sexta-feira, 28 de maio de 2010

Serra diz que já sabia que Aécio não seria vice

DEU EM O GLOBO

PSDB prepara estratégia para ampliar vantagem em São Paulo e compensar força maior do PT no Nordeste

Clarissa Barreto* e Silvia Amorim

GRAMADO (RS) e SÃO PAULO. "Como é que se pode mudar o que nunca mudou?", reagiu o pré-candidato do PSDB, José Serra, ao ser perguntado sobre o anúncio do ex-governador Aécio Neves, de Minas, de que não vai mesmo integrar a chapa tucana como vice. O ex-governador participava do 26º Congresso Nacional de Secretarias de Saúde, em Gramado, no Rio Grande do Sul:

- Eu já sabia disso há muitos meses - disse Serra, que chegou a convidar Aécio para vice, antes de lançar sua candidatura, e já tinha ouvido de Aécio que ele preferia disputar o Senado.

Perguntado se havia perdido um bom candidato a vice, Serra se limitou a dizer:

- Você só perde o que tem. Ele não era candidato.

Sobre os conselhos do ex-governador mineiro, que afirmou ontem que o partido deve adotar um discurso que mostre as falhas do governo Lula, Serra afirmou:

- Para mim ele não disse isso. Falei com ele hoje (ontem) e ele não disse nada disso. Ele disse "tuas declarações foram primorosas". Pode pôr entre aspas.

Meta é abrir 6 milhões de votos sobre o adversário

Enquanto ainda forma a chapa para a Presidência, o PSDB traça planos para aumentar sua votação em São Paulo. O partido tem planos de estipular metas de votação para cada um dos municípios paulistas como estratégia para ampliar a vantagem nas urnas em relação ao PT no maior colégio eleitoral do país. Embora esteja sendo preparado há meses - portanto, é anterior à divulgação das últimas pesquisas de intenção de voto que mostraram os presidenciáveis José Serra e Dilma Rousseff empatados - o plano cai sob medida para o atual momento tucano.

Levantamento do Instituto Datafolha na semana passada constatou um crescimento da petista em todas as regiões do país, incluindo o Sudeste, berço dos tucanos. Na região, Dilma ganhou sete pontos, chegando a 33% das intenções de voto. Serra perdeu cinco e tem agora 40%.

O esforço pela ampliação da votação se insere ainda num contexto de dificuldades de penetração do partido em estados do Nordeste. Já é praticamente um mantra tucano a tese de que, para vencer a eleição, Serra terá que conseguir, em São Paulo e em Minas Gerais, votos para compensar a vantagem que Dilma deverá ter entre o eleitorado nordestino.

A planilha com a meta de votos a ser atingida por cada uma das 645 cidades de São Paulo está em fase final de elaboração e ainda será discutida pela Executiva Estadual do PSDB. Além disso, o partido já fez um diagnóstico, município a município, das votações do PSDB e do PT em 2002, 2006 e 2008. A série histórica visa a identificar regiões em que os tucanos não tiveram um bom desempenho nas urnas ou, até mesmo, perderam para o adversário, para calibrar a intensidade e o tipo de ação a ser adotada neste ano.

- Naqueles locais em que temos uma estrutura política sólida, as coisas fluem bem e o crescimento nós achamos que se dará naturalmente. Naqueles em que não estamos tão bem, vamos correr atrás e verificar nos partidos aliados a possibilidade de montar um trabalho conjunto - disse o presidente do PSDB em São Paulo, deputado Mendes Thame. Nos bastidores, tucanos falam em abrir em São Paulo cerca de seis milhões de votos sobre Dilma. Em 2006, os tucanos conquistaram quatro milhões a mais do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. Mas perdeu do petista em quase 80 municípios.

- Temos como meta estabelecer um patamar mínimo de 55% dos votos na eleição para governador e presidente nos municípios - explicou o secretário-geral da sigla, César Gontijo.

Serão formados 44 núcleos em todo o estado

Hortolândia, no interior paulista, é um desses casos. Em 2006, Lula colocou mais de 30 mil votos à frente de Alckmin - 55 mil contra 22 mil. A meta tucana para este ano é chegar aos 38 mil votos na cidade.

- Fixar metas é um estímulo para a militância - defende o vice-líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP).

Entretanto, o modelo, diz Gontijo, não pode ser adotado em todos os estados.

- Conquistamos em São Paulo um grau de organização partidária que nos permite pensar nesse tipo de ação.

Para aumentar a vantagem nas urnas, a legenda também promete criar coordenadorias eleitorais no estado para organizar a mobilização nos municípios. Também é cogitada a contratação de pesquisas por telefone para medir o resultado do trabalho ao longo da campanha. Serão, ao todo, 44 núcleos, formados por lideranças locais - prefeitos, deputados, vereadores.

Na próxima terça-feira em Brasília, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), reúne-se com as bancadas tucanas da Câmara e do Senado para discutir a organização das campanhas presidencial e estaduais pelo país.

(*) Especial para O GLOBO

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