domingo, 27 de junho de 2010

Família, filhos, comida e voto:: Vinicius Torres Freire

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Crescimento da renda e redução do tamanho médio das famílias fazem eleitor comer mais nos anos Lula

É evidente que as pessoas vivem e comem melhor no Brasil de agora do que no final do governo FHC. Para ser mais preciso, dadas as estatísticas disponíveis, viviam melhor em 2009 do que em 2003. Diga-se de passagem que nem todas as melhorias e pioras se devem a FHC ou Lula, embora argumentos jamais virão a convencer os torcedores fanáticos de petistas e tucanos.

Isto posto, o que nos diz sobre essas melhoras a POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), divulgada pelo IBGE na semana que passou? Mais precisamente, o que a POF e alguns indicadores auxiliares nos dizem sobre tais melhorias, sobre a renda e o estômago dos brasileiros?

Na equivalente da POF realizada em 1974-75, em média 34% do total da despesa dos brasileiros destinava-se à alimentação. Em 1995, 23,4%. De 2003 para 2009, a mudança foi pequena: de 20,8% para 19,8%. Ou seja, durante os anos FHC, diminuiu o peso relativo dos gastos com alimentos. Nos anos Lula, tal fatia de despesa ficou praticamente estável. Ressalte-se que não se está atribuindo a mudança a este ou aquele governo, por favor.

Nos anos FHC, porém, a renda média real (descontada a inflação) caiu ou, no mínimo, ficou estagnada, a depender do tipo de estatística empregado. No que diz respeito à despesa com alimentos, porém, tal problema foi em parte mitigado por uma mudança de preços relativos, como dizem os economistas. Em português, isso quer dizer que a inflação dos alimentos foi menor que a inflação média e a de outras rubricas do orçamento das famílias.

Entre 1995 e 2002, o IPCA, a média da inflação, subiu 200%. O preço médio dos alimentos aumentou 166%. A inflação da habitação foi de 311%; a dos transportes, 256%.

Nos anos FHC, o preço da comida subiu relativamente menos. As agruras sociais da renda estagnada foram ao menos remediadas com a queda do preço dos alimentos.

Registre-se que ao final dos anos FHC, no início de 2003, despesas com alimentação, moradia e transporte levavam 74,7% do gasto médio de consumo das famílias. Em 2009, penúltimo ano de Lula, tais gastos equivaliam a 75,7% do total.

Entre 2003 e 2009, anos Lula, o IPCA subiu 143%. A inflação da comida, 143%, assim como a da habitação; a dos transportes, 139%.

Nos anos Lula, até janeiro de 2009, data de referência da POF, portanto o preço da comida subiu mais ou menos na média do IPCA.

Mas a renda média real cresceu, como se sabe. Além do mais, houve um "bônus demográfico", digamos, para melhorar a situação.

O tamanho médio da família brasileira era de 3,7 pessoas em 1995. Em 2003, era parecido: 3,62. Em 2009, as famílias ficaram significativamente menores, ao menos em termos estatísticos: 3,3.

A renda das famílias cresceu, em termos reais, e a renda de cada pessoa (a renda familiar per capita) subiu ainda mais, claro. Entre 2003 e 2009, a renda familiar per capita cresceu na média quase 22%, em termos reais (acima da inflação), segundo cálculos do economista Marcelo Neri, com base na POF.

De 2003 a 2009, a parcela da despesa familiar destinada à alimentação ficou praticamente estável. Mas a renda das famílias aumentou; a renda que cabe a cada membro das famílias aumentou ainda mais -pode-se comer mais e/ou melhor.

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