terça-feira, 25 de maio de 2010

Ganhar Minas é a única opção de Aécio:: Raymundo Costa

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Após 25 dias de férias, Aécio Neves volta hoje à ativa sob pressão para aceitar a candidatura a vice-presidente na chapa do PSDB. O assunto seria naturalmente retomado com o retorno do tucano, mas ganhou candência com as novas pesquisas. O período de férias de Aécio foi péssimo para o PSDB em Minas Gerais: seu candidato ao governo estadual, Antonio Anastasia, continua no mesmo lugar desde que Aécio saiu de cena, enquanto José Serra perdeu terreno para Dilma Rousseff, embora o crescimento da candidata do PT tenha se dado no Sudeste como um todo, inclusive em São Paulo.

Aécio tem ouvido os argumentos dos dois lados. Um dos mais contundentes, favorável à composição da chapa puro-sangue do PSDB, é do Democratas (DEM). Diz que o ex-governador de Minas Gerais nada tem a ganhar sendo candidato ao Senado: na hipótese de José Serra ganhar a eleição, ele não teria por que ser agradecido ao mineiro; se perder, os paulistas teriam um argumento forte para tirá-lo da segunda colocação na fila dos presidenciáveis tucanos.

Candidato ao Senado, Aécio tem uma eleição assegurada. Mas só um milagre - segundo o enredo demista - pode fazê-lo presidente do Congresso, porque é improvável que o PSDB eleja a maior bancada do Senado. E se for eleito estará sujeito às crises periódicas que atingiram todos os que sentaram na cadeira atualmente ocupada por José Sarney desde 2000, pelo menos.

Também nunca ninguém saiu do Senado ou da Câmara dos Deputados para ser presidente da República, desde 1988. O senador Fernando Henrique Cardoso saiu do Ministério da Fazenda para ser o candidato do PSDB, com o crédito de ter feito o Plano Real e dado um fim à inflação.

Esses são os aspectos negativos. Aécio também pondera o argumento sobre aqueles que seriam os aspectos positivos de sua candidatura a vice-presidente na chapa encabeçada por Serra.

São eles:

1- Aécio será um vice forte, pode negociar uma parte do governo, ou seja, uma participação efetiva de Minas no governo José Serra;

2- Em qualquer hipótese, passa a ser o primeiro da fila de presidenciáveis do PSDB. É o próximo candidato tucano a presidente, Serra perca ou vença a eleição de outubro;

3- Na hipótese de Serra perder a eleição, Aécio automaticamente passa a ser o líder das oposições, mas para fazer um trabalho que o ex-governador de Minas Gerais nunca fez, que é rodar e conhecer o Brasil, sair em uma espécie de caravana como as que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos noventa.

Essa é uma avaliação que Aécio ouviu de líderes do Democratas. O DEM não vai brigar pela vaga de vice-presidente da República na chapa de Serra, muito menos se o candidato for o ex-governador mineiro. Não adianta ter o vice e não ter o presidente da República, dizem os demistas. Mas esses também são os argumentos da cúpula nacional tucana. A novidade é a seção mineira do PSDB considerar a hipótese de Aécio como companheiro de chapa de José Serra.

O problema dos tucanos mineiros é que o candidato do PSDB ao governo do Estado, Antônio Anastasia, continua empacado na terceira posição, de acordo com as pesquisas inclusive partidárias. Tanto em Minas como nacionalmente atribui-se o fraco desempenho do partido no Estado à ausência de Aécio. A dúvida agora é qual será a via escolhida por Aécio para alavancar Anastasia: ele vai fazer como Lula e praticamente sozinho levar seu candidato à cabeça das pesquisas, como ocorreu com Dilma, ou vai entender que é essencial jogar com Serra para manter o poder em Minas Gerais?

Para os planos futuros de Aécio é fundamental manter a posição mineira, seja ou não José Serra o próximo presidente da República. O peso de Aécio Neves no Senado será maior ou menor de acordo com o poder que mantiver em Minas Gerais, o que hoje é praticamente absoluto, independentemente do sobrenome do tio-avô Tancredo Neves que carrega.

O PSDB mineiro queria Aécio candidato a presidente e torcia o nariz à eventual composição na chapa de Serra. No encontro PSDB-DEM-PPS que indicou o ex-governador de São Paulo, Aécio pela primeira vez acenou com a possibilidade de vir aceitar a vice. Agora, o PSDB de Minas reagiu a uma especulação segundo a qual o presidente do partido, senador Sérgio Guerra, poderia ser o indicado para o cargo, de vez que ele desistiu de concorrer à reeleição e vai disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. A indicação de Guerra teria a vantagem de agregar um político do Nordeste à chapa.

Em férias, Aécio pediu para a cúpula tucana não tomar nenhuma decisão na sua ausência. Isso foi entendido como outra sinalização do mineiro no sentido de que poderá aceitar a Vice-presidência. Leitura errada, segundo quem esteve mais recentemente com Aécio. Ele continua dizendo que é candidato ao Senado; é o que deve repetir quando reaparecer publicamente, sempre com a ressalva de que só a morte é uma fatalidade.

Na prática, para a cúpula do PSDB e para José Serra o que importa é juntar os colégios eleitorais de São Paulo e Minas Gerais, os dois maiores do país. De certa forma, Minas também contemplaria o Nordeste, pela identidade regional de uma vasta área de divisa com a Bahia. Mas na hipótese de o candidato a vice sair do Nordeste, o mais provável é que o indicado seja o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Ex-presidente do partido, além de agregar o Nordeste a indicação de Tasso seria, segundo os tucanos, uma sinalização segura do engajamento de Aécio Neves na campanha eleitoral de José Serra. Tasso é aliado e defendeu a candidatura do governador mineiro no processo preliminar de seleção dos tucanos.

Os tucanos esperam resolver tudo até 12 de junho, data da convenção para formalizar a candidatura de Serra. No dia 17, vai ao ar o programa nacional partidário e o PSDB já quer apresentar a chapa completa a dos seus candidatos a presidente e vice. Os tucanos deram azar: o programa será exibido em plena Copa do Mundo.


Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras

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