sábado, 3 de abril de 2010

Pré-candidata mistura elogios a Lula e Fernando Henrique

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Bernardo Mello Franco
Da reportagem local

Às vésperas de uma eleição com clima de plebiscito, Marina Silva parece ser a única política brasileira capaz de apontar virtudes no presidente Luiz Inácio Lula da Silva e em seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Em palestras e entrevistas, a pré-candidata do PV ao Palácio do Planalto tem se equilibrado nos elogios aos governos de PT e PSDB.

"Precisamos ter a humildade de reconhecer as conquistas dos últimos 16 anos", repete a senadora, num discurso-exaltação que mistura a estabilização econômica dos tucanos e o avanço social dos petistas.

Em caravana a Pernambuco, na semana passada, Marina enquadrou Lula e FHC na categoria de "mantenedores de utopia". Ela comparou a dupla a unanimidades nacionais, como o ambientalista Chico Mendes (1944-1988) e o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997).

Depois, disse buscar um lugar na mesma galeria.

"Não tenho preconceito em recolher as coisas boas das pessoas", justifica.

Por onde passa, a senadora tem festejado o equilíbrio monetário e fiscal conquistado na gestão de FHC -período em que os petistas acusavam o governo de arrochar salários e se curvar aos ditames do Fundo Monetário Internacional.

Ao comentar o governo Lula, ela cita de cabeça os números que mostram aceleração no crescimento e na distribuição de renda. E se desmancha em elogios ao Bolsa Família, tachado de eleitoreiro pela intelectualidade tucana.

A boa vontade de Marina com Lula e FHC também se alastra para o campo pessoal. Em visita a Garanhuns (PE), na última quarta-feira, ela se disse emocionada por estar na terra natal do presidente.

Questionada sobre uma possível contradição entre o discurso e as críticas ao governo, invocou o tempo em que foram companheiros no PT:

"Tenho 30 anos de investimento de carinho e afeto no presidente Lula. Quando a gente investe amorosamente em alguém, os laços criam raízes".

Evitado por colegas de PSDB, que temem que o desgaste de sua imagem contamine a pré-candidatura de José Serra, FHC é uma referência cada vez mais presente nas falas de Marina -que diz admirá-lo como ex-presidente e intelectual.

Após se reunir com pastores evangélicos, ela se comparou ao ex-presidente, tachado de ateu na eleição municipal de 1985.

"É a segunda vez que as pessoas estão interessadas na fé de um político. A primeira foi com Fernando Henrique. Disseram que ele não tinha fé, e ficavam perguntando isso para constrangê-lo", disse.

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