sexta-feira, 9 de abril de 2010

'Não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não'

DEU EM O GLOBO

Lula diz que, fora do governo, vai brigar pela reforma política

Maria Lima, Gerson Camarotti e Luiza Damé

Aliado histórico do PT e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PCdoB fez ontem à noite grande festa de apoio à candidatura presidencial da ex-ministra Dilma Rousseff, com o discurso já afinado com a estratégia do comando da campanha petista de atacar o tucano José Serra e insistir na comparação entre os governos Lula e Fernando Henrique. Num tom exaltado, o presidente Lula - multado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por fazer campanha para Dilma antes do período permitido pela lei - discursou e criticou a Justiça:

- Quando eu estiver fora (do governo), vou evitar que se faça com a Dilma o que fizeram comigo. Vou gritar mais, vou ter mais liberdade. Não vou ser instituição. Vou arregaçar as mangas para fazer a reforma política, porque não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não fazer. Vou poder gritar mais, perturbar mais.

O presidente lembrava que perdeu cinco eleições, mas disse que sempre levantava "o moral da militância". Disse que, quando sair, pretende também lutar por uma reforma política em que o Congresso e os partidos devem definir o que pode e o que não podem fazer os candidatos em campanha, para que haja regras claras.

Em seu discurso, Dilma voltou a usar a expressão "lobo em pele de cordeiro" para se referir à oposição, e também fez ataques indiretos ao ex-governador José Serra, seu adversário pelo PSDB, e a FH.

A festa foi dominada pelo vermelho, com claque organizada, muita música e pelo menos 11 ministros, além do presidente Lula e do vice José Alencar, que esperaram o fim do horário do expediente na Esplanada para se deslocarem para o evento partidário.

Dilma provoca Serra e FH
Depois do discurso do presidente do PCdoB, Renato Rabelo, também de ataques aos tucanos, Dilma Rousseff destacou sua afinidade com os comunistas na luta contra a ditadura, quando muitos companheiros morreram, e a importância da democracia.

À plateia de estudantes e jovens do PCdoB, Dilma exaltou os feitos de Lula na educação, destacando o ProUni e o aumento de recursos do governo para educação básica. Foi quando aproveitou para dar uma estocada no adversário José Serra:

- É nossa prioridade absoluta a qualificação da educação, investir na melhoria dos salários.

Jamais colocando polícia nas ruas contra os professores - disse, sendo muito aplaudida, numa referência ao conflito de professores paulistas com o governo do estado. O sindicato de lá é presidido por uma petista.

Em outra referência indireta, cutucou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que defende a descriminalização da maconha, quando falou do "mundo trágico e cheio de sombras que ameaça nossos jovens, as drogas". Defendeu grande mobilização da sociedade e disse:

- Não há mais lugar para o charme traiçoeiro do falso liberalismo que se contenta com a descriminalização das drogas. Nós, mulheres, temos que assumir a liderança desse processo - disse Dilma.

No palco montado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, a ex-ministra foi recepcionada pelos cantores Martinho da Vila, Lecy Brandão e o vererador-cantor Netinho de Paula.

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