terça-feira, 11 de maio de 2010

Depois da tempestade...

DEU EM O GLOBO

Socorro histórico para blindar países do euro faz bolsas dispararem. Dólar despenca no Brasil

Bruno Villas Bôas*

RIO, NOVA YORK e BRUXELAS - O anúncio do pacote de C 750 bilhões (US$ 975 bilhões) costurado ontem em tensa reunião de 14 horas dos ministros de Finanças da União Europeia (UE), para conter o risco de um contágio da crise fiscal da Grécia, levou euforia aos mercados mundiais, após quatro dias de quedas. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acompanhou e subiu 4,11%, aos 65.452 pontos, pelo Ibovespa, seu principal índice. Foi a maior alta desde 29 de outubro do ano passado, quando os EUA saíram da recessão. Em Wall Street, o Dow Jones subiu 3,9%, para 10.785,14 pontos, a maior alta desde março de 2009; o Nasdaq avançou 4,8%, para 2.374,67 pontos; e o S&P 500, 4,4%, para 1.159,73 pontos. No Brasil, o dólar comercial que na última semana havia subido 6,5% recuou 3,99%, negociado a R$ 1,777.

A UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estabeleceram um pacote de quase US$ 1 trilhão para apoiar os países europeus ameaçados de contágio pela crise fiscal da Grécia, especialmente Portugal e Espanha.

Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) concordou em comprar títulos soberanos da dívida desses países, cujos prêmios cobrados pelos mercados estavam dificultando a rolagem dos débitos, o que provocou temores de calote. Em contrapartida, Portugal e Espanha anunciaram medidas de austeridade ainda mais severas do que haviam proposto anteriormente.

A ajuda acabou superando as expectativas dos analistas e sinalizou que as autoridades europeias, enfim, estão agindo para blindar o euro e proteger suas economias. O presidente americano, Barack Obama, que havia conversado no domingo com a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, parabenizou ontem as autoridades europeias pelo acordo, afirmando em nota que apoia as medidas.

O mercado está dando um grande suspiro de alívio, com as medidas agressivas da UE avaliou Alan Gayle, estrategista sênior de Investimentos do Ridge Worth Investments, em Richmond.

Em outra medida voltada para reforçar o sistema financeiro europeu, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reativou um programa de 2008, voltado para ajudar a financiar os bancos centrais da UE. O Banco da Inglaterra, o BCE e os bancos centrais de Canadá, Suíça e Japão também participam do esforço.

Alta na Bovespa foi generalizada

Na Europa, a alta das bolsas bateu recorde. Madri, por exemplo, subiu 14,43%, o maior ganho de sua história.

Paris avançou 9,66%. Londres e Frankfurt cresceram 5,16% e 5,3%, respectivamente. Em Milão, a alta foi de 11,28%; em Lisboa, 10,73%; e em Atenas, 9,13%. Na Ásia, Tóquio avançou 1,6%; Hong Kong, 2,54%; Xangai, 0,39%; Taiwan, 1,29%; Seul, 1,83%, Cingapura, 2,1%; e Sydney, 2,66%.

No Ibovespa, os ganhos ontem foram generalizados: 60 ações das 63 que compõem o índice fecharam em alta. O Ibovespa não subiu mais porque as ações da Petrobras não permitiram, ainda afetadas pela incertezas em relação à capitalização da companhia. Os papéis PN (preferenciais, mais líquidos e com bastante peso no índice) tiveram alta de 1,34%, muito abaixo dos ganhos da Vale PNA (4,63%), por exemplo, que movimentou sozinha R$ 1 bilhão.

Muita gente aproveitou para comprar ações mais baratas. Fundos também voltaram e houve um efeito manada, após a forte queda da semana passada disse Eduardo Oliveira, da Um Investimentos.

Mesmo com a alta, o Ibovespa ainda não zerou as perdas da semana passada. Para isso, precisa subir mais 3,17%. Este ano, o índice ainda acumula uma queda de 4,57%. Pedro Galdi, da SLW, diz que o pacote dá fôlego ao mercado a curto prazo: Os investidores estrangeiros estão voltando à Bolsa. E o mercado, sabendo que o socorro está dado, deve voltar a olhar para números da economia brasileira e americana, além de resultados corporativos. Esses dados ficaram de lado na semana passada.

Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central (BC) e sócio da Mauá Investimentos, afirma que o pacote europeu torna mais difícil um contágio da crise no Brasil, embora ainda existam riscos. Ele prevê que a Bovespa e o dólar continuarão voláteis.

O pacote foi muito completo e reduz drasticamente o risco financeiro e de contágio, mas não resolve o problema real que é um alto endividamento associado a políticas fiscais negligentes por vários países, como Grécia, Portugal, Espanha diz ele.

Já Sidnei Nehme, da NGO Corretora de Câmbio, afirma que os bancos brasileiros ganharam muito com a queda do dólar ontem. Ao contrário do que apontou a maioria dos analistas, Nehme afirma que os grandes bancos ajudaram a puxar a alta do dólar na semana passada, realizando operações de compra e venda entre eles, ao mesmo tempo em que apostavam contra a moeda no mercado futuro.

Os bancos ganharam algo como US$ 300 milhões com a queda do dólar ontem. Quem perdeu foram os fundos multimercados afirma.

Segundo ele, os bancos brasileiros estavam vendidos (no jargão do mercado, apostando na queda do dólar) em US$ 5,9 bilhões na última sexta-feira, enquanto os multimercados estavam comprados (apostando na valorização do dólar) nos mesmos US$ 5,9 bilhões.

Ontem, o real foi uma das moedas que mais avançaram em relação ao dólar. A moeda recuou menos frente ao euro (-0,26%), dólar australiano (1,61%) e libra (-0,28%), segundo dados da Bloomberg.

(*) Com agências internacionais

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