quarta-feira, 30 de junho de 2010

Campanhas em espelho:: Rosângela Bittar

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A análise que o governo vem fazendo da campanha de Aloizio Mercadante (PT) a governador de São Paulo, e a que seus adversários têm sobre a campanha para eleger Geraldo Alckmin (PSDB) apontam para um cenário de disputa que reproduz, com sinais absolutamente trocados, aquela que os dois partidos realizam no plano federal. Os pesos e medidas empregados na avaliação e na montagem da estratégia são os mesmos, bem como os critérios e o discurso.

Segundo dados em mãos de um ministro petista com responsabilidade de análise do quadro eleitoral para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato a governador Aloizio Mercadante, apesar de as pesquisas de intenção de voto estarem dando vitória a Geraldo Alckmin no primeiro turno, tem muita chance de crescimento, a realização do segundo turno é praticamente uma certeza e pode realmente vencer se passar da primeira etapa.

As boas perspectivas seriam atestadas pela corrida em direção ao PT por parte de seus opositores mais ferrenhos em São Paulo, como políticos do Democratas, por exemplo. O apoio de Carlos Apolinário, é um caso, foi recebido como uma demonstração de viabilidade da candidatura por já estar atraindo o adesismo de contrários. Além de outras indicações.

Como o sucesso que poderão ter as demais candidaturas. O PT soma na lista positiva as candidaturas de Paulo Skaf (PSB) e Celso Russomano (PP). Dividiriam o eleitorado e entrariam na base eleitoral de Alckmin, forçando um segundo turno. Skaf, segundo essa análise, chegaria aos 12% (hoje está com 2, 3%), e Russomano poderia receber bem mais que isso, a depender da estratégia de campanha.

Outro argumento com que reforçam a confiança é que a campanha nem começou, o PSDB está há muitos anos no poder estadual e os eleitores estão cansados do partido: "O clima é de esgotamento, como o é para o PT em Porto Alegre", assegura o analista.

Na análise do governo, Mercadante crescerá também na base de Alckmin, e em sua chapa há dois candidatos fortes ao Senado para puxar votos: Marta Suplicy e Netinho. Além disso, esperam o efeito em cascata Lula-Dilma-Mercadante, quando começar a propaganda em TV.

Segundo explica um dos profissionais encarregados de acompanhar o desenrolar da campanha em São Paulo, Mercadante teria mais chances agora do que teve há quatro anos, pois além de tudo está "mudado". Citam, entre as atuais vantagens sobre o antigo Mercadante, o fato de ter superado a arrogância, estar mais partidário, com "um discurso redondo".

O novo Mercadante levaria vantagem, inclusive, na comparação com Marta Suplicy, se fosse ela a candidata. "A Marta, está com um discurso despolitizado, ninguém sabe de onde tira o que divulga, como o Fernando Gabeira (candidato do PV ao governo do Rio) como encarregado de matar o embaixador americano, e está egocentrada".

Este discurso de Mercadante, considerado "redondo" no PT, é o discurso que, na campanha presidencial, o PT considera "falta de discurso". É o da continuidade, da promessa de fazer mais e melhor.

Os especialistas da campanha de Geraldo Alckmin, confrontados com as observações em curso na campanha do PT, acham que em eleições tudo é possível, inclusive a subida da candidata a presidente do PT nas pesquisas impulsionar as candidaturas estaduais do partido, mas, no momento, os dados de realidade só lhes permitem reagir para conter a euforia dos mais entusiasmados com a possibilidade de vitória no primeiro turno.

Nenhuma das campanhas adversárias têm pesquisas para demonstrar uma e outra argumentação, mas os critérios de análise, entre os tucanos, reproduzem os que o PT faz em nível nacional. "Alckmin é muito popular entre prefeitos de todas as regiões, Mercadante já é muito conhecido e tem sua votação sem possibilidade de crescimento. Sempre se poderá dizer que eles vão fazer mais, mas nossa gestão em São Paulo faz uma diferença significativa".

Nessa avaliação, são incomparáveis as estradas estaduais com as federais, o que prejudicaria a crítica ao elevado pedágio; o Serra dobrou a capacidade de investimento do Estado; "há o Rodoanel, o metrô, e sempre poderão dizer que tem dinheiro federal, mas numa escala infinitamente inferior aos investimentos do Estado", argumenta o analista da campanha do PSDB. "São Paulo é cada vez mais um Estado capitalista, empreendedor, é difícil para o Mercadante ter outro discurso que não seja o da continuidade".

Se para Serra é um desafio enfrentar a força eleitoral de Lula para disputar votos com sua candidata à Presidência, Dilma Rousseff, para Mercadante é um desafio enfrentar os resultados da administração Serra, reconhecidos em gabinetes do governo federal, para tentar derrotar Alckmim. Mas a criatividade está curta e estão se espelhando um no outro.

O deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) era o candidato a vice presidente na chapa de José Serra melhor situado, o que tinha mais apoios no PSDB, contra ele não havia objeções por parte do candidato a presidente, é do Nordeste, e até dentro do DEM o que tinha menos arestas. Seus concorrentes nunca chegaram a figurar de fato numa lista de opções a serem apresentadas ao parceiro de aliança.

Credenciais numerosas, porém, não foram suficientes para mantê-lo no posto até a decisão final. Como não anunciavam nunca seu nome, apesar de todas as condições reunidas para o cargo, um dos integrantes da cúpula do PSDB, dos maiores, por sinal, justificou a um grupo de interlocutores que o problema de Aleluia era um veto do também baiano Jutahy Jr, do PSDB, um dos políticos mais ligados a José Serra que, desde o primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, fez objeções fortes, e foi dissidente, à aliança com o DEM.

Ontem, diante das últimas e nervosas complicações na escolha do vice de Serra, descobriu-se que Aleluia realmente foi ceifado por peixeira de baiano, mas não do Jutahy. O veto teria partido do conterrâneo e correligionário ACM Neto (DEM-BA).


Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras

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