quinta-feira, 27 de maio de 2010

Reflexão do dia - Fernando Henrique Cardoso


Valor: O senhor voltou a fazer essa cobrança em 2006, em uma carta aberta. A que o senhor atribui essa dificuldade do PSDB de se aproximar dos movimentos sociais e dos sindicatos?

FHC: " Não é uma dificuldade só do PSDB. É de todos os partidos. O que tinha ligação, que é o PT, perdeu também. Ele está próximo dos líderes sindicais. Os sindicatos perderam relevância na vida social brasileira. Já houve épocas em que os sindicatos mobilizavam, faziam greve. Não tem mais isso. O número de filiados caiu muito. O que ficou foi uma camada sindical, que se organizou muito ao redor da CUT e da Força Sindical. Quando fazem manifestação de massa é porque tem prêmio, tem sorteio de casa. Não é uma coisa politizada. Estávamos num horizonte pré-queda do muro de Berlim. Tinha uma movimentação diferente das massas. O mundo de lá para cá tomou outras características. "

Valor: E os movimentos sociais?

FHC: " Esses têm força. Mas quais? Tem o MST. E mais quais? A força das pastorais caiu muito. Quem tem força mobilizadora sem estar ligado ao aparelho do Estado, através dos convênios, das ONGs que recebem o recurso? Houve uma especialização da política, que se chama erroneamente de classe política. É muito desconectada do cotidiano. Não é só do sindicato, é em geral. A sociedade assiste ao espetáculo da política pela televisão, pelo jornal. Assiste de fora. "



(Fernando Henrique Cardoso, na entrevista no Valor Econômico, em 20/6/2008)

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