domingo, 6 de junho de 2010

José Serra apela ao Nordeste

DEU NO ESTADO DE MINAS

Mais do que tentar mudar a imagem entre os eleitores, candidato tucano à Presidência cobra a paternidade de iniciativas que beneficiaram a região onde popularidade de Lula é mais alta

Alana Rizzo e André Duarte

Brasília e Recife — O ritmo de uma campanha presidencial, quando aterrissa no Nordeste, requer malabarismos pouco usuais aos candidatos que não são da região. Usar traje folclórico? Comer bode assado? Dançar forró e até montar em jegue? Quase tudo é válido. Na tentativa de agradar aos eleitores, os presidenciáveis não dispensam a cartilha. E os candidatos na eleição deste ano já iniciaram a maratona pela região onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva contabiliza índices de popularidade invejáveis.

Com uma missão ainda mais complicada – a de afastar o estigma de político antinordestino –, o pré-candidato José Serra (PSDB) adicionou item extra ao manual de conquista do eleitor do Nordeste. Surpreendeu ao declarar, em entrevista a uma rádio em Recife, que era o real autor de várias medidas que beneficiam a região. “Do meu ponto de vista, vou dizer sem qualquer papo. Individualmente, de fora do Nordeste, eu talvez tenha sido quem, na vida pública, mais fez pelo povo daqui.” Um depoimento que, na verdade, é impossível de ser checado com precisão.

O Estado de Minas foi em busca de algumas das iniciativas cuja paternidade é cobrada por Serra. A primeira delas é o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FNDE). Criado quando o pré-candidato era constituinte (1987/1988), o fundo destina 2,4% da receita anual do IPI e do Imposto de Renda para o Banco do Nordeste. “Era relator e propus essa ideia. Tinha lá um dinheiro sobrando, e o pessoal queria distribuir para os governos, que iam ficar aumentando máquina”, já disse Serra, em algumas entrevistas. Em 2002, foram alocados R$ 660 milhões do fundo. A partir de 2003, a alocação anual de recursos do Tesouro Nacional é equivalente ao previsto no Orçamento. Este cálculo vale até 2013.

O fundo faz parte de uma política de reformulação do planejamento no Nordeste, desde o governo FHC, que incluía a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Inúmeras fraudes e denúncias de irregularidades levaram ao fim da superintendência, que Serra agora promete recriar. Na verdade, em 2002, também estava nos planos do tucano “criar uma nova Sudene, de maneira sólida. Algo bemfeito”. Em visita recente a Pernambuco, o ex-governador prometeu reformular e controlar pessoalmente a Sudene.

Crédito para investimentos

Como ministro do Planejamento, o tucano pleiteia ainda o Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (Prodetur) e o ProÁgua (Programa Nacional de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos). Serra afirma que foi ele “quem botou para andar” os dois programas. Nessa época, disse ter buscado financiamento de US$ 330 milhões junto ao Banco Mundial para obras hídricas na região. “Fui eu que bolei, negociei com o Banco Mundial. Tem investimento até recentemente do ProÁgua.” O primeiro é um programa de crédito, ligado ao Banco do Nordeste. O segundo é vinculado atualmente ao Ministério da Integração Nacional. Os investimentos previstos são de US$ 330 milhões, financiados pelo Banco Mundial, JBIC e governos federal e estaduais. Os dois foram encampados pela gestão do presidente Lula.

Em suas viagens aos estados do Nordeste, Serra versa sobre o serviço público de saúde prestado aos nordestinos. Em Pernambuco, ele diz que encontrou 97 equipes do Programa de Saúde da Família (PSF), criado assim que assumiu o Ministério da Saúde, em fevereiro de 1998. “Quando eu saí deixei 1.158 equipes”, disse, ressaltando que a mortalidade infantil caiu como “nunca antes” e como “nunca depois.”

Pernambuco é uma espécie de símbolo da Região Nordeste para os tucanos. Além de ser a terra natal do presidente Lula, é lá que Serra tem palanque forte com a candidatura do ex-governador Jarbas Vasconcellos (PMDB). Em 2002, não foi diferente. Em junho daquele ano, foi duas vezes ao estado. Como promessa, disse estudar a possibilidade da transposição do Rio São Francisco, ideia posta em prática por Lula.

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