quarta-feira, 16 de junho de 2010

'O presidente jogou eleitoralmente', diz analista

DEU EM O GLOBO

Gerson Camarotti
BRASÍLIA. A decisão do presidente Lula de manter o reajuste de 7,7% dos aposentados teve forte componente pragmático para ajudar a candidatura presidencial da petista Dilma Rousseff. Essa é a avaliação de consenso de cientistas políticos ouvidos ontem pelo GLOBO. Para o professor da UnB David Fleischer, se Lula vetasse o reajuste, haveria prejuízo eleitoral para Dilma, e isso foi fundamental:

- O reajuste vai ajudar a candidatura de Dilma. Se Lula tivesse vetado, atrapalharia muito o PT e todos os candidatos do partido, porque o veto seria associado à legenda. Ou seja, Lula foi extremamente pragmático. Por esse cálculo político, estava evidente que ele iria conceder o reajuste - afirmou Fleischer.

Opinião semelhante tem o cientista político Murillo Aragão. Para ele, ao conceder o reajuste, Lula tirou a bandeira do Congresso, e especialmente da oposição, beneficiando a candidatura de Dilma. Ele lembra que, se a decisão fosse de vetar, prejudicaria muito o PT, pois iria desagradar a uma categoria expressiva, como a dos aposentados:

- O presidente Lula jogou eleitoralmente. Seria muito perigoso, num ano de eleição, ter um grupo influente, como o de aposentados, contra ele.

Para o cientista político Antonio Lavareda, Lula conseguiu capitalizar para o governo o reajuste ao adiar a decisão.

- Depois da decisão do Congresso, ele estabeleceu um debate no governo: aliados defendiam o reajuste, enquanto a equipe econômica exigia o veto. Quando arbitrou em favor dos aposentados, Lula capitalizou a decisão, que antes era do Congresso. Está claro que, desde a primeira hora, Lula não queria vetar. Mas adiou sua decisão para ficar mais visível o seu papel nessa decisão - disse Lavareda, que já trabalhou para o DEM e o PSDB.

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