quarta-feira, 28 de abril de 2010

Rebaixamento de Portugal e Grécia agrava crise europeia

DEU EM O GLOBO

Com temor de calote da dívida dos dois países, Bolsas caem até 6%

Diante do déficit fiscal elevado de Grécia e Portugal, e do temor de calote das suas dívidas, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou os dois países e agravou a crise europeia, derrubando os mercados globais. Os investidores temem que a crise se alastre pela Europa, impedindo a recuperação da economia mundial. As Bolsas da região registraram fortes quedas: em Paris, de 3,82%, atingindo 5,3% em Lisboa e 6% em Atenas. No Brasil, a Bovespa recuou 3,43%, aos 66.511 pontos, o menor nível em dois meses, e o dólar avançou 1,14%, para R$ 1,765. Já a Bolsa de Nova York caiu 1,9%, na maior queda em pontos desde julho de 2009. O euro também sentiu o mau humor dos investidores, e o dólar subiu 1,55% frente à moeda europeia.

Para evitar o calote, o socorro do FMI e da UE à Grécia pode chegar a C 55 bilhões.

Abalo na zona do euro

Agência rebaixa notas de Grécia e Portugal e cresce temor de que crise se espalhe na Europa. Bolsas despencam

Bruno Villas Bôas*
RIO, ATENAS, BERLIM e NOVA YORK

A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou ontem as notas de crédito de Grécia e Portugal, alegando fragilidade da situação fiscal dos dois países e, consequentemente, temor de calote de suas dívidas. A notícia levantou suspeitas de que a crise que os dois países enfrentam pode se alastrar pela Europa, contendo o ritmo de recuperação da economia global, o que derrubou os mercados pelo mundo. As maiores quedas entre as praças europeias foram na Bolsa de Atenas, que despencou 6%, e na de Lisboa, que caiu 5,36%. Enfraquecido, o euro também sentiu o mau humor dos investidores e, durante o dia, atingiu a menor cotação dos últimos 12 meses (US$ 1,3145). No fechamento, o dólar subiu 1,55% ante a moeda europeia.

No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), recuou 3,43%, aos 66.511 pontos. As 63 ações que compõem o índice terminaram no vermelho, puxandoo para o menor nível em dois meses. O dólar comercial avançou 1,14%, para R$ 1,765. Já o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 1,9% e registrou a maior queda em pontos (213) desde 15 de julho de 2009. Na Europa, a Bolsa de Paris teve desempenho ainda pior, com queda de 3,82%. E o ouro subiu 0,7%, para US$ 1.162,20 a onça-troy (31,1 gramas).

— Nessa horas, os investidores saem principalmente dos papéis ligados a commodities (matérias-primas), um mercado de risco, e buscam títulos do Tesouro americano, que são mais seguros — explica Hersz Ferman, gestor da Yield Capital.

nota de sua dívida soberana de longo prazo de “BBB+” para “BB+”, rebaixando o país ao nível especulativo. É a primeira vez que um membro da zona do euro perde o grau de investimento (chancela de investimento seguro) desde que a moeda foi lançada, em 1999. A perspectiva é negativa, o que significa que a agência pode rebaixar o país novamente.

“Acreditamos que as opções políticas do governo (grego) estão se estreitando porque as perspectivas de crescimento da Grécia estão se enfraquecendo, enquanto as pressões para medidas de ajuste fiscal forte estão crescendo”, disse a S&P em relatório.

Este mês, a agência Fitch já havia rebaixado a Grécia, mas a mantivera no patamar de grau de investimento. No caso de Portugal, a S&P cortou o rating em dois graus, para “Ardquo;, mantendo o status do país de grau de investimento.

A agência também cortou a nota dos cinco principais bancos do país.

Tanto Grécia como Portugal fecharam 2009 com déficits fiscais exorbitantes, de 13,6% e 9,4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), respectivamente.

O teto para os membros da zona do euro é de 3% do PIB.

Como a disparidade se repete em outras nações, como Espanha (11,2%) e Irlanda (14,3%), teme-se que crises até então nacionais se transformem em uma crise regional.

— A crise da Grécia é contagiosa e saiu de controle. Isso cria dúvidas sobre outros países com uma dívida grande em relação a seu PIB. É como coco caindo da árvore — disse William Sullivan, da JVB Financial Group.

Ajuda à Grécia pode chegar a C 55 bi e economista diz que euro é testado

Com a iminência de um calote, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já avalia elevar sua participação no pacote emergencial de ajuda à Grécia para C 25 bilhões, em vez dos C 15 bilhões anteriormente previstos, segundo o jornal “Financial Times”.

Isso elevaria o total do socorro para C 55 bilhões, já que os países da zona do euro entrariam com C 30 bilhões.

Hoje, o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, se reúne com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. De acordo com documento do governo alemão, ao qual a agência Reuters teve acesso, já haveria até um cronograma para aprovação do pacote.

As negociações entre FMI e União Europeia (UE) seriam concluídas em 2 de maio, e o Parlamento grego votaria o plano no dia 6 ou 7 de maio. O plano seria apreciado pelos países da zona do euro no dia 10 do mesmo mês, a tempo de reforçar os cofres gregos para pagar C 8,5 bilhões em dívidas que vencem em 19 de maio. O auxílio financeiro, porém, não virá sem contrapartida: — Seria uma ilusão acreditar que alguém pode ser curado demitindo o médico que prescreve remédio amargo — disse o diretor-gerente do FMI, em referência à relutância do governo de Atenas em aceitar ajuda.

O problema é que investidores receiam que o FMI e a UE tenham que fazer um socorro em cascata e que não tenham fôlego para isso. Em análise, a agência Associated Press diz que foi o rebaixamento de Portugal — e não a perda do grau de investimento da Grécia — que reforçou o temor de que a crise vire um “cogumelo”, atingindo outras nações europeias.

Numa tentativa de acalmar o mercado, o premier grego, George Papaconstantinou, foi à TV dizer que o país “absolutamente e sem dúvida” será capaz de cumprir com suas obrigações.

Já o ministro das Finanças de Portugal, Fernando Teixeira dos Santos, afirmou que “a decisão (da S&P) só contribui para a turbulência”.

— O euro está sendo testado da mesma forma em que outras épocas padrões monetários foram testados, como foi o caso do padrão ourodólar quebrado pelos EUA nos anos 70 — afirma Sérgio Vale, economistachefe da MB Associados.

(*) Com agências internacionais
PARA ANALISTAS, BRASIL ESTÁ PREPARADO PARA ENFRENTAR TURBULÊNCIA, na página 20 ENTENDA O QUE ACONTECEU

Um rating é uma nota que as agências internacionais de classificação de risco de crédito atribuem a um emissor (país ou empresa) de acordo com sua capacidade de pagar uma dívida. Ela serve para que investidores saibam o grau de risco dos títulos que estão adquirindo. As principais agências no mundo são a Standard & Poor’s (S&P), a Fitch e a Moody’s, que levam em conta indicadores como gastos do governo e dívida externa.

Quanto melhor o rating, menor o custo do emissor ao tomar empréstimos no exterior. Ontem, a S&P rebaixou as notas de Grécia e Portugal. A Grécia, que tinha grau de investimento – dado a locais seguros para investir –, caiu três pontos, para “BB+”, o primeiro nível na categoria especulativa.

Portugal caiu dois graus, para “Ardquo; (mas ainda é grau de investimento).

Atualmente, o Brasil é grau de investimento pelas três agências

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