sexta-feira, 25 de junho de 2010

Economista pró-Serra ataca juro, baixo investimento público e carga tributária

DEU NO VALOR ECONÔMICO

Ana Paula Grabois, de São Paulo

Gesner Oliveira, economista que participa da formulação do programa de governo do candidato à Presidência da República do PSDB, José Serra, atacou ontem a política econômica em curso. Em evento na Câmara Americana de Comércio, Oliveira criticou o patamar da taxa real de juro, a carga tributária e o reduzido nível de investimento público no país. Disse, contudo, que falava como acadêmico e que as suas opiniões eram "absolutamente pessoais". Para Oliveira, o ambiente econômico é desfavorável ao investimento de longo prazo das empresas. Na sua avaliação, o investimento público, de 1,5% em relação ao PIB, é muito baixo quando se compara com o peso das despesas correntes nos gastos do governo.

Também presidente da Sabesp (companhia estadual de saneamento de São Paulo), Gesner Oliveira vê "enorme avanço na economia" nos últimos 25 anos, especialmente devido à estabilidade de preços, mas ressalta haver "algo errado com a economia brasileira". "Quando medimos a febre, mesmo da macroeconomia, há algo errado. É uma economia com uma taxa de juros real extremamente elevada. Não vamos discutir aqui as razões disso, mas não é possível dizer que a macroeconomia vai bem e vamos cuidar da microeconomia. Nosso check-up médico mostra que há anomalias bastante graves", afirmou a uma plateia formada por empresários.

O economista do programa de Serra destacou o nível de tributos e citou estudo do Banco Mundial que mostra que os impostos correspondem a 69,2% do lucro das empresas no Brasil. Segundo Oliveira, o país tem a maior carga tributária das economias em desenvolvimento, o que as prejudica para que alcancem o necessário patamar de investimento privado para sustentar um crescimento equilibrado no longo prazo. "O Brasil tem essa carga tributária, é campeão de taxa real de juros e tem investimento público tão baixo e que não mobiliza o investimento privado, tem algo bastante sério. Isso precisa ser atacado", disse.

Também listou outros entraves ao investimento privado, como a falta de qualificação profissional na força de trabalho, a baixa qualidade do sistema de ensino, a instabilidade de regras, o excesso de burocracia e o fraco estímulo governamental à inovação. "Dadas as circunstâncias macroeconômicas e a verdadeira maratona microeconômica que empresário que quer investir no longo prazo deve enfrentar, na verdade, a antropologia deveria dedicar um estudo para entender porque as pessoas ainda investem diante de tantas dificuldades", disse Oliveira, lembrando ainda do enfraquecimento das agências reguladoras no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

O economista Bernard Appy, que já foi da equipe econômica do governo Lula desde os tempos que Antonio Palocci era ministro da Fazenda e hoje ocupa diretoria na BM&F, fez a defesa da política do governo. Para Appy, a situação econômica hoje é "sólida e consistente". "Quando a macroeconomia está em ordem, permite e amplia o crescimento. Quando está em desordem, impede o crescimento. Isso não significa que não há desafios na área macroeconômica do crescimento", disse. Entre os desafios, citou o baixo nível de poupança doméstica, a carga tributária e a carência de uma reforma na Previdência. Nos temas eficiência e produtividade, avalia ser preciso melhorar a infraestrutura, a gestão do setor público e deixar a estrutura tributária menos complexa, evitando, por exemplo, as distorções causadas pela guerra fiscal entre os Estados.

No seminário, o economista Delfim Netto avaliou ser necessário aprimorar a política econômica, como melhorar a qualidade do gasto público, com menos despesa de custeio e mais investimento. "O funcionalismo público e os sindicatos se apropriaram do governo", disse.

Na área macroeconômica, as prioridades são, segundo Delfim, ter taxa real de juro em linha com a taxa mundial, câmbio estável e competitivo e mais investimentos em infraestrutura. O ex-ministro da Fazenda vê o pré-sal como um "bônus" que pode resolver a necessidade de energia elétrica e, ao mesmo tempo, os desequilíbrios em conta corrente.

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