segunda-feira, 14 de junho de 2010

Lula: oposição faz 'jogo rasteiro' com dossiês

DEU EM O GLOBO

Candidata oficial, Dilma prega "continuidade da mudança"

Ao discursar ontem na convenção do PT que oficializou a candidatura à Presidência de Dilma Rousseff, o presidente Lula atacou a oposição e disse esperar que seus adversários "não façam jogo rasteiro, inventando dossiês todo dia". A cúpula do PSDB vem cobrando explicações do PT sobre a elaboração de um dossiê contra seu candidato à Presidência, José Serra. Dirigentes tucanos chegaram a classificar o episódio como uma quebra do estado de direito. Na festa petista, cujo lema foi "a continuidade da mudança", Dilma acabou ofuscada pela desenvoltura do presidente no palanque e, em seu discurso, citou o nome de Lula mais de vinte vezes. Militantes do movimento de mulheres vaiaram o trecho de um dos jingles do PT, que chama Dilma de "coroa", e também exigiram que a candidata fosse chamada de presidenta.

A "continuidade da mudança"

Ao oficializar a candidatura ao Planalto, Dilma destaca seu vínculo com Lula

Leila Suwwan, Luiza Damé, Diana Fernandes e Gerson Camarotti

Com o peso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no palco, no jingle e nos discursos, o PT homologou ontem a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República na coligação batizada de "Para o Brasil seguir mudando", com Michel Temer, do PMDB, para a vice e o apoio de mais quatro partidos: PDT, PSB, PCdoB e PR. O PRB deve formalizar a aliança no próximo dia 26. A festa petista estampou o lema da "continuidade da mudança", além de esbanjar euforia, otimismo e ataques aos adversários tucanos. A presidenciável anunciou que "chegou a hora de uma mulher comandar o país". Lula, empolgado, disse que a chance de vitória é "quase absoluta".

A convenção do PT, que teve como tema a mulher, homenageou heroínas do passado e personalidades atuais - conferindo à campanha de Dilma um status de "marco histórico".

- Não é por acaso que, depois desse grande homem, o nosso Brasil possa ser governado por uma mulher. Por uma mulher que vai continuar o Brasil de Lula, mas que fará um Brasil de Lula com alma e coração de mulher. Lula mudou o Brasil e o Brasil quer seguir mudando. A continuidade que o Brasil deseja é a continuidade da mudança - disse Dilma, maquiada e bem penteada, de blazer vermelho e pérolas.

Quando os principais convidados estavam na mesa, Dilma desceu sozinha uma escadaria sob holofotes até o palco. Leu um discurso de 50 minutos e citou Lula mais de 20 vezes. Em poucos momentos, empolgou a plateia, que antes vibrou com Lula no palco.

O presidente alertou que "não existe eleição fácil", e estimulou a militância a trabalhar 24 horas por dia:

- Estou convencido de que as possibilidades de ganhar as eleições são totais, eu diria quase que absolutas. Mas, eleição e mineração, a gente só conhece o resultado depois da apuração.

A estreia do jingle da campanha

Para mostrar a ligação entre os dois, Lula frisou que votar em Dilma significa votar em Lula, nome que estará ausente das "cédulas" eleitorais após cinco corridas presidenciais.

- Vai haver um vazio naquela cédula e, para que esse vazio seja preenchido, mudei de nome e vou colocar Dilma na cédula. E aí as pessoas vão votar - apostou Lula.

O auditório do Unique Palace, um espaço de festa para casamentos e shows, estava lotado com cerca de 1.500 militantes. A festa seguiu o roteiro idealizado pelo marqueteiro João Santana, que estreou o jingle: "Lula tá com ela, eu também tô". O presidente foi o astro do evento, no qual também discursaram o presidente do PT, José Eduardo Dutra, com forte ataques aos tucanos, e Michel Temer, em curta participação de cinco minutos.

- Durante o governo do presidente Lula, começamos a construir um novo Brasil. Esta é a obra que quero continuar. Com a clara consciência de que continuar não é repetir. É avançar - ressaltou Dilma.

Sobre a coalizão feita com sacrifícios de candidaturas petistas nos estados, ela ponderou:

- Da mesma forma que foi preciso somar forças para conquistar a democracia no passado, é preciso somar forças hoje para alargar ainda mais o caminho aberto pelo presidente Lula.

A coalizão foi prestigiada por líderes partidários, incluindo o presidente do Senado, José Sarney (PMDB). O vice-presidente do PP, Mário Negromonte, foi chamado no meio da convenção, apesar de a sigla permanecer indefinida e assediada pelos tucanos. Estavam presentes sete governadores e diversos ministros, deputados e senadores.

Dilma apresentou uma longa lista de intenções, todas propostas já anunciadas na pré-campanha. E tentou demonstrar ser uma política hábil, apesar de estreante nas urnas.

- Sei como buscar união de forças e não a divisão estéril. Sei como estimular o debate político sério e não o envenenamento que não serve a ninguém - acrescentou a candidata.

Aos tucanos, ela fez críticas veladas. Afirmou que governos anteriores excluíram dois terços da população, que consideravam ser um "estorvo". Ao discursar, Lula contou o tempo que resta até a eleição: três meses e 20 dias. Em tom de despedida, anunciou que desce a rampa do Planalto daqui a seis meses e 18 dias:

- No dia 1º de janeiro, depois de passar a faixa para a companheira Dilma, eu, o Zé Alencar e as duas Marisas desceremos a rampa do Palácio, por onde subimos, de cabeça erguida, com o sentimento de dever cumprido.

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