segunda-feira, 17 de maio de 2010

O bem amado:: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

Escapa à nossa vã filosofia o tanto de coisas que aproximam o prefeito Odorico Paraguaçu, personagem da novela de Dias Gomes O Bem Amado, de Manoel Santana (PT), prefeito de Juazeiro do Norte, Ceará, onde José Serra (PSDB), hoje, rezará aos pés da estátua do Padre Cícero, a figura messiânica mais poderosa no imaginário dos nordestinos.

Odorico era um espertalhão simpático e bom de lábia? Então o que dizer de Santana ou melhor: Dr. Santana, 49 anos, médico sanitarista, o primeiro vereador do PT na história de Juazeiro? Para se eleger prefeito do terceiro maior colégio eleitoral do Estado, ele apenasmente derrotou dois ex-prefeitos e um deputado federal. Obteve 58% dos votos válidos quase o dobro do que alcançou o segundo colocado.

Regada por doses de licor de jenipapo, Odorico mantinha uma relação pouco casta com três mulheres ao mesmo tempo as irmãs Cajazeiras. Há pelo menos três mulheres na vida do Dr. Santana, e as três empregadas por ele na prefeitura. A subsecretária de Governo, de nome Tânia Paiva, é mãe dos três primeiros filhos do prefeito. Atende aos pedidos dos vereadores. Não se deixa intimidar por eles.

Oficialmente, a primeira-dama do município é Cristiane Pereira, presidente da Fundação da Criança e Adolescência. Ela foi casada com o vereador Tarso Magno (PSL), o melhor amigo de Dr. Santana. A amizade entre os dois foi pelo ralo quando Magno descobriu que estava sendo traído. Para lavar sua honra, ofereceu ao Tribunal de Contas dos Municípios 42 denúncias de corrupção contra o prefeito.

A terceira mulher é a ouvidora da prefeitura, Luciana Matos. Licenciou-se do cargo. Saiu para dar à luz a Júlia, filha do prefeito e alvo de mensagem carinhosa postada por ele em seu Twitter. Corre em Juazeiro que Dr. Santana teve mais um filho com outra funcionária graduada da prefeitura. Mas isso talvez não passe de maledicência capaz de afogar o coração do prefeito em desgosto e deceptude.

Não é por falta de companhia, pois, que Dr. Santana mora sozinho. Prefere assim. O exercício do cargo tem-lhe sido penoso. Eleito com o apoio do ex-prefeito Raimundo Macedo (PSDB), também médico e conhecido como Raimundinho Gente Fina, Dr. Santana logo rompeu com ele. Acusou-o de ter quebrado a prefeitura. O troco foi rápido e pesado para quem se dizia um homem de poucas posses.

Raimundinho Gente Fina mostrou a amigos comuns recibos no valor de R$ 7 milhões assinados por Dr. Santana enquanto era candidato a prefeito. Dr. Santana nunca mais falou da herança maldita legada por seu antecessor. Proibiu-o, contudo, de trabalhar no hospital do município. Raimundinho Gente Fina atende seus pacientes debaixo de uma frondosa árvore do Hospital e Maternidade São Lucas.

Como quem faz aqui paga aqui... A prefeitura também quebrou nas mãos de Dr. Santana. O balanço do ano passado revela um rombo de R$ 37,4 milhões de restos a pagar. O prefeito esqueceu o que disse em comícios e privatizou oito mercados, um frigorífico e o Hotel Municipal. Em breve será a vez do estádio Romeirão. Só tem um probleminha: tudo está sendo vendido a um único comprador.

O felizardo é o empresário Sílvio Rui, vinculado ao PSDB local, dono de uma empresa de ônibus. É a melhor privatização do mundo, escarnece o vereador Magno sim, aquele que perdeu a mulher para Dr. Santana. Se dependesse de Magno, o prefeito já teria sido cassado. Magno conseguiu a assinatura de sete colegas e abriu uma CPI contra ele. Dr. Santana tomou os providenciamentos devidos e sustou a CPI.

O Ministério Público quer reabri-la. Quer apurar também o desvio de R$ 3 milhões enviados pelo Ministério da Educação para reformar 18 escolas. Foi para não ser vista ao lado do prefeito que Dilma Rousseff cancelou em abril último a visita à estátua de Padre Cícero. A primazia caberá a Serra. Dr. Santana entrou na sucessão de Lula pelas portas do fundo.

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