quarta-feira, 5 de maio de 2010

Ahmadinejad agradece a Lula por apoio

DEU EM O GLOBO

Presidente iraniano diz não ter medo de sanções e afirma que isolamento fortaleceu o país

Marília Martins / Correspondente

NOVA YORK. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, advertiu ontem que a aprovação de sanções contra o Irã na ONU vai desmoralizar as intenções de Barack Obama em mudar a imagem americana no Oriente Médio e acabar com esperanças de sucesso da política dos Estados Unidos no Iraque, no Afeganistão e na Palestina. Ahmadinejad reuniu um pequeno grupo de correspondentes internacionais para dizer que não teme o agravamento de sanções e agradeceu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além do premier turco, Recep Erdogan, pelos esforços de negociar uma saída para o impasse atual: — O presidente Lula e o primeiroministro da Turquia têm sido amigos, vão visitar Teerã, e esperam abrir um caminho para a negociação. Mas é preciso que haja sinceridade do outro lado, do lado dos americanos, o que não está acontecendo. Nós não desejamos mais sanções, mas não temos medo delas. Há 30 anos, o país vem convivendo com sanções americanas e isto só nos fortaleceu e nos uniu — disse o iraniano.

Ahmadinejad afirmou que seu país tem 800 mil pessoas dependentes de tratamento médico à base de urânio enriquecido e que “até por motivos humanitários” os americanos deveriam atender aos pedidos de colaboração que já foram feitos. Ele acusou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, de ter usado “um tom de advertência” contra o Irã quando “deveria ter usado este tom contra os EUA”.

— Este Tratado de Não-Proliferação está sendo usado para impedir países em desenvolvimento de ter acesso à energia nuclear. O TNP não tem a mesma ênfase em supervisionar o desarmamento das grandes potencias como tem para supervisionar a tecnologia dos países em desenvolvimento e impedir que eles desenvolvam suas pesquisas.

Nós pedimos o urânio que precisamos para a ONU, mas alguns países impõem précondições que estão impossibilitando a troca de combustível, porque não estão sendo sinceros e suspeitam que estamos secretamente desenvolvendo armas — acusou Ahmadinejad.

O iraniano considerou positivo o fato de que os EUA revelaram o número de ogivas nucleares de seu arsenal, mas disse que isto não é o bastante: — Os EUA são o único país do mundo a ter usado a bomba atômica.

O que adianta dizer que eles têm cinco mil ogivas? Por acaso este número é pequeno? Este arsenal é menos poderoso do que os anteriores? Não. E como podemos saber se eles dizem a verdade? Eles esperam aplausos, mas a verdade é que deveriam submeter-se a um controle internacional e ter seu arsenal contado por países independentes — disse ele, acusando os EUA de terem usado armas químicas contra seu país na Guerra Irã-Iraque.

Para presidente, Irã trata as mulheres melhor

Ahmadinejad qualificou o discurso da secretária Hillary Clinton como “muito agressivo” e disse que temia que grupos radicais de direita pressionassem Obama para chegar a um ponto irreversível de aprovação de sanções, o que levaria a um afastamento definitivo de qualquer engajamento diplomático.

O presidente iraniano terminou a entrevista dizendo que seu país não apenas respeita os direitos humanos como trata as mulheres muito melhor do que o Ocidente: — O que resta da dignidade feminina no mundo ocidental? No Irã, as mulheres são tratadas com respeito e admiração.

Elas estão em postos do governo, estão nas universidades, são altamente consideradas.

Mas não queremos para nossas mulheres o mesmo tratamento que é dado às mulheres no mundo ocidental. Isto não serve para nós, e a comunidade internacional deveria respeitar as diferenças entre as culturas e sociedades. Isto para nós é respeito aos direitos humanos — avaliou o presidente Ahmadinejad.

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