terça-feira, 8 de junho de 2010

A outra face da velha moeda:: Wilson Figueiredo

DEU NO JORNAL DO BRASIL

Ficou para trás aquele Lula sem gravata, a quem se atribuía a responsabilidade pelo estado de desencontros, provocações, conivências, suspeitas e informalidades republicanas, nos dois mandatos, sob risonha condescendência em relação ao que separa o país que temos daquele outro que queremos (e ninguém sabe exatamente qual seja). Bateu em porta errada quem o culpou pela proliferação risonha e franca dos costumes comprometedores de uma República que só existia na nossa nostalgia do futuro. A verdade é que Luiz Inácio Lula da Silva é o produto eleitoral da mal contada história que se acumulou à porta da República e ainda não foi coletada, filtrada e passada adiante. Fica mais fácil entender o que se passa e preparar-se para o que vem por aí quando se verifica que não foi propriamente Lula quem deixou o Brasil desse jeito, e sim o Brasil que o elegeu pelo voto direto.

As pesquisas de opinião puseram as coisas no lugar provisório para quem lê também nas entrelinhas. Lula bate com a cabeça no teto das pesquisas. Não estava na cogitação presidencial reformar aquele país que não foi obra dele, pois recusou a empreitada – quando estava com a faca e o queijo na mão – ao se apresentar a oportunidade. Reforma política só na hipótese de tremor institucional que rache o próprio governo. Bastava-lhe o Brasil como se apresentava. Não se sentia eleito para mais do que isso e, antes de sair, vem convencendo a opinião pública, e se convencendo, de que sua parte em dois mandatos era mesmo revelar o Brasil aos brasileiros. A outra face da moeda, que começa a circular depois de sair, terá a sua efígie. O mesmíssimo Lula – curado da expectativa que o precedeu, de barriga cheia com dois mandatos (resistiu ao terceiro que ele mesmo recusou diante do perigo à vista), com 80 e tantos por cento de admiração popular pela maneira como faz e não acontece – não se livrará da responsabilidade do que vier a acontecer, daqui por diante, como consequência, tanto a previsível como a outra.

Um presidente da República que chega a ser multado cinco vezes pela Justiça Eleitoral, antes de começar a campanha, pode estar fazendo ouvidos de mercador mas não quer fazer história. Desse julgamento que se esboça, o presidente Lula não se livrará assim que puser o pé fora do mandato, que é quando a verdade sobre os governantes sai das gavetas e ganha potencial incalculável. No modo petista de entender a política, a campanha presidencial tem uma zona de sombra sob a qual tudo é permitido, principalmente o eufemismo burocrático denominado dossiê. Nada de bom se pode esperar de um princípio que traz em si o fim segundo o qual, quanto pior, melhor. Porque, então, quanto melhor, pior. Dependendo de quem é um e quem é o outro.

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