segunda-feira, 10 de maio de 2010

Hora de Serra :: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

“Eu não me coloco como oposição nem como situação. Eu me coloco como um candidato para o futuro” (José Serra)

Perguntei no meu blog quando Dilma Rousseff ultrapassará José Serra nas pesquisas de intenção de voto. Com pouco mais de três mil respostas registradas em quatro dias, 11,8% delas cravaram a opção “depois que Lula começar a pedir votos para Dilma na televisão a partir de agosto”. A opção “não ultrapassará Serra” atraiu 78% das respostas.

Otimistas, os que torcem por Serra ou parecem resignados com seu aparente favoritismo.

A tendência detectada pela série de pesquisas aplicadas desde o ano passado por quatro institutos (Datafolha, Ibope, Vox Populi e Sensus) sugeria a ultrapassagem de Serra por Dilma antes do início oficial da campanha eleitoral marcado para 5 de julho próximo. Ocorreu que...

Ocorreu que Serra largou o governo de São Paulo e se lançou como pré-candidato à sucessão de Lula. O barulho promovido pela oposição em torno do lançamento interrompeu a ascensão de Dilma, embora não tenha refletido de maneira expressiva na diferença de intenção de votos entre os dois. Pelo contrário. A diferença aumentou apenas em um ou dois pontinhos — dentro, portanto, da margem de erro das pesquisas.

O governo aposta na retomada do crescimento de Dilma depois dos comerciais do PT que começaram a ser veiculados no rádio e na televisão na última quintafeira. E que deverão culminar nesta quinta com o programa de dez minutos do partido a ser estrelado pela candidata. O programa corre o risco de não ir ao ar.

O Ministério Público Eleitoral quer punir o PT por ter usado o programa de dezembro para fazer propaganda de Dilma.

O PT limita-se a seguir o exemplo que vem de cima.

Há quase dois anos que Lula faz campanha aberta por Dilma desrespeitando a lei — e em algumas ocasiões debochando dela. Foi multado duas vezes. Os comerciais do PT exibidos na última quinta-feira acabaram vetados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os dois novos comerciais exibidos no fim de semana derraparam nos mesmos problemas dos comerciais vetados.

Na fase de pré-campanha é Serra quem tem brilhado mais. A agenda tem sido ditada por ele. E quem dita a agenda comanda a campanha.

Dilma ainda não encontrou um discurso. Tentou dois caminhos e, aparentemente, abandonou-os. Tentou seguir o script predeterminado há meses de comparar os governos Fernando Henrique e Lula. Não rendeu o suficiente até aqui.

Ficar na comparação entre os governos não lhe daria base para um posicionamento firme como candidata com vida e luz próprias.

Ela passou então a atacar Serra. Acusou-o de ser um lobo metido em pele de cordeiro. Chamou-o de biruta de aeroporto, que muda de direção a depender da força dos ventos. Não deu certo também. Para que desse, o adversário teria de topar a briga.

E Serra não topou. Quando lhe perguntaram o que achava de ter sido comparado a uma biruta de aeroporto, apenas riu. Durante o debate entre os candidatos na associação mineira de municípios, Serra desdobrou-se em cortesias com Dilma. Chegou ao ponto de dizer que ela jamais dificultou ou impediu a cooperação entre o governo federal e o governo paulista.

Esfregou seu nariz no dela.

À procura de um discurso que não se restrinja à exaltação do governo Lula e à promessa de que dará continuidade a ele, Dilma tem incorrido no erro de se deixar pautar pelo adversário.

Serra defendeu a criação do Ministério da Segurança Pública.

Ela criticou a proposta.

Serra disse que, se eleito, gostaria de governar com o PT e o PV. Lorota pura para ocupar espaço na mídia como candidato de conciliação.

Dilma reagiu à ideia. Líderes de peso do PT também reagiram. Assim como haviam reagido à garantia oferecida por Serra de que ampliará os benefícios do programa Bolsa Família. Se Lula pôde se apropriar de várias bandeiras do PSDB realizando um movimento clássico estudado em livros dedicados ao marketing político, por que Serra não poderia fazer o mesmo?

A hora de Dilma ainda está por vir.

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