sábado, 24 de abril de 2010

Um deputado como não mais se elegem:: Villas-Bôas Corrêa

DEU NO JORNAL DO BRASIL

A Câmara dos Deputados que freqüentei de 1948 até a mudança para Brasília, em 21 de abril de 1960, revelou o deputado Bilac Pinto, da brilhante bancada mineira da UDN. Quando a ditadura militar dos cinco generais-presidente começou com o golpe de 1° de abril de 1964, a Câmara era presidida pelo deputado Ranieri Mazzilli, do PSD de São Paulo, que exercia o cargo desde 1958 e estava com os seus dias contados.

O general-presidente Castello Branco vetou mais uma reeleição do pessedista, que derrotou o candidato governista, deputado e coronel da Brigada gaúcha, Perachi Barcelos.

Mas, com o facilitário da ditadura, o presidente Castello Branco reuniu os líderes das bancadas do Bloco Parlamentar Revolucionário e pediu que indicassem um nome para enfrentar Mazzilli. As ingênuas lideranças lembraram o nome do deputado pernambucano Nilo Coelho, que carimbava a sua fidelidade com os lautos almoços e jantares que oferecia ao general-presidente. O saciado general-presidente Castello Branco ignorou a indicação e, em tom de sondagem, deu o serviço, indagando como receberiam a indicação do deputado Bilac Pinto, que estava em Nova York como observador parlamentar da delegação brasileira junto à Organização das Nações Unidas. Nenhum dos líderes havia pensado no deputado mineiro, mas entenderam o recado e a ele aderiram com o maior entusiasmo.

O velho PSD manteve a candidatura do deputado Ranieri Mazzilli e a eleição foi disputada voto a voto, em clima tenso. O general-presidente Castello Branco telefonava para os deputados pedindo o voto e advertindo para os riscos de uma derrota, que poderia provocar o fechamento do Congresso. Bilac obteve 280 votos contra 167 de Mazzilli: a Câmara entendeu o recado.

Bilac Pinto assumiu o cargo e a maioria da Câmara pouco conhecia o sisudo e introvertido presidente. Em artigo de sucesso no Diário de Notícias do Rio, o escritor e cronista Osório Borba esboçou o perfil do presidente da Câmara comparando-o com o eucalipto que "cresce sozinho, seca em volta e não dá sombra". No livro O Congresso em Meio Século, o ex-Secretário Geral da Câmara, Paulo Martins de Oliveira, em depoimento ao jornalista Tarcísio Holanda, em poucas linhas resume o perfil do deputado Bilac Pinto; "era tímido, frio e distante. Tinha poucos amigos".

Mas, o depoimento do ex-Secretário Geral da Câmara é isento e veraz. Lembra que Bilac Pinto, desde antes da mudança da capital, em seu primeiro mandato, integrava a Banda de Música da UDN, formada pelos bacharéis como Milton Campos, Pedro Aleixo, Adaucto Lúcio Cardoso, Carlos Lacerda, Afonso Arinos, Aliomar Baleeiro, Oscar Dias Correia, Guilherme Machado. Reconhece com isenção que Bilac Pinto, apesar da sua timidez, exerceu a presidência da Câmara em sua plenitude.

Bilac Pinto presidia as sessões da Câmara, já em Brasília, durante a Ordem do Dia sem esconder o tédio pela discurseira medíocre dos oradores que mandavam recados aos seus eleitores. E não se candidatou à reeleição, sugerindo ao presidente Castello Branco o nome do deputado Adaucto Lúcio Cardoso, um mineiro eleito pela UDN do antigo Estado da Guanabara.

Liberado, Bilac Pinto decidiu realizar o sonho de passar uma temporada em Paris, onde deixara por prudência mineira, guardado um automóvel. Pretendia também fazer uma longa viagem marítima ao Oriente, quando foi surpreendido pelo convite do presidente Castello Branco para assumir a embaixada do Brasil na França. Conta o secretário Paulo Affonso que foi procurado por funcionário do gabinete do ministro das Relações Exteriores que desejava entregar ao novo embaixador brasileiro as passagens e as diárias para a viagem a Paris.

Paulo Afonso comunicou a Bilac Pinto que o funcionário do Itamarati queria ir à sua casa para combinar a data da viagem a Paris e entregar as passagens e as diárias. Bilac Pinto recusou, alegando que só se consideraria embaixador quando entregasse suas credenciais ao presidente Charles de Gaulle. E pagou as passagens dele e da esposa.

Duas linhas de um depoimento pessoal. Conheci o professor Bilac Pinto na Faculdade Nacional de Direito, como aluno e presidente do Centro Acadêmico Candido de Oliveira.

Depois como repórter político desde 1948, na Câmara. E em várias oportunidades do acaso a favor. E do catedrático e do deputado guardo a lembrança da cordialidade com que me tratou sempre, sem exceção.

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