sexta-feira, 4 de junho de 2010

Patinação nas nuvens:: Dora Kramer

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

A dez dias da convenção do PSDB que lançará oficialmente a candidatura de José Serra a presidente da República, o cardinalato do partido se reúne e decide o seguinte: até o dia da convenção, 12 de junho, é preciso escolher um candidato a vice.

Curiosa de tão óbvia, ainda assim a questão não é pacífica. Há quem defenda que não é preciso tanta pressa: aclamado o candidato, o nome do vice poderia ser anunciado no último dia do prazo, duas semanas depois.

Com qual objetivo? Quais as dificuldades que impedem o PSDB de formar uma chapa se o mais difícil já tem que é o candidato? Por que o partido se expõe por livre e espontânea vontade a uma agenda negativa de maneira tão desnecessária?

Em matéria de história mal contada essa é das piores.

Vamos que o PSDB no fim surpreenda a todos, atenda aos últimos moicanos ainda esperançosos e num gesto grandiloquente lance a chapa puro-sangue com Aécio Neves como candidato a vice-presidente.

Nessa altura haveria aquele impacto todo esperado? Dificilmente, já que os próprios tucanos trataram de esvaziar o feito. Uma questão que já foi estratégica, primeiro virou pinimba de província e agora é uma interminável discussão sobre o nada.

Perde espaço e importância na proporção inversa das tentativas individuais de valorização de cacifes.

Aécio já deixou claro quanto acha pífio o projeto. Tanto para si quanto para campanha presidencial.

Foram feitas publicamente contas de acréscimos de votos à candidatura de José Serra com a inclusão do nome do mineiro na chapa e, se a memória não falha, o resultado não ultrapassou a casa dos 5 pontos. Então, se o próprio Aécio diz e prova que não tem serventia a junção "São Paulo e Minas", assunto encerrado, não?

Assim pareceu estar várias vezes, desde dezembro quando o mineiro anunciou sua desistência de disputar a Presidência. Na ocasião, disse que preferia uma vaga no Senado.

Deixou de lado a hipótese de aceitar o lugar de vice, mas de quando em vez abria uma brecha, deixava no ar um talvez e o assunto ficou nesse banho-maria por cinco meses no partido.

Até que, em maio, enquanto Aécio estava na Europa renasceram os boatos de que poderia integrar a chapa.

De onde surgiram? Primeiro de sua roda de amigos, depois de seu grupo político, em seguida ele mesmo deixou essa impressão em telefonema ao presidente do PSDB, Sérgio Guerra.

Na volta ao Brasil Aécio fez a mais veemente e aparentemente definitiva das negativas. O candidato José Serra declarou: "Há seis meses sei que ele não será o vice".

Mais uma razão para não improvisar na última hora um companheiro de chapa.

Não é uma escolha trivial. Não se trata de alguém que sentará no anexo do Palácio do Planalto, residirá no Palácio do Jaburu, fará o papel de peça decorativa e, como diz esperar o candidato, nunca causará "aporrinhação" (de onde já se pode excluir Itamar Franco da lista)

Trata-se da pessoa que, caso ele seja eleito, à falta do titular por motivo de força maior, governará o Brasil.

Papel trocado. O destino, assim como o Cupido, é moleque travesso. Fernando Pimentel que agora luta para não entregar a candidatura do PT a governador de Minas para o PMDB -atendendo a militância regional e enfurecendo a direção nacional = há dois anos fazia movimento oposto.

É o mesmo Fernando Pimentel que em 2008, prefeito de Belo Horizonte, juntou-se a Aécio Neves, governador do Estado, para eleger Márcio Lacerda prefeito da capital numa inédita aliança PT-PSDB.

Não conseguiram formalizar a coalizão porque, não obstante a simpatia de Lula que imaginava com isso cooptar Aécio para seus projetos eleitorais de 2010, os petistas mineiros resistiram. Assim como resistem agora ao PMDB.

Em 2008 a coisa ficou tão feia para o lado de Pimentel que Aécio Neves e José Serra davam como certa a saída dele do PT.

Talvez - ou certamente - por isso mesmo Fernando Pimentel seja hoje o mais petista entre todos os defensores dos direitos à preservação da identidade do partido em Minas Gerais.

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