terça-feira, 20 de abril de 2010

'O Estado todo-poderoso do passado não vinga'

DEU EM O GLOBO

Tucano critica aparelhamento da máquina, corrupção, reeleição e também o MST

Fabio Fabrini, enviado especial, e Marcelo Portela

BELO HORIZONTE. Em conversa com empresários mineiros na sede da FIEMG (entidade que concentra mais de 30% do PIB mineiro), o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, optou por um discurso técnico, mas marcando diferenças com propostas de sua principal adversária, Dilma Rousseff, do PT. Afirmou que o modelo de desenvolvimento em vigor no país hoje privilegia o setor primário, que, apesar de ser responsável por grande volume de exportação, tem pouco valor agregado.

— É o modelo que vigorou dos anos 1930 aos anos 1980. Não gera empregos — disse o tucano.

Na opinião de Serra, foi importante o país ter investido nessas áreas, mas hoje não há mais espaço para isso.

— O Estado produtor e todo-poderoso do passado não vinga. É obeso.

E obesidade indica fraqueza — afirmou o tucano.

Serra também criticou o inchaço da máquina pública e defendeu a redução dos gastos, além de mudanças na questão tributária: — Nós temos a questão fiscal no Brasil, que é de uma rigidez muito grande. Não é enxugamento para perseguir ninguém, não é enxugamento irracional, como se chegou a se fazer.

É um enxugamento bem feito. As gorduras de cargos comissionados.


“Nessas coisas de casamento, defendo a monogamia” Sobre política, ele deixou claro que seu candidato ao governo de Minas é o atual governador tucano, Antônio Anastasia, que disputa a reeleição com o apoio do ex-governador Aécio Neves. E disse que não aceitaria uma campanha velada com o pré-candidato do presidente Lula ao governo mineiro, Hélio Costa (PMDB), que deverá ter o apoio do PT. Em recente visita a Minas, Dilma foi perguntada sobre uma eventual chapa “Dilmasia” e respondeu que preferia “Anastadilma”, irritando Hélio Costa, que a apoia.

— Eu até me dou bem com Hélio Costa, tenho uma relação cordial, mas, nessas coisas de casamento, eu defendo a monogamia — rebateu Serra.

Em entrevista à Rádio Itatiaia, Serra atacou o ritmo de execução do PAC, uma das principais bandeiras de Dilma, e reclamou do aparelhamento e da corrupção em setores da administração federal.

— O PAC é uma lista de obras, vamos ser realistas. A maior parte não foi feita.

O tucano atacou ainda o inchaço da máquina e o empreguismo: — A Funasa hoje acabou loteada pelo empreguismo, pelo troca-troca, por denúncias de corrupção. Não é nem problema do atual ministro (José Gomes Temporão, PMDB), que é decente.

Mas é o que foi destruído.

Serra criticou a reeleição, proposta e aprovada no governo do também tucano Fernando Henrique Cardoso: — Reeleição não é coisa boa. Deveria ter cinco anos de mandato. Você chega e governa fazendo aquilo que tem de ser feito, não apenas de olho na reeleição — disse ele.

Perguntado sobre críticas do líder do MST João Pedro Stédile à sua candidatura, Serra disse que a organização usa a reforma agrária como pretexto para objetivos políticos.

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