segunda-feira, 10 de maio de 2010

ENTREVISTA: Antanas Mockus, candidato à presidência da Colômbia

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Ruth Costas


''Não sou contra o uribismo, mas contra a cultura do atalho e do vale-tudo''

Entre um comício e outro pelo interior da Colômbia, o candidato favorito às eleições do dia 30, Antanas Mockus, conversou com o Estado por telefone sobre seus planos de governo.

O que garante que quem se vestia de Supercidadão e chegou a abaixar as calças em público terá a seriedade necessária para ser presidente?

Pela Constituição, o presidente encarna a soberania nacional, representa o país e por isso precisa fazê-lo com dignidade. Sei que o dia em que me tornar presidente será aquele em que jurarei cumprir a Constituição e as leis. Isso significa um compromisso público de representar dignamente o país. Há um amadurecimento de minha parte nesse processo. Quando eu tinha 16 anos podia fazer coisas que não posso hoje. Há quatro anos eu cantava a Constituição, hoje não me atrevo.

Uribe insinua que o sr. não apoiou o programa Segurança Democrática e agora apropria-se do discurso dele...

Tivemos um ponto de diferença no início de seu primeiro mandato, quando eu era prefeito, sobre o pagamento de recompensas (por delação no combate à guerrilha). Eu não concordava com essa estratégia de incitar os cúmplices dos criminosos (a delatarem seus companheiros) com recompensas - para mim isso era comprar a cooperação dos cidadãos. Mas depois disso cooperamos.

Define-se como anti-Uribe?

Não. Em algumas coisas. Mais que anti-Uribe sou anti-cultura do atalho, anti-resultado a qualquer custo. Sou mais cuidadoso com os métodos. Mas temos coisas em comum, como a vontade de governar de perto dos cidadãos.

Não haverá acordo humanitário com as Farc em seu governo?


É improvável, porque as Farc nos últimos anos praticaram a linguagem do sequestro. Qualquer concessão poderia disparar o número de reféns e retroceder nos ganhos dos últimos anos. Agora, se a Cruz Vermelha e a Igreja quiserem ajudar a promover liberações unilaterais, poderão fazê-lo.

Como governaria sem a maioria no Congresso?

Acredito na democracia deliberativa, no debate. Qualquer congressista pode propor ideias que mudam os rumos de uma discussão. Não ofereceremos favores por votos nem aceitaremos extorsão. Venceremos pela forças dos nossos argumentos.

Como pretende melhorar as relações com a Venezuela?

Precisamos ser diplomáticos e prudentes, tratar os demais como gostaríamos de ser tratados. Nenhum desses países gostaria da intromissão do país vizinho nos seus debates filosóficos ou ideológicos. Em geral os colombianos têm uma atitude muito crítica com relação ao socialismo bolivariano. E parte da sociedade venezuelana olha com ressalva o que acontece na Colômbia. A existência de opiniões divergentes é em certa medida inevitável e até saudável, mas nós, governantes, devemos ser prudentes com essas opiniões. Agora, na América Latina há mais pontos de vista diferentes. A democracia está mais (pausa) interessante, apesar de que às vezes isso implica em mais riscos. Sou otimista. Acredito que a democracia se corrige a si mesma.

A Colômbia deu prioridade às relações com os EUA nos últimos anos. O sr. daria mais atenção à América Latina?

Tenho uma visão cálida dos EUA, sua academia e Constituição. Mas a Constituição colombiana orienta no seu preâmbulo à integração latino-americana e eu já disse que tomo a Constituição como norte.

A que atribui seu crescimento nas pesquisas?

À cooperação com meus ex-rivais (ex-prefeitos) e à aliança com Sérgio Fajardo. À discussão séria de conteúdos programáticos e à sinceridade no tema da doença de Parkinson. (Ele revelou que foi diagnosticado com a doença, mas seus sintomas, segundo médicos, só se manifestarão em 12 anos).

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