra respondeu:

- Sem dúvida, sem dúvida. Por exemplo, na época do enfrentamento da crise econômica, o governo foi bastante ágil; na consolidação de transferências de renda, de auxílios. No Bolsa Família, foi um avanço. Aliás, eu quero dizer: na minha perspectiva, ele deve ser reforçado - afirmou o tucano, prometendo agregar ao programa oportunidades de emprego e outros cuidados, inclusive na área da saúde.

Numa clara demonstração de que evitará comparações do atual governo com o de Fernando Henrique Cardoso, o pré-candidato tucano disse que o debate eleitoral versará sobre a continuidade de boas ações e voltou citar a era Lula:

- É um governo que trabalhou, que produziu vários avanços. Agora, nós temos de olhar para o futuro. O tema desta eleição não vai ser o presente nem o passado. Vai ser o futuro: quem é que pode continuar tocando bem o Brasil para a frente - disse Serra.

Perguntado sobre declarações de Lula, que disse ter deixado o "prato feito" para os sucessores, Serra repetiu apenas o bordão de sua campanha - "O Brasil pode mais" - e citou três áreas em que há necessidade de avanços: emprego para os jovens, saúde e segurança.

Em Salvador, ele visitou obras sociais de Irmã Dulce, acompanhado do pré-candidato do DEM ao governo baiano, o ex-governador Paulo Souto. A cúpula tucana resolveu antecipar a sua viagem ao estado para aproveitar a divisão da base aliada do presidente Lula no estado. Depois de dar como certa a presença do ex-governador César Borges (PR) em sua chapa, como pré-candidato ao Senado, o governador Jaques Wagner (PT) o perdeu para o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), que também disputará o Palácio de Ondina.

Na chegada ao complexo hospitalar fundado pela religiosa, Serra beijou crianças, conversou com médicos e, bem-humorado, entoou versos de Ataulfo Alves numa roda de samba de pacientes.

- Atire a primeira pedra, iaiá, aquele que não sofreu por amor - cantou, microfone em punho, gingando o tronco e com largo sorriso: - De Ataulfo, eu conheço todas - gabou-se, antes de arriscar trechos de "Help", dos Beatles.

Serra seguiu depois para uma rápida visita ao Mercado Modelo, tradicional ponto de visitação turística. À noite, concedeu entrevista à Rádio Metrópole e, em seguida, visitaria uma emissora de TV.

Pelas ruas da capital baiana, enfrentou alagamentos, provocados pelas fortes chuvas, e chegou a passar próximo a uma loja que desabou à tarde, ferindo gravemente uma pessoa. Uma das poucas críticas foi justamente sobre a capacidade de resposta do governo federal a temporais:

- A chuva aqui em Salvador foi espantosa. O governo federal precisa criar uma Defesa Civil especial, no país inteiro, com tropas preparadas.

À rádio, Serra se disse confiante no apoio do ex-governador mineiro Aécio Neves, que disputou com ele a vaga de pré-candidato à Presidência.

- Houve muita antecipação de campanha, mas tem certas coisas que não se antecipam. A minha ida a Minas não tem nada a ver com isso. Vice é (definido em) maio ou junho. Aliás, ninguém ainda tem vice - comentou, referindo-se a Dilma Rousseff, que ainda não oficializou a entrada do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), em sua chapa.

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