quinta-feira, 27 de maio de 2010

Inadimplência cai, mas juro ao consumidor sobe

DEU EM O GLOBO

Taxa média subiu para 41,1% ao ano, influenciada por alta na Selic. Atraso em pagamentos recuou para 6,8%

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. A queda da inadimplência não evitou que os juros praticados pelo sistema financeiro continuassem em alta. A taxa média cobrada das famílias passou de 41% para 41,1% ao ano em abril, movimento que se acentuou em maio, informou ontem o Banco Central (BC). Até o último dia 13, subiu para 41,6%. Para as empresas, o cenário se repete, com os juros médios cobrados estáveis em 26,3% em abril, mas já em 26,8% na primeira metade deste mês.

A retomada do aumento da Taxa Selic em abril quando o Comitê de Política Monetária elevou os juros básicos de 8,75% para 9,50% ao ano contribuiu para o ajuste. Isso porque influencia o custo de captação atual e dos próximos meses dos bancos e sua expectativa sobre a evolução futura da inadimplência.

Além disso, o BC avalia que pode estar havendo um incremento, no momento, das operações em modalidades de crédito mais caras, como cheque especial e cartão de crédito. A taxa média de juros é fortemente influenciada pelo volume.

BC vê procura maior por linhas de crédito mais caras Para o chefe do departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o mercado de juros no país mostra hoje apenas uma pequena elevação: Houve uma procura pelas modalidades mais caras afirmou Lopes.

O aposentado Geraldo Guimarães, de 67 anos, desistiu de tomar um financiamento quando consultou a taxa de juros. Já endividado, ele foi ontem a uma financeira do Centro do Rio em busca de um novo empréstimo: O corretor calculou que, se eu pegasse R$ 5 mil emprestados, pagaria quase o dobro no final das prestações. Desisti.

Não dá nem para tentar em outra financeira, os juros são abusivos em todas. O funcionário me disse que seriam juros de 12% ao ano. Já estou com a corda na garganta, não posso me enforcar ainda mais.

Pelo sexto mês seguido, houve queda n inadimplência (atraso de pagamento superior a 90 dias), que chegou em abril a 6,8% para o consumidor final, ainda muito longe do patamar mínimo, de 5% do total emprestado, atingido em janeiro de 2001.

Já os spreads diferença entre quanto o dinheiro custa para os bancos e quanto as instituições cobram do tomador final para pessoas físicas caíram, passando de 29,7 para 29,5 pontos percentuais em abril, o menor patamar histórico. Na prévia de maio, permaneciam no mesmo nível.

Temos ainda mais espaço para reduções na inadimplência ponderou Lopes.

O mercado, porém, é cético.

O economista da consultoria Tendências Alexandre Andrade lembra que o movimento da Selic é de alta até o fim do ano (a média dos analistas prevê taxa a 11,75% em dezembro), o que acaba alimentando as incertezas dos bancos sobre a inadimplência, uma vez que os empréstimos vão ficando cada vez mais caros. Quando sobe o risco de calote, aumentam os spreads.

Num contexto de aumento de juros, é normal que haja incertezas nas condições de pagamento das pessoas. Esse movimento de redução dos spreads deve ser revertido até meados do ano afirmou Andrade.

Taxa do cheque especial subiu para 161,3% ao ano Por conta dos juros altos, o auxiliar de escritório Luís Fernando de Castro, de 33 anos, não conseguiu se livrar de uma dívida de R$ 300 no cartão de crédito. Ele tentou parcelar em três vezes, mas o total pago chegaria a quase R$ 400: Os juros são abusivos.

Não sei o que fazer.

Segundo o BC, a taxa de juros média do cheque especial foi a que mais cresceu em abril, passando de 160,3% para 161,3% ao ano, enquanto os juros do crédito direto ao consumidor (CDC) para bens duráveis caíram 0,5 ponto percentual, para 49,7%. Já os juros médios cobrados nos empréstimos consignados, com desconto em folha de pagamento, atingiram o piso histórico, de 26,9% ao ano, em abril.

Lopes, do BC, lembrou que as recentes medidas tomadas para regular o desconto em folha que cria uma senha para os aposentados do setor público, a fim de evitar que extrapolem o valor da parcela do salário (30%) que pode ficar comprometida podem frear um pouco a expansão da modalidade.

Mas ainda há espaço para crescer na esfera privada acrescentou ele.

O volume de crédito consignado, em abril sobre março, teve expansão de 2,3% no setor público, chegando a 4,7% no segmento privado. Já o volume de crédito total do país fechou o mês passado em R$ 1,468 trilhão, com crescimento de 1,1% no mês. Este número equivale a 45,2% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país ao longo de um ano).

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